sábado, 7 de março de 2009

‘Esquerda e Direita’ ou ‘Samba do Crioulo Doido’

Este é, inequivocamente, um blog sobre música. Ponto. Mas existem outros assuntos que despertam o meu interesse - política, por exemplo. Creio que os dois temas - música e política - não são necessariamente excludentes.

Além disso, embora respeite quem decida ser apolítico, considero isso simplesmente... o fim da picada. Como dizia Bertold Brecht, “o maior analfabeto é o analfabeto político”.

O artigo abaixo foi escrito logo após o resultado do segundo turno das eleições municiais de 2008.



Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


Chega a ser risível ouvir as pessoas, públicas ou não, afirmando com veemência que são, do ponto de vista ideológico, de direita ou de esquerda. Considerando a promiscuidade política que há no Brasil, dizer esse tipo de coisa não faz lá muito sentido.

O PT, por exemplo, era inicialmente uma sigla de esquerda, embora o presidente tenha declarado no ano passado que “nunca foi de esquerda”. Bem, melhor nem comentar. O fato é que, durante muitos anos, as posições sempre radicais do partido impediram sua chegada ao Palácio do Planalto.

Dessa forma, o PT formou, para a disputa das eleições presidenciais de 2002, uma aliança com o antigo PL* - fundado pelo falecido deputado Álvaro Valle -, partido de proposta claramente conservadora. Ou seja, de direita. Inclusive, honrando a tal aliança, o vice-presidente da República, José Alencar, era filiado ao PL.

Existem, contudo, outras situações curiosas. O PSDB, assim como o PT, possui, em seus quadros, indivíduos que, durante os chamados “anos de chumbo”, sofreram perseguições e foram exilados, tais como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o atual governador de São Paulo, José Serra.

E hoje, por ironia, o PSDB é aliado político justamente dos Democratas, o famoso DEM. Para quem não sabe, o DEM nada mais é do que o novo nome do PFL, que, por sua vez, era um desdobramento do PDS, a antiga ARENA - o partido dos governadores e prefeitos “biônicos” nomeados pelo governo militar.

O mais surpreendente, no entanto, foi ver, no segundo turno das eleições de 2006, as imagens do encontro entre Jorge Bornhausen, presidente do então PFL – a sigla ainda não havia mudado de nome na ocasião –, e Roberto Freire, presidente do PPS. O PPS, pasmem, é uma dissidência do PCB, o Partido Comunista do Brasil (!), também conhecido como “Partidão” .

Diante desse verdadeiro “samba do crioulo doido”, alguém aqui no Brasil ainda se arrisca em dizer que é de esquerda ou de direita?




* Em 2006, houve uma fusão do PL com o PRONA – partido fundado pelo também falecido deputado Enéas “meu nome é Enéas!” Carneiro –, que acabou gerando o PR (Partido da República).

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