2009
Resenha publicada originalmente no TOM NETO.COM.
A genialidade do compositor também se faz notar em ‘Leite Derramado’, seu quarto romance
Em seu quarto romance, Chico consegue superar sua empreitada anterior no campo literário, o ótimo Budapeste, de 2003. Leite Derramado baseia-se nas memórias de Eulálio d'Assumpção, ancião que convalesce em um leito de hospital, recordando o passado de glória de sua família, até a sua decadência atual.
E, através do monólogo do personagem central da obra, Chico revê boa parte da história do país. As lembranças um tanto desconexas do centenário Eulálio mencionam – embora sem ordem cronológica – a chegada da Coroa Portuguesa, a Abolição da Escravatura, o Golpe de 1964 e outros momentos cruciais do Brasil, não esquecendo, em momento algum, de sua esposa Matilde, figura onipresente na narrativa.
Outro tema recorrente no livro é o racismo, visto que a supracitada Matilde era mulata – e, por esse motivo, encontrou resistência da parte da mãe de Eulálio. Com isso, Chico acaba entrando na questão da miscigenação étnica brasileira: o tataraneto do centenário protagonista – o “garotão” traficante, cuja namorada ostenta um piercing (que ele chama de “brinco na barriga”) – é negro.
O interesse do leitor é mantido, da primeira à última página, pela prosa fluente do autor – e pelo humor desconcertante que percorre todo o livro. Resumo: a genialidade do compositor Chico Buarque já impregnou a sua literatura. Sem dúvida alguma.
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