CD e DVD Acústico MTV (Sony BMG)
2007
Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 132 (maio de 2007).
Músico passa a limpo toda a sua (tortuosa) trajetória em surpreendente Acústico MTV
O inesperado acontece: Lobão, grande paladino do mercado independente nos últimos oito anos, edita o seu Acústico MTV, pela Sony BMG (!).
Como não poderia deixar de ser, a polêmica começou muito antes do lançamento do álbum. Tão logo foi feito o anúncio de que Lobão sentaria no banquinho da emissora paulistana, muitos estranharam a decisão do músico. E a imprensa, claro, não perdeu a piada - classificando-o até como um... “cordeiro”.
O grande questionamento era: depois de tanto vociferar contra a ditadura estética do jabá, imposta às rádios pelas grandes gravadoras e afirmar que certos artistas usam o acústico como um “desfibrilador” (para ressuscitar suas carreiras moribundas), o artista agora “se rende às corporações”? Mas o pior é que ele tem dois álibis.
Primeiro: fazer um acústico não é uma incoerência para quem, em 1993, percorreu o país apenas com um violão em punho, com o show Brasilis Erectus (que, lamentavelmente, jamais teve registro oficial), quando NINGUÉM ainda falava nesse formato. Segundo: ao que tudo indica, ele foi procurado para desenvolver esse projeto - e não o contrário. Lobão teria, inclusive, feito uma declaração bem a seu estilo: “a indústria caiu de joelhos por mim”. E essa afirmativa tem lá seu fundo de verdade: apesar dos entreveros, as multinacionais ainda tinham interesse no grande artífice que ele sempre foi.
Aliás, não fosse o brilhantismo de Lobão como autor de canções, certamente ele já teria sido pulverizado do mercado há muito tempo.
E não haveria pirotecnia que o salvasse.
Mistura homogênea de violência e candura
Isso, porque, no decorrer de sua fase independente, ele se esmerou em “roubar o próprio show”: o músico era muito mais comentado por suas “ações políticas” (contra os viciados esquemas de divulgação musical no Brasil) e por suas declarações pretensamente bombásticas - e, muitas vezes, infelizes - a respeito de nomes como Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil... do que pelo seu próprio trabalho. Nesse período, todos tinham conhecimento da “mais recente polêmica do Lobão”.
Mas poucos sabiam qual era “a canção nova do Lobão”.
E, durante todo esse tempo, o cara fez música. Aliás, boa parte do repertório do Acústico MTV, está focalizada no “universo paralelo” que ele criou longe do mainstream: de A Vida é Doce entram a furiosa “El Dedichado II” (que abre o disco como um... cartão-de-visitas) e “Pra Onde Você Vai”; e do recente Canções Dentro da Noite Escura, “Você e a Noite Escura”, a sombria balada “A Gente Vai se Amar” (com participação do Cachorro Grande) e “Quente”, poema de Julio Barroso (a grande promessa não-cumprida do rock nacional, devido a seu precoce desaparecimento, em 1984) que Lobão musicou.
Obviamente, ele incluiu sucessos que não poderia deixar de fora: a bela “Essa Noite Não”, “Blá Blá Blá... Eu te Amo” (parte da letra foi alterada com uma sutileza... britânica), “Decadence Avec Élegance”, “Corações Psicodélicos” (cantada de maneira propositadamente desleixada, zombeteira), “Noite e Dia”, “Por Tudo o que For” e, claro, o clássico “Me Chama”.
Com essa mistura homogênea de violência e candura, o lupino construiu um mosaico de sua carreira incrivelmente... coeso. E ainda deu-se ao luxo de deixar de fora “Vida Bandida” e “Vida Louca Vida”. Ele alegou que não encontrou “boas soluções de arranjo nesse formato” para ambas.
A intenção do cantor era fazer “o melhor de todos os acústicos”
Apresentando instrumentos como o banjo, a craviola e a viola caipira, o álbum (produzido pelo Ídolo Carlos Eduardo Miranda) apresenta arranjos muito elaborados - resta saber se Lobão irá excursionar com essa estrutura. Seis faixas contaram com a participação de um quinteto de cordas. E as que mais se beneficiaram desse auxílio luxuoso foram: “A Vida é Doce” (teve a sua carga dramática intensificada), a épica “A Queda” (de Nostalgia da Modernidade, um dos mais brilhantes - e menos ouvidos - álbuns já gravados nesse país) e a bachiana “Vou te Levar”, escolhida como a primeira faixa de trabalho.
