sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Caetano Veloso: ‘Cê’, o DVD


DVD Multishow: Cê ao Vivo (Universal)
2007


Resenha publicada originalmente no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 138 (novembro de 2007).



O mais recente show de Caetano Veloso chega ao mercado também em vídeo

Aproximadamente um mês após o seu lançamento em CD (contendo 17 faixas), a Universal edita em DVD Multishow: Cê ao Vivo, de Caetano Veloso. Trazendo na íntegra a apresentação realizada no dia 12 de junho desse ano na Fundição Progresso (Rio de Janeiro), o registro audiovisual apresenta 24 músicas.

Das sete faixas que ficaram de fora da versão áudio de Cê ao Vivo, cinco foram lançadas originalmente no álbum de estúdio (uma das duas exceções é a boa “Descobri que Sou Um Anjo”, de Jorge Ben, que fecha o espetáculo): “Musa Híbrida”, a boa “Deusa Urbana”, “Wally Salomão”, “Um Sonho” e “O Herói”. Com isso, o repertório quase inteiro de foi executado ao vivo - apenas o equívoco luso “Porquê?” foi excluído do set list. Ainda bem.

A Voz do Violão”, música que integrava o repertório do “Rei da Voz” Francisco Alves, é precedida por um hilário (e corajoso) comentário de Caetano sobre a resposta de um internauta no blog de um conceituado jornalista. E, nos extras, há uma descontraída entrevista do compositor, explicando a gênese de e a semelhança deste com Transa (1972). Caetano também fala sobre a escolha dos músicos da banda e não esconde a sua satisfação com a concepção sonora obtida pelos jovens instrumentistas que o acompanham nesse trabalho.

O cenário simples de Hélio Eichbauer visa não desviar a atenção do espectador da música coesa e minimalista produzida por Caetano e seu trio. E a proximidade do palco com a platéia reforça a intimidade do público com o artista.

Multishow: Cê ao Vivo não somente complementa como amplia a proposta do CD. Altamente recomendado.

Sting: esse tempo todo, o rio correu, intermitente, para o mar



Livro Fora do Tom (Cosac Naif)
2006

Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 138 (novembro de 2007).



Em ‘Fora do Tom’, Sting faz um relato autobiográfico minucioso e sincero

A bem da verdade, a autobiografia de Sting, Fora do Tom (Broken Music) foi editada no exterior em 2003 - o cantor até realizou uma turnê com esse título -, tornando-se rapidamente um best-seller na categoria não-ficção. Aqui no Brasil, no entanto, o livro foi lançado apenas há alguns meses (pela editora Cosac Naif) e encontrá-lo... não foi das tarefas mais fáceis.

Curiosamente, a narrativa se inicia aqui no Rio de Janeiro: em 1987, o músico estava na cidade para os shows da turnê Nothing Like the Sun que seriam realizados no Estádio do Maracanã. Seria o maior público para qual o ex-Police teria se apresentado até então. E, durante a sua estadia no Rio, ele procurou se informar a respeito do chá ayahuasca, cerne do ritual religioso da seita Santo Daime. Na companhia de sua esposa, a atriz inglesa Trudie Styler, Sting foi levado até uma sessão e ingeriu a beberagem.

O inicialmente hilário relato a respeito do rito (“Trudie e eu nos olhávamos como dois amantes trágicos à beira de um penhasco. (...) Durante o trajeto que nos conduziu àquele lugar, cheguei a imaginar a manchete do dia seguinte: 'cantor e esposa seqüestrados (...)'”) dá lugar a uma descrição tensa dos efeitos do chá. Percebe-se que “Why Should I Cry for You?”, delicada canção do álbum The Soul Cages (1991), foi, em parte, inspirada nessa experiência, especialmente no verso que diz “all colours bleed to red” (“todas as cores sangram para o vermelho”).

Sting prossegue a narrativa, falando sobre a sua infância modesta em Wallsend (que significa “fim da muralha”). Situada ao norte da Inglaterra, a cidade recebeu esse nome - “ridículo”, na opinião do baixista - porque é justamente ali que termina a muralha de 130 quilômetros, construída no ano de 122 d.C pelo imperador romano Adriano para demarcar o limite ocidental do Império.

Foi justamente das lembranças desse local que surgiram os versos de outra canção, a bela “All This Time” (também de The Soul Cages): “Teachers told us the Romans built this place/ They built a wall and temple on the edge of the Empire garrison town” [“Os professores nos disseram que os romanos construíram esse lugar/ Eles construíram uma muralha e um templo no limite da cidade-fortaleza do Império”]. Há alguns anos atrás, a antiga rua onde o artista morava foi demolida e, em meio aos escombros, foram descobertos vestígios de um templo Romano.

