quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Bob Dylan: veja o filme e ouça o disco



CD
I'm Not There - Original Soundtrack (Sony & BMG, importado)
2007


Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 141 (abril de 2008). Disponível também no portal LET'S ROCK.



A trilha sonora de ‘I'm Not There’, cinebiografia de Bob Dylan, tem vida própria

Tendo estreado no Estados Unidos em novembro - no Brasil, três meses depois -, I'm Not There, cinebiografia de Bob Dylan, tem recebido críticas bastante positivas. E muito desse entusiasmo deve-se à maneira nada linear com que Todd Haynes decidiu contar a trajetória do bardo americano: o diretor estruturou a trama em várias estórias que não se relacionam entre si. O objetivo era retratar, ainda que de modo fragmentado, os momentos mais marcantes da vida daquele que é um dos mais influentes artistas do século XX.

Além disso, Haynes utilizou seis (!) atores para interpretar as várias facetas de Dylan. Entre eles, Richard Gere, Christian Bale (o homem-morcego de Batman Begins e do ainda inédito The Dark Knight), o recém-falecido Heath Ledger (o Coringa do já mencionado The Dark Knight) e até uma mulher, a atriz Cate Blanchett - que, curiosamente, foi quem mais se assemelhou fisicamente com o autor de “Blowin' In The Wind”. E tão interessante quanto o filme é a sua trilha sonora, apresentada em CD duplo.


A faixa-título aparece em duas versões


Para a gravação do álbum, foi criada, inclusive, uma banda, a Million Dollar Bashers. Arregimentada por Lee Ranaldo (Sonic Youth), a MDB tem entre seus integrantes Tom Verlaine (do Televison), Steve Shelley (também do Sonic Youth), Tony Garnier (baixista de Dylan) e Nels Cline (do Wilco). O grupo toca em cinco músicas, cada qual com um vocalista diferente - como, por exemplo, em “Cold Irons Bound” com o próprio Verlaine; “Maggie's Farm”, na voz de Stephen Malkmus (ex-Pavement); e “All Along The Watchtower” (imortalizada por Jimi Hendrix), na companhia de Eddie Vedder, do Pearl Jam.

A banda Calexico desempenha função semelhante no CD, servindo de acompanhante para, entre outros, o veterano Willie Nelson (“Señor (Tales of Yankee Power)”) e para Charlotte Gainsbourg (“Just Like a Woman”).

A faixa-título está presente em duas versões: uma na voz do próprio Bob Dylan, acompanhado pela The Band - gravação somente agora lançada com a autorização do autor (até então, só havia sido editada no “bootleg” The Genuine Basement Tapes, vol 2); e a outra, trazida para o universo do supracitado Sonic Youth.

Destaque também para a versão de “Simple Twist of Fate”, gravada por Jeff Tweedy, líder do Wilco, grupo considerado um dos maiores expoentes do chamado alt.country - e, portanto, familiarizado com a sonoridade de Dylan. Jack Johnson consegue se sair bem em “Mama You've Been on My Mind/A Fraction of Last Thoughts on Woody Guthrie”. E o mesmo vale para Mark Lanegan em “The Man in the Long Black Coat” e, especialmente, para o menino Marcus Carl Franklin (um dos seis “Dylans” do filme), com uma segurança típica de gente grande em “When the Ship Comes In”.

I'm Not There é um caso raro de trilha que sobrevive independentemente da película, resultando em uma boa opção para se ouvir abordagens diferentes da obra de Bob Dylan. E vale lembrar que, para promover o seu mais recente álbum de inéditas, o ótimo Modern Times (de 2006), o lendário músico tem três shows de sua Never Ending Tour agendados para março no Brasil: dois em São Paulo (no Via Funchal) e um Rio de Janeiro (no Rio Arena).

The Police: ‘Synchronicity Concert’ é finalmente lançado em DVD


DVD
Synchronicity Concert (Universal)
2008

Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 141 (abril de 2008).
Disponível também no portal LET'S ROCK.


