sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Erasmo: pequenos (grandes) momentos de uma obra brilhante

CD Erasmo Carlos Convida - Volume II (Indie Records)
2007


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 133 (junho de 2007).



Em Erasmo Carlos Convida - Volume II, o Tremendão recebe justa reverência Certa vez, Erasmo Carlos definiu-se como "um roqueiro que compõe com violão de nylon", espécie de elo perdido entre o rock e os gêneros brasileiros tradicionais, como o samba e a bossa nova. E essa versatilidade estética é um dos motes principais de Erasmo Carlos Convida - Volume II, recém-lançado pela Indie Records.



Exatamente 27 anos depois do cavalo-de-vendas Erasmo Carlos Convida, o Tremendão decidiu repetir a dose: convocou nomes ilustres para reler alguns momentos de uma obra simplesmente brilhante. E conseguiu o que provavelmente o que nem todos imaginavam: realizar um disco de duos tão bom quanto o anterior. Na verdade, muitos irão considerá-lo até... melhor.


Lulu Santos mandou muitíssimo bem em "Coqueiro Verde": ligou os seqüenciadores e concebeu o que poderíamos chamar de "samba do século XXI". Zeca Pagodinho conseguiu a façanha de transformar "Cama e Mesa" em uma música sua - e, por tabela, reabilitar uma das menos inspiradas parcerias de Roberto & Erasmo. Adriana Calcanhotto, no entanto, está apenas regular em versão um tanto Aqualung de "Ilegal, Imoral ou Engorda".


Los Hermanos optaram por um (eficaz) enfoque intimista para "Sábado Morto", originalmente lançada no clássico Sonhos & Memórias (1972). O Skank, por sua vez, está perfeito em sua releitura sessentista para "Banda dos Contentes", faixa-título do álbum de Erasmo de 1976. Já o alardeado apreço do lendário roqueiro pela MPB é exposto no ótimo dueto com Os Cariocas em "Pão de Açúcar (Sugar Loaf)". O veterano conjunto permanece irrepreensível nas harmonias vocais.




"Não Quero Ver Você Triste" é gravada com sua rara letra


Um dos momentos de maior destaque é gravação de "Olha", em que Chico Buarque parece confortável como se cantasse algo de sua autoria. Chico, aliás, vestiu a pérola de 1976 com a mesma elegância das suas gravações nos últimos vinte anos. Djavan e Marisa Monte emocionam, respectivamente, nas singelas "De Tanto Amor" e "Não Quero Ver Você Triste". Esta última oferece um atrativo extra: foi gravada com a rara letra escrita por Mário Telles, irmão da cantora Silvinha Telles. Esse é o terceiro registro da canção com essa letra - além de Mário, Claudette Soares também havia gravado.


Produzido por Mú Carvalho (A Cor do Som), trata-se de um álbum quase irretocável - são três as exceções (que, mesmo assim, não comprometem o excelente resultado final da empreitada): "Vou Ficar Nu para Chamar sua Atenção", com participação de Simone, que havia recebido ótimas versões de Erasmo (em 1970, no álbum Erasmo e Os Tremendões) e Roberto (em 1976); "O Portão", na qual o Kid Abelha não conseguiu transmitir a carga emocional que a faixa exige; e "Emoções", com o grande Milton Nascimento, canção cuja versão original está de tal maneira cristalizada no inconsciente popular, que é praticamente impossível alguém reler de modo satisfatório (o artista, vestido de branco, entrando no palco com um sorriso nos lábios, a orquestra tocando...)


De qualquer forma, Erasmo Carlos Convida II presta um grande serviço: homenagear este que é, sem dúvida, um dos maiores autores de música popular desse país, em todos os tempos.


E tenho dito.

Nenhum comentário: