segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Chico Buarque: polivalente



Livro
Leite Derramado (Companhia das letras)
2009

Resenha publicada originalmente no TOM NETO.COM.


A genialidade do compositor também se faz notar em ‘Leite Derramado’, seu quarto romance


Nos últimos anos, Chico Buarque tem trabalhado da seguinte forma: o cantor e compositor edita um disco de inéditas, sai em turnê, grava CD/DVD ao vivo... e recolhe-se para a produção de mais um livro. Chico, de fato, sumiu dos holofotes após o lançamento de Carioca Ao Vivo, de 2007 – registro do show que promoveu Carioca, seu último álbum de estúdio, que chegou às prateleiras em 2006. E, nesse intervalo, escreveu Leite Derramado, publicado pela editora Companhia das Letras.

Em seu quarto romance, Chico consegue superar sua empreitada anterior no campo literário, o ótimo Budapeste, de 2003. Leite Derramado baseia-se nas memórias de Eulálio d'Assumpção, ancião que convalesce em um leito de hospital, recordando o passado de glória de sua família, até a sua decadência atual.

E, através do monólogo do personagem central da obra, Chico revê boa parte da história do país. As lembranças um tanto desconexas do centenário Eulálio mencionam – embora sem ordem cronológica – a chegada da Coroa Portuguesa, a Abolição da Escravatura, o Golpe de 1964 e outros momentos cruciais do Brasil, não esquecendo, em momento algum, de sua esposa Matilde, figura onipresente na narrativa.

Outro tema recorrente no livro é o racismo, visto que a supracitada Matilde era mulata – e, por esse motivo, encontrou resistência da parte da mãe de Eulálio. Com isso, Chico acaba entrando na questão da miscigenação étnica brasileira: o tataraneto do centenário protagonista – o “garotão” traficante, cuja namorada ostenta um piercing (que ele chama de “brinco na barriga”) – é negro.

O interesse do leitor é mantido, da primeira à última página, pela prosa fluente do autor – e pelo humor desconcertante que percorre todo o livro. Resumo: a genialidade do compositor Chico Buarque já impregnou a sua literatura. Sem dúvida alguma.

Damien Rice: novo CD a caminho


Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


Não faz muito tempo, descobri – tardiamente, reconheço – a introspectiva música de Damien Rice [foto].

Para quem não está ligando o nome à pessoa, o trovador irlandês tornou-se mundialmente conhecido por “The Blower's Daughter”, canção-tema do filme Closer – Perto Demais, de 2004, que recebeu duas versões brasileiras: “Então Me Diz”, de Zélia Duncan – gravada por Simone –, e a bem-sucedida “É Isso Aí”, de Ana Carolina e Seu Jorge.

O mais recente álbum de Rice chama-se 9, seu segundo CD, que foi editado em 2006. Mas seu melhor trabalho é o de estreia, o belíssimo O [no detalhe], de 2003. Além da supracitada “The Blower's Daughter”, O possui outros grandes momentos, como “Volcano”, “Amie” e a ótimas “Delicate” e “Cannonball”.

Além dos dois discos de estúdio, Rice também gravou o ao vivo Live from the Union Chappel, de 2007. E, completando sua discografia, há o EP B-Sides, que trata-se, como o nome já diz, de uma coletânea de lados B de seus singles.

Pesqisando pela web, é possível encontrar covers como “Purple Haze” (Jimi Hendrix), “When Doves Cry” (Prince), “Seven Nation Army” (The White Stripes) e, pasmem, “Águas de Março” e “Desafinado” – ambas cantadas em português (!) –, entre outras, que o músico gravou para projetos especiais.

No MySpace de Damien Rice, há a informação de que ele está em estúdio, aprontando o sucessor de 9. É esperar para ver.



Veja o vídeo de “Cannonball...



...de “Delicate...



...e também de “The Blower's Daughter”, claro: