Diversão (EMI)
2007
2007
Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 139 (dezembro de 2007).
Cidade Negra grava o segundo álbum ao vivo seguido - dessa vez, vertendo para o reggae sucessos da MPB e do pop nacional
Vindo de um álbum ao vivo (Direto, o último do contrato da banda com a gravadora Sony BMG), o Cidade Negra acaba de editar - vejam só - um outro ao vivo que poderia receber inúmeros títulos mais condizentes com a proposta. Contudo, o grupo parece imaginar que o público é ingênuo e, sendo assim, o CD novo - disponível também em DVD - tem o simpático título de Diversão (EMI).
Gravado no Teatro Popular Oscar Niemeyer, em Niterói (RJ), e produzido pelo experiente Nilo Romero, o disco apresenta clássicos da MPB e do pop nacional como “Clube da Esquina II” (Milton Nascimento e Lô Borges), “O Tempo Não Pára” (Arnaldo Brandão e Cazuza), “A Lua e Eu” e “Eu Amo Você” (ambas do grande Genival Cassiano), além de “A Palo Seco” (Belchior), entre outros, todos vertidos para o cha-cum-dum habitual do grupo.
Em “Muito Romântico”, composição de Caetano Veloso gravada de modo magistral por Roberto Carlos em 1977 (e, no ano seguinte, pelo próprio Caetano, no álbum Muito), Toni Garrido canta: “Eu não consigo entender sua lógica.” Bem, ele pode até não entender a lógica de alguém. No entanto, a lógica de Diversão não é assim tão difícil de entender: reler canções que estão impressas no inconsciente popular seria, em tese (reparem: em tese), o melhor atalho para voltar às paradas de sucesso.
O problema é que, às vezes, o tiro sai pela culatra.
Todas as versões perdem para os originais
Parece incrível mas, dentre todas as faixas de Diversão, não existe UMA releitura sequer que seja justificável. Rigorosamente todos os originais superam as versões do Cidade Negra - embora algumas, a bem da verdade, nem sejam tão ruins assim. E isso faz com que até mesmo a aprovação dos próprios fãs da banda seja uma incógnita. Enfim, além de tratar-se de uma empreitada de caráter questionável, a qualidade do produto em si... também é discutível.
A primeira faixa de trabalho é a versão apenas razoável de “Meu Coração”, que nada acrescenta à música de Pepeu Gomes - autor também presente no álbum em “O Mal É o que Sai da Boca do Homem”. E pensar que, há alguns anos atrás, o Cidade fez uma releitura até interessante de “Eu Também Quero Beijar”...
Mas o grupo tem pelo menos uma “façanha” para se orgulhar: é provável que nenhum outro artista tenha cometido tamanha atrocidade a uma canção de Chico Buarque. Os versos finais de “Minha História (Gesùbambino)”, versão de Chico para o original do italiano Lucio Dalla, foram alterados - de modo, no mínimo, dantesco - de “os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz / me conhecem só pelo meu nome de Menino Jesus” para “os reggueiros (sic) e loucos poetas de fumaça e de cruz/ me conhecem só pelo meu nome: Cidade Negra a a a a a a a”.
Seria cômico se não fosse constrangedor. Imaginem a cara do Chico Buarque ouvindo isso - acho que nem o Carlinhos Brown faria uma sacanagem dessas com o sogro. E ainda há quem diga que “uma erva natural não pode te prejudicar”. (Vale lembrar que até Zezé di Camargo & Luciano tiveram mais respeito por essa mesma canção - gravada pela dupla no ano passado. Tanto que o próprio Chico aceitou participar da faixa.)
O Cidade Negra possui bons instrumentistas e, na sua praia, já fez coisas interessantes, como “Onde Você Mora”, “Pensamento”, “A Estrada” e “Firmamento” (versão de “Wrong Girl To Play With”, do Yellowman). Atualmente, no entanto, está absolutamente perdido e precisa se encontrar urgentemente.
Não será, entretanto, gravando sucessos dos outros - e justamente após um disco ao vivo - que a banda retomará o seu caminho.
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