Estandarte (Sony & BMG)
2008
Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 147 (novembro de 2008).
Produzido novamente por Dudu Marote, o Skank recua para avançar
Dois anos após o seu último de inéditas, Carrossel – bom CD que não obteve a resposta comercial dos trabalhos anteriores –, o Skank volta à carga com Estandarte (Sony & BMG). Esse é o décimo álbum da banda mineira, contando com MTV Ao Vivo em Ouro Preto, de 2001, e a “anticoletânea” Radiola, de 2004.
Após um hiato de doze anos, Samuel Rosa & cia. são novamente produzidos por Dudu Marote. Entretanto, o retorno do produtor dos bem-sucedidos Calango (1994) e O Samba Poconé (1996) não deve ser interpretado como uma “volta ao passado”. Não. O Skank até soa mais... hum, festeiro do que nos últimos três discos. Mas nem por isso o ouvinte encontrará em Estandarte uma nova “Garota Nacional”.
(E que ninguém espere que os músicos se apresentem novamente vestindo camisas de futebol.)
Por sinal, os “metais em brasa”, tão característicos da sonoridade do quarteto em sua primeira fase, só aparecem na faixa que abre (bem) a bolacha. Com letra de Nando Reis, “Pára-Raio” evoca o swing de Roberto Carlos circa 1970 – fase “Todos Estão Surdos” – e fala de sexo com objetividade: “Páro dentro, entro e saio/ Falta você aqui”.
Na verdade, o que o Skank propõe em Estandarte é uma ruptura com a, digamos, “trilogia britânica” de Maquinarama, Cosmotron e Carrossel, colocando todas as suas facetas em uma mesma perspectiva. Afinal, “Esmola” e “Balada do Amor Inabalável” sempre conviveram harmoniosamente nas apresentações da banda.
Dançante e roqueiro... ao mesmo tempo
Dessa forma, para ser coerente com cada uma de suas fases, o grupo soa roqueiro em “Renascença” e “Notícias do Submundo”; pop em “Um Gesto Qualquer” e “Noites de um Verão Qualquer”; e bucólico na bela balada “Sutilmente” – prima-irmã de “Trancoso”, do disco anterior –, que traz o verso lapidar: “Mas quando eu estiver morto/ Suplico que não me mate, não/ Dentro de ti”.
O curioso é que, propositadamente ou não, os mineiros acabaram conduzindo o seu som para um outro caminho. Nos momentos em que a banda soa dançante, também acaba soando roqueira... ao mesmo tempo. O melhor exemplo disso é “Chão”, talvez a melhor do disco. O Skank declarou que Estandarte foi inteiramente composto durante jam sesssions no estúdio. E, de todas as músicas do álbum, “Chão”, com seu matador riff de guitarra, é onde isso fica mais perceptível.
Outro bom momento do CD é “Canção Áspera”. Na introdução – que lembra “Um Homem Solitário”, de Carrossel – uma guitarra cria um clima western, como se fosse o score de algum filme de Ennio Morricone. Mas a pista é falsa. Logo surge um groove totalmente discothèque, tornando a faixa um dos destaques do álbum.
O disco só perde fôlego no refrão onomatopaico de “Assim Sem Fim”. Por sinal, o schubidu-bidau também atrapalha “Escravo”, cuja letra de imagens interessantes pediria um arranjo menos “animadinho”, mais rocker.
A primeira música de trabalho é “Ainda Gosto Dela”, com participaçao de Negra Li nos vocais. Também com letra de Nando Reis, a faixa alude a Jorge Ben (o refrão “E eu ainda gosto dela/ Mas ela já não gosta tanto assim” remete imediatamente a “Ela já não gosta mais de mim/ Mas eu gosto dela mesmo assim”, de “Que Pena”). À primeira audição, não é infecciosa como “Uma Canção É pra Isso”, single que puxava o disco anterior. Mas depois de ouví-la três vezes, torna-se uma velha conhecida. Estourada nas FMs, já faz parte da extensa lista de hits do Skank.
Mesmo sem atingir o nível de excelência de Maquinarama ou, principalmente, Cosmotron, o Skank, mais uma vez, agiu com inteligência. Estandarte mostra que a intenção do “passo atrás” da banda era, na verdade, dar dois passos à frente.
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Veja o vídeo de “Ainda Gosto Dela”:
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