Em relação a essa última, corrige-se agora uma grande injustiça: quando de seu lançamento, em 1999, a bela canção passou em brancas nuvens e agora obtém... boa execução radiofônica. Não, você não leu errado: depois de quase dez anos, Lobão está, sim, tocando nas rádios.
E é bem provável que, a essa altura, ele esteja dizendo: “viram só? Isso corrobora a minha tese!”
As grandes surpresas ficam por conta da estradeira “O Mistério” (parceria com Lulu Santos e Ritchie, composta ainda nos tempos do Vímana, mas que permanecia inédita até os dias atuais) e a boa versão de “Bambino (Bambina)”, de Ronaldo Foi pra Guerra, 1984.
O DVD foi editado agora no início de maio e, além das 18 músicas do CD, apresenta três faixas bônus: “Que Língua Falo Eu”, “Revanche” e “Chorando no Campo”.
Com sua verve habitual, ele teria afirmado que queria fazer “o melhor de todos os acústicos”. Bem, é difícil apontar “o melhor”. Mas não há dúvida de que ele já conseguiu realizar, pelo menos, um dos melhores. Seguramente.
Espera-se que esse trabalho seja um marco na carreira do artista - e que, a partir de agora, o personagem Lobão fique em segundo plano. Claro, ele jamais se tornaria, publicamente, um indivíduo polido, diplomático - porque aí... deixaria de ser o Lobão, não é mesmo? Entretanto, em detrimento ao avatar, o músico bem que poderia ter um pouco mais de destaque.
O que seria melhor para todos.
Esse blog reúne mais de 200 resenhas e artigos que tenho escrito ao longo dos anos para o jornal musical carioca IM - International Magazine - do qual fui colaborador de 2005 a 2009 -, para o portal Let's Rock e para o tomneto.blogspot.com. Para reproduzir qualquer texto deste blog, entre em contato com o autor.
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Wilco: retorno às origens
CD Sky Blue Sky (Nonesuch, importado)
2007
Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 132 (maio de 2007).
Banda americana dá férias aos experimentalismos. E acaba cometendo um disco ótimo.
Três anos após o último álbum de estúdio, A Ghost Is Born, o Wilco acaba de lançar (pela Nonesuch, importado) o seu novo trabalho, Sky Blue Sky. Em 2005, foi editado Kicking Televison, considerado por muitos o “melhor ao vivo já lançado”. Com lançamento previsto para o mês de maio, Sky... acabou vazando na web bem antes dessa data.
A banda americana era um dos expoentes do chamado “country alternativo” - o que se convencionou chamar de alt.country -, marcado pela adição de dissonâncias e efeitos até então incomuns ao gênero. Só que, dessa vez, a proposta é outra.
Distante do experimentalismo do ótimo Yankee Hotel Foxtrot (2002), o grupo do vocalista Jeff Tweedy cometeu um disco bucólico, setentista, de canções propriamente ditas, embaladas em arranjos agridoces. Ou seja, o grupo fez um retorno às suas origens campestres.
A delicada “Either Way”, que abre a bolacha, arrebata o ouvinte logo nas primeiras notas. Mas é importante dizer: não se trata de um trabalho de digestão imediata - a cada nova audição, novos detalhes são percebidos, e o disco cresce. O Wilco foi felicíssimo na elaboração de melodias e (como sempre) na escolha de timbres. Exemplos: “Leave Me (Like You Found Me)”, “Side With the Seeds” e, principalmente, a faixa-título - simplesmente linda. “You Are My Face” é infalível rock rural. E “Impossible Germany” traz, em seu final, um longo solo de guitarra que poderia muito bem estar em um álbum do... Bread.
Seriíssimo candidato a álbum do ano
Aliás, além da extinta banda de David Gates, percebe-se também, ao longo do disco, a influência clara de Neil Young - em especial, do excelente Harvest Moon, que o mestre lançou em 1992 - e... do Wings (ouça “Hate It Here”).
(Curiosidade: há um trecho instrumental de “Walken”, que lembra bastante um solfejo de “Heart of the Country”, faixa do clássico Ram, que McCartney gravou em 1972. Confiram.)
Em tempos tão cínicos, conceber um trabalho com tanta suavidade e emoção chega a ser... um ato de coragem.
É claro que quem aguardava o clima tenso de outrora pode estranhar o ambiente reflexivo de Sky Blue Sky. Contudo, a banda apresenta, com astúcia, uma nova nuance de si própria. Diante de um novo trabalho com distorções e microfonias, a impressão geral seria: “Wilco repete fórmula, etc e tal”.
