Belmondo et Milton Nascimento (Discograph, importado)
2008
Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 146 (outubro de 2008).
Na companhia da dupla francesa Belmondo, cantor revisita seus clássicos sob uma formatação jazzística
Duas notícias boas sobre Milton Nascimento. E uma ruim. Comecemos pelas boas. A primeira: o cantor encontra-se em uma fase bastante prolífica. Depois de lançar o bom Novas Bossas, gravado na companhia do Jobim Trio, eis que surge mais um álbum do artista esse ano. Trata-se de Belmondo et Milton Nascimento, gravado com a colaboração da homônima dupla francesa.
O Belmondo, bastante conceituado no circuito parisiense de jazz, é formado pelos irmãos Lionel, sax e clarinete, e Stéphane Belmondo, trompete. Acompanhados pela Orchestre National d'Ile-de-France (regida pelo maestro Christophe Mangou), Milton e o duo conduzem as canções de Bituca – dono de uma obra que dispensa comentários – para o universo jazzístico, com longas passagens instrumentais típicas do gênero. “Milagres dos Peixes”, por exemplo, ficou ótima.
Aí vem a segunda notícia boa: a despeito de não apresentar nenhuma novidade no repertório – será que alguém se importa com isso? – o disco é muito, muito bom. Sob os sopros dos irmãos franceses, brilham as soberbas melodias de Milton, como “Ponta de Areia”, que inicia e encerra o álbum.
Sonoridade remete a 'Travessia', primeiro disco de Milton
A ótima versão de “Nada Será como Antes” emula o arranjo concebido pelo grupo Som Imaginário na gravação original, presente na obra-prima Clube da Esquina, de 1972. E ainda que, eventualmente, a voz de Milton não apresente o viço de outrora – seja por razões etárias ou por causa da diabetes – uma coisa é certa: é sempre Milton. E isso fica claro, por exemplo, nos vocalises do cantor na sinuosa “Berceuse/Malilia”.
Curiosamente, Belmondo et Milton Nascimento remete de imediato à sonoridade – cortesia do Tamba 4, de Luizinho Eça – de Travessia, de 1967, primeiro disco de Bituca. Por coincidência (ou não), três músicas daquele trabalho foram revistas nesse álbum: o clássico “Travessia” e as belíssimas “Canção do Sal” e “Morro Velho”.
Os leitores mais atentos devem ter observado que, depois das duas boas notícias, ainda resta a ruim, certo? Bem, é que esse trabalho foi editado apenas na França, pelo selo Discograph, e não tem previsão de lançamento no Brasil. Mesmo assim, não há motivo para aflição. Afinal, várias... hum, “lojas virtuais” já dispõem desse trabalho.
Basta saber procurar.
Veja o vídeo da ancestral - e ainda comovente - “Travessia”, com Milton Nascimento e Stéphane Belmondo, metade do duo francês Belmondo. Gravado no dia 09 de julho de 2008.