CD
Singular (EMI-Odeon)
2009
Resenha originalmente publicada no TOM NETO.COM.
Vinte anos após ‘Popsambalanço & Outras Levadas’, cantor flerta novamente com o gênero
Apesar de não exibir, como compositor, a mesma inspiração de priscas eras, Lulu Santos continua, musicalmente, inquieto como sempre. E, com isso, ao contrário de praticamente todos os seus contemporâneos, mantém a sua relevância. E a sua... hum, singularidade – o clichê foi inevitável.
Não por acaso, Singular é o título de seu novo álbum, foi produzido pelo próprio Lulu juntamente com o seu tecladista, Hiroshi Mizutani, e inteiramente bancado pelo autor de “Casa” – apenas distribuído pela EMI. É o seu 22º trabalho, sendo o 19º de estúdio.
Em “Duplo Mortal” e “Na' Boa”, o cantor e compositor carioca transita pelo pop que o fez famoso. A tônica do CD, no entanto, é a amálgama entre o samba e a eletrônica, presente, por exemplo, nas instrumentais “Spydermonkey” e “Restinga”, primeira e última faixa do álbum, respectivamente.
No samba, aliás, Lulu soa bastante convincente, tanto na inédita “Procedimento” – não faria feio em um disco de Paulinho da Viola –, como na ousada releitura de “Zazueira”, de Jorge Ben, gravada para o disco-tributo O Baile de Simonal.
Provavelmente mencionando os vinte anos de Popsambalanço & Outras Levadas – álbum de 1989 no qual o artista flertou com samba e afins –, Lulu relê, com ares de funk carioca, “Perguntas”, aqui rebatizada de “Perguntas (II)”. Em tempos de verba pública escondida em meias e cuecas, a letra, por sinal, continua bem atual: “Diz aí qual é a tradição / país no duro ou refúgio de ladrão?”.
“Fuscio”, composta em homenagem ao seu cachorro, é um típico bolero havaiano, daqueles que Lulu compõe com naturalidade – vide “De Repente, Califórnia”, “Lua de Mel”, “Sereia”, “Tudo” e, claro, “Como uma Onda”.
A primeira música de trabalho é a disco “Baby de Babylon”, uma mistura infalível de “Fogo de Palha” (Calendário, 1999) com “Já É!” (Bugalu, 2003). A faixa integra a trilha sonora da novela Viver a Vida.
Completam o repertório “Black and Gold”, do australiano Sam Sparro e a sofrida “Atropelada”, do baixista, cantor e compositor Jorge Ailton.
No final das contas, Singular deixa melhor impressão do que o seu antecessor, o pouco inspirado Long Play (2007). Mas, decididamente, não supera o último grande CD de estúdio de Lulu Santos, o ótimo Letra e Música (2005).