E, muito provavelmente, foi isso o que o grupo quis evitar.
O Wilco desenvolve um dos mais relevantes trabalhos no pop atual. No entanto, até o presente momento, não obteve no Brasil o merecido reconhecimento. Embora carregado de influências e nem um pouco moderno (mas quem se importa com isso?), Sky Blue Sky é um disco longe do óbvio e muito bonito, que aumentará consideravelmente o respeito daqueles que já acompanham a trajetória do quarteto - e ainda poderá arregimentar novos fãs.
Desde já, é um seriíssimo candidato a álbum do ano.
2007
Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 132 (maio de 2007).
Banda americana dá férias aos experimentalismos. E acaba cometendo um disco ótimo.
Três anos após o último álbum de estúdio, A Ghost Is Born, o Wilco acaba de lançar (pela Nonesuch, importado) o seu novo trabalho, Sky Blue Sky. Em 2005, foi editado Kicking Televison, considerado por muitos o “melhor ao vivo já lançado”. Com lançamento previsto para o mês de maio, Sky... acabou vazando na web bem antes dessa data.
A banda americana era um dos expoentes do chamado “country alternativo” - o que se convencionou chamar de alt.country -, marcado pela adição de dissonâncias e efeitos até então incomuns ao gênero. Só que, dessa vez, a proposta é outra.
Distante do experimentalismo do ótimo Yankee Hotel Foxtrot (2002), o grupo do vocalista Jeff Tweedy cometeu um disco bucólico, setentista, de canções propriamente ditas, embaladas em arranjos agridoces. Ou seja, o grupo fez um retorno às suas origens campestres.
A delicada “Either Way”, que abre a bolacha, arrebata o ouvinte logo nas primeiras notas. Mas é importante dizer: não se trata de um trabalho de digestão imediata - a cada nova audição, novos detalhes são percebidos, e o disco cresce. O Wilco foi felicíssimo na elaboração de melodias e (como sempre) na escolha de timbres. Exemplos: “Leave Me (Like You Found Me)”, “Side With the Seeds” e, principalmente, a faixa-título - simplesmente linda. “You Are My Face” é infalível rock rural. E “Impossible Germany” traz, em seu final, um longo solo de guitarra que poderia muito bem estar em um álbum do... Bread.
Seriíssimo candidato a álbum do ano
Aliás, além da extinta banda de David Gates, percebe-se também, ao longo do disco, a influência clara de Neil Young - em especial, do excelente Harvest Moon, que o mestre lançou em 1992 - e... do Wings (ouça “Hate It Here”).
(Curiosidade: há um trecho instrumental de “Walken”, que lembra bastante um solfejo de “Heart of the Country”, faixa do clássico Ram, que McCartney gravou em 1972. Confiram.)
Em tempos tão cínicos, conceber um trabalho com tanta suavidade e emoção chega a ser... um ato de coragem.
É claro que quem aguardava o clima tenso de outrora pode estranhar o ambiente reflexivo de Sky Blue Sky. Contudo, a banda apresenta, com astúcia, uma nova nuance de si própria. Diante de um novo trabalho com distorções e microfonias, a impressão geral seria: “Wilco repete fórmula, etc e tal”.
E, muito provavelmente, foi isso o que o grupo quis evitar.
O Wilco desenvolve um dos mais relevantes trabalhos no pop atual. No entanto, até o presente momento, não obteve no Brasil o merecido reconhecimento. Embora carregado de influências e nem um pouco moderno (mas quem se importa com isso?), Sky Blue Sky é um disco longe do óbvio e muito bonito, que aumentará consideravelmente o respeito daqueles que já acompanham a trajetória do quarteto - e ainda poderá arregimentar novos fãs.
Desde já, é um seriíssimo candidato a álbum do ano.
Ivete Sangalo: diva pop à moda da casa
CD e DVD No Maracanã - Multishow ao Vivo (Universal)
2007
Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 132 (maio de 2007).
Mega-show que a cantora realizou no Estádio do Maracanã recebe registro em CD e DVD
Meses atrás, uma revista de cultura pop - ou contracultura, como eles preferem - teve a coragem de fazer uma matéria de capa com Ivete Sangalo. Os protestos nos fóruns de discussão na Internet foram imediatos. Mas o fato é que a publicação merece as congratulações. Sim, porque - mesmo que alguns não queiram - a cantora é notícia. E notícia não se escolhe - se dá.