Aproveitando a bem-sucedida vinda do Police ao Brasil, gravadora lança inédito registro audiovisual de turnê do trio

Em resposta ao CD Zero da Sony & BMG, a Universal criou a série MusicPac, que disponibilizou CDs de áudio nacionais e internacionais em embalagens digipack, com preços promocionais. O aparente êxito da empreitada fez com que a gravadora investisse também na reedição de DVDs. E, entre os títulos apresentados, existe um que merece atenção especial: Synchronicity Concert, do Police. Gravado em novembro de 1983, em Atlanta - e lançado no exterior em 2003 -, o trabalho permanecia inédito em DVD no Brasil.

A turnê promovia o quinto e mais bem-sucedido trabalho da banda, Synchronicity - ironicamente, também o último -, que continha hits como “King of Pain”, “Wrapped Around Your Finger”, “Tea In The Sahara” e o clássico “Every Breath You Take”.

Aliás, das onze faixas de Synchronicity, apenas três não foram executadas: a ótima “Murder By Numbers” (provavelmente pela complexidade de seu arranjo) e as dispensáveis “Miss Gradenko” e “Mother”. O set list ainda trazia sucessos anteriores como “Walking On The Moon”, “Message In a Bottle”, “De Do Do Do De Da Da Da” e “So Lonely”, entre outros.

A introdução de “Walking In Your Footsteps” tem a peculiaridade de ser pontuada por uma indígena flauta de pã, exatamente como Sting tem feito durante a atual Reunion Tour. E a fusão “Can't Stand Losing You/ Reggatta de Blanc” que quase pôs o Maracanã abaixo também já aparecia nesse show.

Entretanto, apesar do sucesso da turnê, pode-se dizer que esse não foi o melhor momento ao vivo da carreira do grupo. Explico: a técnica instrumental de Stewart Copeland, Andy Summers e Sting já era indiscutível na ocasião e o repertório do trio, irrepreensível. Contudo, sabe-se lá Deus por que, o Police decidiu colocar no palco... três saltitantes vocalistas femininas. Bem, nada contra backing vocalistas - sobretudo se forem... , bem apessoadas. Mas o fato é que as intervenções das meninas acabaram colocando, digamos... um “glacê” absolutamente desnecessário nos arranjos habitualmente enxutos do grupo.

De qualquer forma, Synchronicity Concert é apresentado com opções de áudio 2.0 e 5.1. Nos extras, quatro canções em multi-ângulo (“Synchronicity II”, “Roxanne”, “Invisible Sun” e “Don't Stand So Close To Me”), trailer da turnê e entrevista com os três integrantes, concedida em 1984 em Melbourne, Austrália. Trata-se, portanto, de uma memorabilia essencial para os fãs do grupo.

Pixies revisitado

CD
Bluefinger (Deckdisc)
2007


Ex-vocalista volta a assinar como Black Francis, além de retornar à sonoridade de seu extinto grupo


Para aqueles que sentem saudade do Pixies, a notícia é boa: pela primeira vez, após doze discos solo, o ex-vocalista do quarteto de Boston, Frank Black, volta a assinar como Black Francis, como nos seus tempos de banda. E isso não foi por acaso: em seu novo trabalho, Bluefinger (que saiu no exterior em 2007 e recebe agora versão nacional da Deckdisc), o rotundo músico emula a sonoridade de sua extinta banda, um dos nomes mais influentes do rock alternativo americano, com fãs ilustres como Kurt Cobain.

Reaparecem com toda a força as guitarras distorcidas, a voz gutural e os backing vocals femininos (agora a cargo de Violet Clark, atual esposa de Francis), marcas registradas do som do Pixies. A pancadaria melódica começa logo na primeira faixa, “Captain Pasty”, e prossegue em “Your Mouth Into Mine”, “Threshold Apprehension” e na ensandecida “You Can't Break A Heart And Have It”. Mas o disco também tem pop (“She Took All The Money” e “Lolita”), blues (“Test Pilot Blues” e a faixa-título) e até country (“Angels Come To Comfort You”), tudo nos conformes.