O músico conta que, nos finais de semana e períodos de férias, ele saía para trabalhar com o seu pai, entregando leite nas gélidas madrugadas britânicas. E, nessa ocasião, durante a pausa para um sanduíche de bacon, o pequeno Gordon Sumner, de apenas sete anos de idade, já sonhava com o seu futuro: “Um dia serei rico e famoso, viajarei o mundo inteiro e serei o chefe de uma grande família.”


Fatos acabaram gerando canções

Ao longo do livro, Sting fala dos grupos de jazz nos quais tocou e, circunstancialmente, da gênese de algumas de suas canções. A ótima “Walking On The Moon” (faixa do clássico Reggatta de Blanc, do Police) foi inspirada em uma namorada (“porque estar apaixonado é perder a gravidade”, afirmou). Já “I Burn For You” foi composta para a atriz Frances Tomelty, que mais tarde se tornaria sua primeira esposa (“a canção é terna e romântica, e poderia perfeitamente ser um madrigal tocado num alaúde”). E “Landlord” é uma reação furiosa a um senhorio que, na última hora e sem qualquer explicação, desistiria de alugar um imóvel para o cantor e sua família.

Sting já passou por maus bocados, o que explica a acidez de suas composições no Police. E, sincero, não fugiu de assuntos espinhosos como a penúria nos primeiros meses de casamento ou, pior, o adultério de sua mãe - e a desestruturação do ambiente familiar decorrente disso.

Além da franqueza, outros dois fatores, aliás, são particularmente impressionantes nesse livro: a descrição minuciosa de fatos, lugares e pessoas, assim como a criação de “imagens” simplesmente brilhantes - Sting poderia muito bem escrever romances, se quisesse; e a prodigiosa memória do músico, que conseguiu se lembrar até dos pensamentos que o povoavam em determinadas situações ocorridas em sua tenra idade. Destaque também para a excelente tradução de Cássio de Arantes Leite.


Livro não detalha o período Police

Ironicamente, apesar de Sting narrar o seu encontro com o estupendo baterista Stewart Copeland e o início de carreira de seu famoso power trio (ainda com o francês Henri Padovani na guitarra), o livro não detalha o período do músico inglês como membro do Police. Fica, portanto, a expectativa por uma seqüência de Fora do Tom, abrangendo os anos da banda e também a sua experiência como artista solo - assim como o recente retorno do grupo, que gerou uma bem-sucedida turnê mundial, ainda em curso. Certamente seria um livro tão interessante quanto esse.

Mick Jagger revisa os seus melhores momentos solo


CD The Very Best of Mick Jagger (Warner)
2007


Resenha publicada originalmente no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 138 (novembro de 2007).



Não, você não leu errado: o líder dos Stones acaba de editar uma compilação de seus trabalhos fora da banda

Para muitos, pode ser risível a notícia de que o vocalista e líder dos Rolling Stones, Mick Jagger, lançou uma coletânea com 17 faixas de sua carreira solo, sintomaticamente batizada de The Very Best of... (Warner). Mas a verdade é que a idéia não é tão estapafúrdia assim.

O senhor Lábios de Borracha editou o primeiro trabalho longe de seus companheiros em 1985, durante o que podemos chamar de uma... ... “crise conjugal” na banda. Intitulado She's The Boss, o disco - mesmo tendo na ficha técnica nomes como Jeff Beck, Pete Townshend (The Who) e Herbie Hancock - soou decepcionante. Contudo, a ótima “Just Another Night” (que conta com os craques jamaicanos Sly & Robbie na cozinha) teve boa execução radiofônica. Em 1986, os Stones lançaram Dirty Work, considerado um dos álbuns mais fracos do grupo - e que, na época, acabou reforçando a impressão de má-fase.

No ano seguinte, Jagger tenta um novo vôo solitário. Produzido por Dave Stewart (Eurythmics), Primitive Cool, apesar do quase-hit “Let's Work”, está bem longe de ser empolgante - embora o lendário Ezequiel Neves pense justamente o contrário. Em 1989, com as arestas - presume-se - aparadas, os Rolling Stones editam o bom álbum de inéditas Steel Wheels, que gerou turnês norte-americana e européia, devidamente registradas no álbum ao vivo Flashpoint, de 1991.

Dois anos depois, Mick editaria o seu terceiro disco solo, o ambicioso Wandering Spirit. Provavelmente encorajado pelo recente êxito com os Stones (ou escaldado pelo resultado pífio de seus trabalhos anteriores), Jagger decidiu não jogar para perder e, logo de cara, chamou o barbudo Rick Rubin para produzir a empreitada. Acertou em cheio.

