Publicado originalmente em janeiro de 2011 no TomNeto.com.
Vinham os dois na mesma calçada, porém em sentido contrário: o rapaz escuro, suado, trajando roupas humildes, que trazia nas mãos uma caixa de drops, que certamente vende nos ônibus; e um moço branco, de óculos, pasta de executivo na mão, e impecavelmente vestido.
Como se combinassem, ambos entraram, no exato ponto em que cruzaram, em uma loja de artigos esportivos. E procuram, por coincidência, o mesmo objeto de desejo: a camisa do Flamengo.
Parados em frente à vitrine, fitam o uniforme rubro-negro – o atual, que traz no peito o escudo da CBF e, logo abaixo, a enorme logomarca da indústria de laticínios.
O silêncio é quebrado pelo rapaz arrumadinho, que dirige-se ao outro, dizendo:
— Pode falar, me'rmão: muito foda essa camisa, né não?
Embora estupefato pelo inesperado vocabulário saído da boca da figura a seu lado, o vendedor de balas ainda consegue balbuciar:
— Já é. Já é...
Moral da história: na paixão por um clube de futebol, os torcedores – independentemente de raça, credo ou classe social – tornam-se o que, de fato, são: iguais.
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