É bem provável que Francis jamais realize sozinho um álbum como o clássico Doolittle, de 1989, que trazia faixas do quilate de “Monkey Gone To Heaven”, “Wave Of Mutilation”, “There Goes My Gun” e a infecciosa “Here Comes Your Man”, entre outras. Mas, se compararmos com boa parte do rock contemporâneo, Bluefinger exala frescor e consegue manter um bom nível.

Em entrevistas para divulgação do álbum, Black Francis declarou que adoraria ver o Pixies novamente em estúdio. A baixista Kim Deal, atualmente no Breeders, além de rechaçar a idéia, acusou Francis de só mencionar uma possível volta do grupo quando lança disco novo, como “tentativa de autopromoção”. O quarteto fez uma turnê mundial em 2004 (tendo realizado, inclusive, uma apresentação antológica no Curitiba Pop Festival), mas o último álbum de inéditas, Trompe Le Monde, foi editado em 1991.

The Police: somos História



Show

The Police - Live in Rio
Data: 08 de dezembro de 2007
Local: Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro



Police concretiza o que todos imaginavam: uma apresentação antológica no Estádio do Maracanã

Antes de qualquer coisa, é necessário considerar as circunstâncias: o Police, no auge do sucesso, após a Synchronicity Tour, entrara em um recesso do qual não retornaria. As brigas internas foram o principal motivo da ruptura, mas some-se a isso o desejo de liberdade artística por parte de Sting.

Quando indagado sobre um possível retorno do grupo, o vocalista era taxativo: “Uma volta do Police? Sem mim!”. Ou pior: “se um dia eu voltar para o Police, será o meu certificado de insanidade.” Enfim, mesmo com os três integrantes vivos, a possibilidade de um retorno do Police era tão remota quanto uma volta... dos Beatles.

Essas adversidades justificaram o espanto do planeta diante da apresentação do trio na entrega do Grammy de 2007. E o espanto foi ainda maior no dia seguinte, quando foi feito o anúncio de um giro mundial do grupo. Ninguém aqui no Brasil, contudo, esperava que a turnê pudesse passar por essas plagas. Portanto, quando foi confirmado de que haveria uma única - sim, apenas uma - apresentação em terras brasileiras, no Estádio do Maracanã, era de esperar que seria algo singular. Não deu outra.

E assim, 74 mil pessoas estiveram presentes em um evento cujo ingresso mais barato custava R$ 160,00. Mas o investimento valia a pena.



Paralamas mostram que a escolha foi acertada


Seria uma enorme injustiça resumir em duas ou três linhas o show de abertura realizado pelos Paralamas do Sucesso. Quando os telões se acenderam (sim, o Police permitiu que os Paralamas utilizassem os telões) e os acordes iniciais de ancestral “Vital e Sua Moto” se fizeram ouvir, a reação do público foi imediata. E avassaladora.

Com petardos como “Trac Trac”, “Alagados”, uma pesadíssima “Mensagem de Amor” e baladas como “Lanterna dos Afogados” e “Cuide Bem do Seu Amor”, o trio simplesmente estraçalhou, realizando um show que - sem “patriotada” - nada deveu aos donos da festa. Aliás, pela identificação com o Police no início da carreira, os Paralamas eram a banda mais apropriada para estar ali naquele momento.

Além disso - independentemente da questão da influência -, a banda brasileira, ao vivo, continua sendo uma verdadeira máquina. João Barone, todos sabem, é um monstro das baquetas. Bi Ribeiro recebeu elogios até mesmo de Sting (o inglês visitou o camarim e teria dito ao baixista: “Você é o melhor. E sabe disso”). E Herbert Vianna parece aprimorar cada vez mais a sua destreza na guitarra.

O líder dos Paralamas, aliás - pelo autor que é, e pela maneira digna que vem enfrentando as seqüelas do terrível acidente que vitimou sua esposa, Lucy Vianna -, merecia esse momento de consagração. Digo mais: a despeito de seus problemas de locomoção, Herbert Vianna (mesmo sem jamais ter sido um grande “cantor”, na acepção da palavra) é muito mais intenso e competente em cima de um palco do que muito vocalista brasileiro que caminhe normalmente.

