2007
Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 139 (dezembro de 2007).
Em seu quarto álbum, 'Formidável Mundo Cão', Jay Vaquer mantém o (bom) nível do disco anterior
Belas faixas como “O Tal do Amor” e “A Falta que a Falta Faz”, de Você Não me Conhece (2005), o terceiro álbum de Jay Vaquer, não eram meras obras do acaso: o quarto trabalho do cantor, Formidável Mundo Cão (EMI) mantém o bom nível do disco anterior.
Filho da cantora Jane Duboc com o guitarrista americano Jay Vaquer, que tocou com Raul Seixas - qualquer hora, essas apresentações tornar-se-ão dispensáveis - o jovem Jay participou do musical Cazas de Cazuza e, tantos nas rádios quanto na MTV, obteve boa execução da cortante “Cotidiano de um Casal Feliz”, faixa do já mencionado Você Não me Conhece.
Não bastasse ser dono de uma boa voz e produzir um pop rock com grande poder de captura, Jay escreve as letras mais interessantes surgidas no cenário em muito tempo. E esses fatores - a execução vocal, a fluência das canções e, claro, a narrativa - asseguram a singularidade do artista.
Primeiro single de trabalho, o rock “Longe Aqui”, conta a estória de uma menina depressiva que “sempre que se chateada, cortava os braços com gilete, para chamar a atenção. / Tinha carência afetiva - achava que seus pais gostavam mais do irmão” e que lidava pessimamente com as expectativas alheias em relação ao seu próprio futuro (“tinha que engravidar, criar, envelhecer morrer - como todos esperavam”). E tudo isso a levou a ter... hum, maus pensamentos: “Um dia, olhou pela janela e imaginou como seria o seu vôo até o chão. / Mas quando pensou na sujeira que ela causaria, / desistiu, foi ver televisão.” E o refrão relata o desfecho triste: “ela partiu para bem longe / pra distante, o bastante para suportar./ (...) Ela partiu... ao meio”
Se até agora você não ouviu “Longe Aqui”, ouvirá a qualquer momento: a música está no topo de quase todas as rádios do Rio de Janeiro - ainda que em uma versão light, disponível para download gratuito no site oficial de Jay Vaquer. (Só não caia na bobagem de, equivocadamente, se referir à canção como “Longe Daqui” (sic), para não despertar a ira do cantor em seu blog Fuzarca. Observe que a letra diz: “tão distante, parada no mesmo lugar.”)
A cruel (e hilária) “Estrela de um Céu Nublado” tem a participação de Meg Stock, vocalista do Luxúria. Destaque também para as sentidas “Preciso Poder” (“Preciso poder explodir nosso big bang / sempre que for necessário um novo começo / ou até mesmo pelo prazer da novidade”) e “Fomos” (“O que fomos não será definido por palavras fáceis que alguém dirá. / Não estará nos calendários, dicionários, / nem nas buscas do Google”). “Nera” tem intrincada melodia com ares MPBísticos. E “Por um Pouco de Paz (Crime do Desassossego)” também possui bom potencial radiofônico.
Para aqueles que estranharem a eventual acidez das letras de Vaquer - como a da caótica faixa-título, por exemplo -, fica o recadinho: essa é a realidade, criançada...
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