E convenhamos: poucas coisas são mais repugnantes do que jornalismo tendencioso e/ou omisso.
Disponível em CD e DVD, Ivete no Maracanã - Multishow ao Vivo (Universal) traz o registro do mega-espetáculo que reuniu 60 mil pessoas, no 16 de dezembro de 2006. No estádio onde já tocaram Rolling Stones, Frank Sinatra, Paul McCartney (que, segundo o Guinness, ainda mantém o recorde mundial de público pagante), Madonna, Sting e Tina Turner, Ivete foi a primeira artista brasileira a se apresentar. E a intenção da cantora - que, é bom frisar, detém o controle absoluto sobre todos os aspectos de seu trabalho - era realizar um show que, em estrutura, nada devesse a de um artista internacional. E conseguiu.
Ivete é uma entertainer como poucas, canta muito bem e, com simpatia e (bastante) pique, consegue colocar o povo todo na palma da mão. Entre sucessos populares como “Arerê”, “Chorando se Foi” (o estopim do estouro da famigerada lambada) e “Preta” (de Beto Barbosa), o disco traz quatro inéditas: “Ilumina”, “Não Precisa Mudar”, “Dengo de Amor” e “Completo” (esta última registrada em estúdio).
E, com esse trabalho, a baiana - ainda que negue - se aproxima lentamente do pop. E no momento em alarga seus horizontes, pode até pensar em deixar o limitado território do axé livre para as artistas que optaram por... imitá-la.
Os convidados são: Alejandro Sanz (na bela “Corazón Partío”, maior sucesso do cantor espanhol), Saulo Fernandes (Banda Eva), MC Buchecha (no medley “Nosso Sonho/ Conquista/ Poder”), Durval Lelys (Asa de Águia) e Samuel Rosa, do Skank (em “Não Vou Ficar”, de Tim Maia, famosa na voz de Roberto Carlos). A memória do saudoso síndico está presente também em “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, que Ivete cantou sozinha.
O DVD traz faixas bônus como “Sá Marina” (de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, sucesso na voz de Wilson Simonal), “Se Eu Não te Amasse Tanto Assim” e as infalíveis “Festa”, “Flor do Reggae” e “Sorte Grande”.
Moral da história: Ivete (embora orgulhosa de suas raízes baianas) é uma diva pop, sim - só que com o nosso... tempero. Além disso, possui um público numeroso - e essas pessoas merecem tanto respeito quanto a torcida de um grande clube de futebol. Todos têm o direito de não gostar do repertório que ela canta - que, de fato, poderia ser bem melhor. Mas vamos admitir: ela (sem trocadilho) é muito boa naquilo que se propõe.
E ponto final.
2007
Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 132 (maio de 2007).
Mega-show que a cantora realizou no Estádio do Maracanã recebe registro em CD e DVD
Meses atrás, uma revista de cultura pop - ou contracultura, como eles preferem - teve a coragem de fazer uma matéria de capa com Ivete Sangalo. Os protestos nos fóruns de discussão na Internet foram imediatos. Mas o fato é que a publicação merece as congratulações. Sim, porque - mesmo que alguns não queiram - a cantora é notícia. E notícia não se escolhe - se dá.
E convenhamos: poucas coisas são mais repugnantes do que jornalismo tendencioso e/ou omisso.
Disponível em CD e DVD, Ivete no Maracanã - Multishow ao Vivo (Universal) traz o registro do mega-espetáculo que reuniu 60 mil pessoas, no 16 de dezembro de 2006. No estádio onde já tocaram Rolling Stones, Frank Sinatra, Paul McCartney (que, segundo o Guinness, ainda mantém o recorde mundial de público pagante), Madonna, Sting e Tina Turner, Ivete foi a primeira artista brasileira a se apresentar. E a intenção da cantora - que, é bom frisar, detém o controle absoluto sobre todos os aspectos de seu trabalho - era realizar um show que, em estrutura, nada devesse a de um artista internacional. E conseguiu.
Ivete é uma entertainer como poucas, canta muito bem e, com simpatia e (bastante) pique, consegue colocar o povo todo na palma da mão. Entre sucessos populares como “Arerê”, “Chorando se Foi” (o estopim do estouro da famigerada lambada) e “Preta” (de Beto Barbosa), o disco traz quatro inéditas: “Ilumina”, “Não Precisa Mudar”, “Dengo de Amor” e “Completo” (esta última registrada em estúdio).