Em um repertório de quatorze músicas bem escolhidas (e contando com a participação do guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, em seis), os PDS pareciam em paz com o seu passado e orgulhosos de sua trajetória. E, devido ao tempo reduzido, ainda se deram ao luxo de deixar de fora sucessos como “Me Liga”, “Uns Dias” e a tocante “Busca Vida”, entre outras.

Não resta dúvida: os Paralamas do Sucesso são uma instituição do rock nacional. E não se fala mais nisso.



Na terceira música, a platéia já estava na mão do Police


Uma hora após o show dos Paralamas, as luzes do estádio foram apagadas e - como tem acontecido nas demais apresentações do Police ao redor do mundo - os amplificadores começaram a tocar a poderosa “Get Up, Stand Up”, na gravação original de Bob Marley & The Wailers. Ao término da canção, o kit de bateria de se ergue do chão e Stewart Copeland soa um gongo. O guitarrista Andy Summers surge pela direita do palco, mandando o riff mortífero de “Message In a Bottle”. Sting, então, entra pela esquerda como quem “anuncia um assalto”, portando um (bastante adequado) contrabaixo todo detonado.

Outro riff célebre anunciou a canção seguinte, a áspera “Synchronicity II”. Os telões, então, se acenderam, oscilando furiosamente nas cores azul, vermelho e amarelo da capa do disco homônimo. E o encadeamento dessa música com a anterior ocorreu de modo tão natural que ambas pareciam gêmeas siamesas.

A linda “Walking On The Moon”, composta por um apaixonado Sting para a sua primeira namorada - Deborah Anderson, falecida no final dos anos 70, quando ele já estava em seu primeiro casamento - foi o momento de “acalmar os ânimos”. A resposta do público aos improvisos da canção deixou claro: na terceira música, a platéia já estava na mão do trio. Por falar em trio: durante o show inteiro, permaneceram apenas os três músicos no palco - sem tecladista, percussionista, vocalistas, nada disso. E logo se percebeu que eles simplesmente... bastavam-se.

O vocalista, gentil, se dirigiu à platéia lendo algumas palavras em português (lembrando bastante a entonação do falecido Papa João Paulo II) e cantou quatro faixas de Zenyatta Mondatta (1980), o ótimo terceiro disco da banda: “Voices Inside My Head”, “When The World Is Running Down You Make The Best Of What's Still Around”, “Don't Stand So Close To Me” e a politizada “Driven To Tears” (cuja letra fala da fome em Biafra, território pertencente à Nigéria).

Seguiram-se então dois lados B de Outlandos d'Amour (1978), o primeiro álbum do trio: “Hole In My Life” e “Truth Hits Everybody”, recebidas pelo público com respeito - mas com pouco entusiasmo. “Every Little Thing She Does Is Magic” foi um momento, com o perdão do simplismo... hum, mágico. Mesmo sem os teclados da gravação original, a canção foi executada com a energia de sempre.



'Reggatta de Blanc': transe coletivo

Na sinuosa “Wrapped Around Your Finger”, que ganhou ares de bossa, Stewart Copeland se deslocou da percussão para a bateria e, por fim, para o xilofone, em um show à parte. “De Do Do Do De Da Da Da” foi um dos pontos altos do show, com seu refrão cantado a plenos pulmões pelo público.

No segundo momento politizado da noite, “Invisble Sun” (“não quero jamais fazer parte de uma estatística governamental”, diz a amarga letra), os telões ficaram em preto-e-branco, exibindo imagens da miséria no continente africano. Curioso foi ver Sting, na introdução de “Walking In Your Footsteps”, tocando um instrumento indígena chamado flauta de pã. Bem, já na Synchronicity Tour, última turnê do grupo, ele fazia a mesma coisa. Mas que muita gente deve ter pensado que era alguma menção ao cacique Raoni, ah, isso deve...

