sábado, 28 de maio de 2011

Sting: agora, crooner de orquestra


CD

Symphonicities (Deutsche Grammophon, edição nacional via Universal Music)
2010


Publicada originalmente em setembro de 2010 no TomNeto.com.


Contrariando quaisquer previsões, ex-Police relê suas canções dentro do universo sinfônico


Menos de ano após o seu mais recente trabalho, o invernal If On A Winter's Night..., Sting, mais uma vez, tomou uma decisão artística que certamente o seu público não imaginava. Na companhia da Royal Philharmonic Concert Orquestra, sob regência de Rob Mathes, iniciou – a princípio pelo Velho Continente – uma turnê na qual vertia suas canções para o formato sinfônico, intitulada Symphonicity.

No decorrer da excursão, convidou mais duas orquestras – The London Players e The New York Chamber Consort – e entrou em estúdio para registrar doze faixas, como uma espécie de “polaroide” do espetáculo. Assim surgiu o CD Symphonicities, que chega ao mercado pela gravadora alemã Deutsche Grammophon, com edição nacional via Universal Music. O título do álbum faz alusão a Synchronicity, de 1983, quinto e último trabalho de estúdio do Police.


Verdade seja dita: a maioria das canções de Sting – especialmente em sua carreira solo – parece ter sido feita sob medida para o acompanhamento de uma orquestra. Exemplos: a belíssima “When We Dance” (1984); “The End Of Game” (1999), cuja letra lembra um conto épico; a delicada “The Pirate's Bride” (1996); e “I Burn For You” (1982, gravada ainda no período em que o artista liderava sua antiga banda), todas presentes no álbum. Os arranjos, aliás – embora caprichados –, guardam alguma semelhança em relação aos originais.

Nesse sentido, são apenas quatro as faixas que verdadeiramente surpreendem: “Every Little Thing She Does Is Magic”, a primeira faixa de trabalho, que tornou-se um tema, digamos... primaveril; “She's Too Good To Me”, de seu terceiro álbum solo de estúdio, Ten Summoner's Tales (1993); a punk “Next To You”, do primeiro álbum do Police, com violoncelos from hell que lembram... Bach (!); e a manjada “Roxanne”, que adquiriu um clima um tanto... melancólico.

A ausência de impacto, entretanto, não compromete a qualidade de Symphonicities, que está repleto de bons momentos.

I Hung My Head”, originalmente lançada em Mercury Falling, de 1996, conta a estória – ambientada em tempos antigos e cheia de imagens surreais – de um homem que, atirando a esmo em direção a uma colina, fere de morte um cavaleiro. E acaba condenado à guilhotina. Também foi gravada pelo lendário Johnny Cash em seu último trabalho, American IV: The Man Comes Around, de 2002.

Já a delicada “You Will Be My Ain True Love” é a única faixa que não aparece em nenhum outro álbum de Sting. Foi gravada originalmente em 2003, em um dueto com a cantora de bluegrass Alison Krauss, para a trilha do filme Cold Mountain. Completam o repertório a indignada “We Work The Black Seam” e a sempre eficiente “Englishman In New York”.

Symphonicities é o retrato de um artista orgulhoso de sua obra. E com toda a razão: não resta dúvida de Sting é um dos melhores autores pop ever. E tem lastro suficiente para lançar vários volumes de discos sinfônicos com suas músicas.

Contudo, não seria má ideia se o ex-Police editasse um novo álbum de inéditas – o último foi o bom Sacred Love, de 2003 (!).

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