E, com esse trabalho, a baiana - ainda que negue - se aproxima lentamente do pop. E no momento em alarga seus horizontes, pode até pensar em deixar o limitado território do axé livre para as artistas que optaram por... imitá-la.
Os convidados são: Alejandro Sanz (na bela “Corazón Partío”, maior sucesso do cantor espanhol), Saulo Fernandes (Banda Eva), MC Buchecha (no medley “Nosso Sonho/ Conquista/ Poder”), Durval Lelys (Asa de Águia) e Samuel Rosa, do Skank (em “Não Vou Ficar”, de Tim Maia, famosa na voz de Roberto Carlos). A memória do saudoso síndico está presente também em “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, que Ivete cantou sozinha.
O DVD traz faixas bônus como “Sá Marina” (de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, sucesso na voz de Wilson Simonal), “Se Eu Não te Amasse Tanto Assim” e as infalíveis “Festa”, “Flor do Reggae” e “Sorte Grande”.
Moral da história: Ivete (embora orgulhosa de suas raízes baianas) é uma diva pop, sim - só que com o nosso... tempero. Além disso, possui um público numeroso - e essas pessoas merecem tanto respeito quanto a torcida de um grande clube de futebol. Todos têm o direito de não gostar do repertório que ela canta - que, de fato, poderia ser bem melhor. Mas vamos admitir: ela (sem trocadilho) é muito boa naquilo que se propõe.
E ponto final.
Amy Winehouse: e é por isso que eu bebo demais
Back to Black (Universal)
2007 Resenha publicada no BLOG DO TOM NETO.
Entre porres e vexames, a inglesa convence como a nova diva da velha soul music
Ela é uma morena inglesa de apenas 23 aninhos, bonita (embora tenha perdido muito peso recentemente) e canta como a Sarah Vaughan. Ela é Amy Winehouse que, quatro anos após a sua estréia com Frank (um disco com acento mais jazzístico), acaba de colocar na praça seu segundo álbum, Back to Black, lançado mundialmente pela Universal.
Ao mesmo tempo classudo e visceral, Back to Black é um trabalho encharcado - e isso não é uma licença poética - de soul music. Sob uma formatação totalmente vintage, Winehouse narra, de modo dilacerado, todas as suas desventuras amorosas.
E etílicas.
A eficaz "Rehab" - single de sucesso no Velho Mundo - convence logo de cara. "Tears Dry On Their Own", a linda "Love Is a Losing Game" e "You Know I'm No Good" fariam o exigente Berry Gordy (o chefão da Motown) sorrir de orelha a orelha. É aquela história: a Motown, assim como a música dos Beatles, é como se, mal comparando, fosse um templo em que, volta e meia, alguém entra para acender uma vela...
Mas Amy Winehouse tem sido menos comentada pelo talento do que pelos... vexames. Se tudo isso é uma estratégia de marketing ou não, só ela sabe. Mas o fato é que a moça já coleciona uma série de... hum, incidentes públicos (shows cancelados, vômitos no palco, etc), por conta de seu apreço pela manguaça.
O ápice do constrangimento foi Amy ter comparecido supostamente mamada ao programa de Charlotte Church, na TV britânica. A anfitriã ainda fez (ou tentou fazer) um dueto com sua convidada em "Beat It", de Michael Jackson. Entretanto, os erros cometidos por Winehouse durante a performance - e seu desempenho vocal abaixo da crítica - transformaram o duo em um espetáculo decididamente embaraçoso.
De qualquer forma, esqueça os pileques e ouça o disco. Vale a pena.
Arctic Monkeys: somos tão jovens
CD Favourite Worst Nightmare (EMI)
2007
Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 132 (maio de 2007).
A despeito do estouro do primeiro disco, os garotos de Sheffield não ligam a mínima para a pressão do segundo álbum
Com seu primeiro álbum, os Arctic Monkeys provaram a eficácia de um hype de Internet nos dias de hoje: no ano passado, venderam mais de um milhão de cópias de Whatever People Say I Am, That's What I'm Not apenas na Grã-Bretanha - sendo as 364 mil logo na semana de lançamento (!) -, totalizando 2,1 milhões de cópias no mundo inteiro. Foi o álbum de estréia mais vendido do mercado fonográfico britânico em toda a história.