O cantor emendou à “Can't Stand Losing You” a bombástica instrumental “Regatta de Blanc”, faixa-título do clássico segundo álbum da banda, de 1979. E a reação da platéia a esse número só poderia ser definida como... um transe coletivo. Um momento para chorar de alegria. Uma incendiária “Roxanne” encerrou a primeira parte do show. O trio retornou ao palco com “King Of Pain”, belíssima, seguida da sempre eficaz “So Lonely”.

Ficou claro que a banda é como um triângulo em que todos os vértices têm a sua importância. Sting, além de artífice das belas canções do grupo, é um grande baixista e um front man seguro e carismático. Andy Summers, com suas inspiradas texturas de guitarra, confere um charme todo especial à sonoridade do trio. E Stewart Copeland... esse dispensa comentários. É simplesmente uma força da natureza.



“Every Breath You Take”: uma dádiva Divina

Quanto à “Every Breath You Take”... Bem, o indivíduo que compõe uma música como essa (certamente uma das mais bonitas do cancioneiro pop mundial ever) pode ter a convicção de que recebeu uma dádiva Divina. Quase um quarto de século após o seu lançamento, a canção que fala do sujeito que foi dispensado pelo seu objeto de desejo, tornando-se obsessivo depois disso - e que acabou sendo percebida pela maioria como uma “musiquinha romântica” -, tem a sua beleza preservada. Na terceira parte, o momento mais forte, em que Sting aumenta o tom e canta “Since you've gone I've been lost without a trace”, pessoas mais fenfíveis eram capazes de se emocionar - esse repórter incluso.

Apesar da atuação impecável, houve quem criticasse a “desaceleração” de uma música aqui, um improviso de jazz ali, não-sei-o-que-mais acolá... De fato, algumas canções foram apresentadas com um andamento mais lento. Mas isso tem explicação: em primeiro lugar, eles já não são, obviamente, os jovenzinhos de outrora.

Segundo, nesses anos pós-Police, o trio teve, isoladamente, muitas experiências musicais. Sting expôs a sua paixão antiga pelo jazz; Summers andou tocando até com Robert Fripp, do King Crimson; e Copeland envolveu-se com trilhas de cinema - a do filme O Que É Isso, Companheiro?, por exemplo, é de sua autoria. Portanto, para que essa empreitada fosse minimamente verdadeira, eles deveriam mostrar os músicos que são hoje.

De qualquer forma, no grand finale com “Next To You”, que abre Outlandos d'Amour, eles carregaram nas tintas e tocaram com espontaneidade e energia punks condizentes com a gravação original.

As ausências do roteiro foram “Bring On The Night” (que sempre funcionou bem ao vivo), “Tea In The Sahara” e “Spirits In The Material World” (para a qual a banda não conseguiu uma solução satisfatória de arranjo).



O futuro da banda é uma incógnita


Após o término da turnê, o futuro do trio é uma incógnita. Não há, a princípio, nenhuma hipótese de um (arriscadíssimo, mas muito bem-vindo) álbum de inéditas. Na verdade, não se comenta sequer sobre um possível registro da turnê - ainda que, na rua Uruguaiana, Centro do Rio, seja facílimo encontrar, em DVD, a íntegra da apresentação, gravada através da transmissão do canal Multishow.

Pode ser que, no final das contas, tudo volte a ser como d'antes no quartel de Abrantes - e essa tenha sido tão somente uma turnê comemorativa, sem nenhum desdobramento. Ainda assim, teremos que ser eternamente gratos à bendita “insanidade” de Sting. As 74 mil pessoas que estiveram no Maracanã no dia 08 de dezembro de 2007 (assim como as milhões que assistiram a esse espetáculo em vários cantos do planeta) presenciaram um momento único, histórico.

E, daqui há alguns anos, teremos mais essa para contar para os nossos netinhos.

Paulinho da Viola: velha intimidade


CD/DVD
Acústico MTV (Sony & BMG)
2007

Resenha publicada originalmente no TOM NETO.COM.


