sexta-feira, 17 de junho de 2011

Paul McCartney em solo carioca

                                                                 
Originalmente publicada em maio de 2011 no TomNeto.com.


Todo mundo sabe: Sir Paul McCartney [foto] tocará amanhã e segunda-feira, 23, no Estádio Olímpico João Havelange, o já famoso Engenhão, no Rio de Janeiro. Será a segunda passagem da turnê Up And Coming por terras brasileiras em menos de doze meses. Em novembro do ano passado, Macca se apresentou no Morumbi, em São Paulo, e no Beira-Rio, em Porto Alegre.

E convenhamos: seria de uma obviedade sem tamanho postar aqui, para mencionar o fato, algum dos clássicos dos Beatles, ou mesmo um hit do Wings ou de sua carreira solo.

Portanto, para mostrar que McCartney está (muito) distante de qualquer acomodação artística, uma boa pedida é a ousada “Don't Stop Running”, faixa que encerra o seu mais recente trabalho de estúdio, o surpreendente  Electric Arguments [à esquerda, a capa do álbum], de 2008.

O CD foi creditado, na verdade, a The Fireman, o projeto paralelo que Paul desenvolve ao lado do DJ Youth, ex-baixista do Killing Joke, e que já rendeu três álbuns.

Climática e eletrônica, “Don't Stop Running” é a prova cabal de que, mesmo tendo ultrapassado os “sixty-four”, Paul McCartney ainda procura novos rumos para a sua carreira. E acha.


P.S.: a resenha que escrevi sobre Electric Arguments pode ser lida clicando aqui.

P.S. nº 2: a apresentação de amanhã, 22,  será transmitida, ao vivo, em http://paul.terra.com.br/.



Veja o vídeo de “Don't Stop Running”, do The Fireman:


sábado, 11 de junho de 2011

Roberto Carlos: 70 anos

                           

Publicado originalmente em abril de 2011 no TomNeto.com.


Do alto de meio século de uma carreira singular, Roberto Carlos [foto] tem muitos motivos pelos quais se orgulhar. Goste-se ou não dele, nenhum outro artista brasileiro possui números tão superlativos — na América Latina, vendeu mais até do que, pasmem... os Beatles (!).

Além de intérprete notável, RC é um compositor que, com a simplicidade de suas palavras, consegue tocar o coração de pessoas de todas as faixas etárias, de todas as classes sociais. Seja falando de amor ou de fé, o autor de “Emoções” é, sem sombra de dúvida, a voz do Brasil.

E, a exemplo de milhões de brasileiros, as canções de Roberto se entrelaçam com a história de minha vida. E isso vem desde a infância, nas celebrações do Natal na companhia de meus familiares — alguns, por sinal, já não estão vivos —, quando a trilha sonora sempre foi o seu novo álbum.

Sendo assim, não me constranjo em declarar a enorme admiração e sincero respeito que nutro por este homem. No meu íntimo, é como se RC fosse uma pessoa próxima, um amigo muito querido. E, de fato, sua música tem estado a meu lado durante todos esses anos.

Hoje, 19 de abril de 2011, Roberto completa 70 anos de idade. Fico feliz por ele estar vivo. Com saúde. E em plena atividade. Não sucumbiu diante de todos os momentos tristes que atravessou — e continua atravessando. Como disse (sabiamente) Caetano Veloso, “uma força” o leva a cantar. Somos privilegiados por ouvi-lo.

Em suma, Roberto Carlos é o Rei. De fato e de direito. Vida longa ao Rei.

Da série ‘Contos’: ‘Classes diferentes. A mesma paixão’


Publicado originalmente em janeiro de 2011 no TomNeto.com.


Vinham os dois na mesma calçada, porém em sentido contrário: o rapaz escuro, suado, trajando roupas humildes, que trazia nas mãos uma caixa de drops, que certamente vende nos ônibus; e um moço branco, de óculos, pasta de executivo na mão, e impecavelmente vestido.

Como se combinassem, ambos entraram, no exato ponto em que cruzaram, em uma loja de artigos esportivos. E procuram, por coincidência, o mesmo objeto de desejo: a camisa do Flamengo.

Parados em frente à vitrine, fitam o uniforme rubro-negro – o atual, que traz no peito o escudo da CBF e, logo abaixo, a enorme logomarca da indústria de laticínios.

O silêncio é quebrado pelo rapaz arrumadinho, que dirige-se ao outro, dizendo:

— Pode falar, me'rmão: muito foda essa camisa, não?

Embora estupefato pelo inesperado vocabulário saído da boca da figura a seu lado, o vendedor de balas ainda consegue balbuciar:

— Já é. Já é...

Moral da história: na paixão por um clube de futebol, os torcedores – independentemente de raça, credo ou classe social – tornam-se o que, de fato, são: iguais.