Só que um estouro dessas proporções gera, inevitavelmente, um efeito colateral: a pressão sobre o trabalho seguinte. Na Inglaterra, o comentário é que, esse era "o mais aguardado segundo álbum" em dez anos. Mas parece que os garotos de Sheffield não deram bola para isso: Favourite Worst Nightmare, lançado mundialmente pela EMI, segue (quase) à risca a fórmula de seu antecessor.
Em entrevista recente, a banda declarou que: "apenas 12 meses se passaram", numa tentativa de despistar os fãs que esperavam alguma modificação radical. O vocalista Alex Turner afirmou que, em Favourite..., os Monkeys optaram "pela espontaneidade" e, sendo assim, não havia nenhuma mudança brusca de estilo. Mas que algo mudou, mudou: os mais atentos perceberão que o disco novo é menos rápido do que o anterior. E isso acaba sendo uma virtude.
O mesmo rock veloz, urgente, juvenil que fez a cabeça de milhões de adolescentes em todo o planeta está presente na seqüência inicial do disco: "Brianstorm" (o primeiro single), "Teddy Picker", "D Is for Dangerous" e "Balaclava". Mas em "Flourescent Adolescent", o ritmo já diminui... e a coisa melhora. Quem gostou do primeiro disco, certamente gostará do segundo.
É estranho estabelecer faixa etária para apreciação musical, visto que, pelo menos teoricamente, a arte é livre - e, portanto, não se compartimenta. Mas é impossível não associar a energia da música dos Arctic Monkeys à galera teen. Resumindo: é basicamente música feita por garotos e para garotos - pessoas com mais de 25 anos podem não achar a menor graça no som da banda.
Mas é curioso ouvir "Only Ones Who Know", que tem surpreendentes ares de balada dos anos... 50 (!). Bem interessante. Parece um sinal de que, mais adiante, eles podem vir a fazer coisas... bem melhores.
Continuemos a observar os Arctic Monkeys - ainda que à distância. E vejamos onde isso vai dar.
2007
Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 132 (maio de 2007).
A despeito do estouro do primeiro disco, os garotos de Sheffield não ligam a mínima para a pressão do segundo álbum
Com seu primeiro álbum, os Arctic Monkeys provaram a eficácia de um hype de Internet nos dias de hoje: no ano passado, venderam mais de um milhão de cópias de Whatever People Say I Am, That's What I'm Not apenas na Grã-Bretanha - sendo as 364 mil logo na semana de lançamento (!) -, totalizando 2,1 milhões de cópias no mundo inteiro. Foi o álbum de estréia mais vendido do mercado fonográfico britânico em toda a história.
Só que um estouro dessas proporções gera, inevitavelmente, um efeito colateral: a pressão sobre o trabalho seguinte. Na Inglaterra, o comentário é que, esse era "o mais aguardado segundo álbum" em dez anos. Mas parece que os garotos de Sheffield não deram bola para isso: Favourite Worst Nightmare, lançado mundialmente pela EMI, segue (quase) à risca a fórmula de seu antecessor.
Em entrevista recente, a banda declarou que: "apenas 12 meses se passaram", numa tentativa de despistar os fãs que esperavam alguma modificação radical. O vocalista Alex Turner afirmou que, em Favourite..., os Monkeys optaram "pela espontaneidade" e, sendo assim, não havia nenhuma mudança brusca de estilo. Mas que algo mudou, mudou: os mais atentos perceberão que o disco novo é menos rápido do que o anterior. E isso acaba sendo uma virtude.
O mesmo rock veloz, urgente, juvenil que fez a cabeça de milhões de adolescentes em todo o planeta está presente na seqüência inicial do disco: "Brianstorm" (o primeiro single), "Teddy Picker", "D Is for Dangerous" e "Balaclava". Mas em "Flourescent Adolescent", o ritmo já diminui... e a coisa melhora. Quem gostou do primeiro disco, certamente gostará do segundo.
É estranho estabelecer faixa etária para apreciação musical, visto que, pelo menos teoricamente, a arte é livre - e, portanto, não se compartimenta. Mas é impossível não associar a energia da música dos Arctic Monkeys à galera teen. Resumindo: é basicamente música feita por garotos e para garotos - pessoas com mais de 25 anos podem não achar a menor graça no som da banda.
Mas é curioso ouvir "Only Ones Who Know", que tem surpreendentes ares de balada dos anos... 50 (!). Bem interessante. Parece um sinal de que, mais adiante, eles podem vir a fazer coisas... bem melhores.
Continuemos a observar os Arctic Monkeys - ainda que à distância. E vejamos onde isso vai dar.
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