Apresentando o rock sacana de sempre (a debochada “Put Me In The Trash”), baladas de dilacerar o coração (“Don't Tear Me Up”, onde o cantor reflete sobre a passagem do tempo), country (a linda “Evening Gown”) e até funk (“Sweet Thing”), o pai de Lucas Jagger simplesmente estraçalhou. Com participações especiais de Flea (Red Hot Chilli Peppers), Lenny Kravitz, do finado Billy Preston e de Doug Wimbish (baixista do Living Colour), Wandering Spirit é, sem sombra de dúvida, o seu melhor trabalho solo.

Após dois bem-sucedidos giros mundiais ao lado dos Stones (ambos, aliás, passaram pelo Brasil), Jagger editou em 2001 o seu quarto disco solo, Goddess In The Doorway. Mesmo sem superar o antecessor Wandering Spirit, Goddess... não faz feio com porradas como “God Gave Me Everything”, parceria com o supracitado Lenny Kravitz (que também toca guitarra na faixa) - e que, não por acaso, abre essa compilação; “Joy” (duo com Bono, do U2); e a “romântica” “Don't Call Me Up”.

A despeito de algumas notáveis ausências (“Hard Woman”, de She's The Boss; “Say You Will”, de Primitive Cool; “Out Of Focus” e “Wired All Night”, de Wandering Spirit; e a bela “Visions Of Paradise”, de Goddess In The Doorway), The Very Best of... cumpre bem o papel de despertar a curiosidade do público em ouvir, sem preconceito, o que realizou o parceiro de Keith Richards longe da banda.

Mesmo para os Stones-maníacos que possuem os quatro discos de Jagger, a coletânea traz atrativos extras: o primeiro single solo do cantor, “Memo From Turner” (da trilha do filme Performance), duetos com David Bowie (“Dancing In The Streets”, gravada especialmente para o Live Aid), Peter Tosh (“Don't Look Back”) e com o já mencionado Dave Stewart (“Old Habits Die Hard”), além das três inéditas “Charmed Life”, “Checkin' Up On My Baby” (com a banda de blues Red Devils) e “Too Many Cooks (Spoil The Soup)”, produzida por ninguém menos que John Lennon. A versão importada ainda traz um DVD-bônus com clipes de “God Gave Me Everything”, “Sweet Thing” e “Joy”, entre outros, além de uma entrevista com o músico. Ê, primeiro-mundo...

Quando os Rolling Stones forem para o vinagre, os posteriores trabalhos de Mick Jagger decerto JAMAIS superarão discos clássicos da banda como Exile on Main Street ou Tattoo You. Entretanto, se isso servir de consolo, ouvi-los até que pode vir a ser uma experiência bem divertida...

The Police: polaróides de uma era


DVD Greatest Video Hits (Top Tape)
2007


Resenha publicada originalmente no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 138 (novembro de 2007).



DVD de clipes mostra o melhor do Police

Aproxima-se a data da apresentação única do Police em terras brasileiras - o show, que tem tudo para ser histórico, ocorrerá no dia 08 de dezembro, no Estádio do Maracanã. Com isso, as gravadoras já tratam de capitalizar em cima do evento - como, aliás, sempre acontece. A Universal já havia editado, meses atrás, boa coletânea dupla do grupo. Agora é a vez da Top Tape colocar no mercado, em DVD, a compilação Greatest Video Hits.

Lançado originalmente em 1992, em VHS, Greatest Video Hits somente agora chega - oficialmente - ao formato digital, com sua capa modificada. Apresentando 16 clipes de sucessos, o audiovisual é puro deleite para os admiradores da banda inglesa - mesmo trazendo, rigorosamente, o repertório da coletânea (também em VHS) Every Breathe You Take, de 1986 (as faixas foram, inclusive, dispostas na mesma ordem). O diferencial foi a adição de dois vídeos: os raros “King Of Pain” e “Tea In The Sahara”, ambos gravados ao vivo. Detalhe: mesmo Every Breathe You Take só foi editado em DVD pela primeira vez em 2003.

Sinceramente, não há nada a dizer sobre a brilhante obra do Police que ainda não tenha sido dito - e reiteradas vezes. Só resta, portanto, saborear o preto-e-branco imponente do clipe de “Every Breathe You Take”; o semblante furioso, quase psicopata, de Sting no cenário caótico de “Synchronicity II”; o ambiente algo sacro de “Wrapped Around Your Finger”; e a alegria esfuziante, adolescente dos três músicos dançando no estúdio ao som da ótima “Every Little Thing She Does Is Magic”. Bons tempos aqueles.

A despeito de uma certa precariedade em seu conteúdo - não contém extras -, o produto traz legendas em inglês e português (o que proporcionará ao espectador conhecer as ótimas letras da banda), além das opções de áudio em 2.0 e 5.1. De qualquer forma, para quem gosta do Police, trata-se de um documento obrigatório.