Com seu 'Acústico MTV', Paulinho da Viola realiza um dos melhores trabalhos de 2007

Ainda que muitos considerem a série Acústico MTV um formato esgotado, eis que a emissora paulistana tira um belo coelho da cartola, com o lançamento - em CD e DVD, como é de praxe - do título dedicado a Paulinho da Viola, via Sony & BMG.

A bem da verdade, um acústico de Paulinho tem um quê de redundância, visto que a música de Paulinho jamais foi elétrica. Mas o projeto serve para jogar luz e dar visibilidade a esse que, sem dúvida, é um mestre do samba.

Com a elegância de sempre, Paulinho da Viola apresenta um repertório muito bem escolhido, com sucessos como “Eu Canto Samba”, a politizada “Sinal Fechado” (que fala, de modo cifrado, do silêncio imposto ao país pela ditadura militar), “Coração Leviano”, “Argumento”, “Dança da Solidão” e outros. Entre as inéditas, destaque para “Talismã”, parceria de Paulinho com Marisa Monte e Arnaldo Antunes, que já nasceu clássica.

Seguindo o mesmo raciocínio, seria interessante que a MTV realizasse, com toda pompa e circunstância a que tem direito, um acústico (sem ironia) com ninguém menos que o papa da bossa nova, João Gilberto.

Natal sem Roberto Carlos



Pela primeira vez em quatro décadas, o Rei deixa de lançar o seu tradicional disco de fim de ano

Por essa, ninguém esperava: pela primeira vez em quarenta anos (!), Roberto Carlos deixa de lançar o seu (digam o que disserem) sempre aguardado álbum anual. Mesmo nos momentos mais dolorosos da vida do Rei, sempre houve algum lançamento. Foi o caso de 30 Grandes Sucessos, compilação editada em 1999, ano em que faleceu Maria Rita, esposa do cantor.

Se tudo transcorresse dentro da normalidade, RC teria lançado em dezembro último, em CD e DVD, Roberto Carlos En Vivo, trazendo o registro das apresentações realizadas em Miami nos dias 24 e 25 de maio de 2007.

É uma estranha coincidência que isso tenha ocorrido justamente no ano em que Roberto Carlos foi notícia em todos os veículos - mas não somente por sua música. O Rei, todos sabem, ficou indignado com a publicação de sua biografia não-autorizada, Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César de Araújo e acabou entrando em um acordo com a editora que publicou a obra (e não “mandou retirar o livro das prateleiras”, como foi noticiado). Ficou acertado que a comercialização do livro seria descontinuada, evitando, dessa forma, uma ação judicial que - considerando a lei brasileira de copyright - seria favorável a RC.

Mas a mídia preferiu colocar RC uma situação desagradável, atribuindo-lhe uma certa... hum, intransigência. Um famoso escritor escreveu um artigo em um jornal paulistano, condenando a decisão de Roberto e classificando sua atitude como “infantil”. E foi além: afirmou também que “a vida particular de uma pessoa pública não pertence a ela”. Esqueceu-se, contudo, de acrescentar ao texto o seu endereço residencial e os números de seus telefones fixo e celular.

, ele não disse que uma pessoa pública não possui vida privada?


CD e DVD estão previstos para fevereiro

O lançamento de Roberto Carlos En Vivo, no entanto, não foi descartado. A previsão é que CD e DVD cheguem ao mercado agora em fevereiro, aproveitando a data de St. Valentine's Day (o Dia dos Namorados no hemisfério norte). No repertório, sucessos do artista vertidos para a língua hispânica - como “Detalles (Detalhes)”, “Desahogo (Desabafo)” e “Que Será De Ti (Como Vai Você)”, entre outros -, além de clássicos do cancioneiro sul-americano, como “Aquarela do Brasil” e “El Dia Que Me Quieras”.

O site oficial de RC, ao anunciar que não haveria disco novo do Rei esse ano, informou que os lançamentos de Roberto Carlos em 2007 seriam as luxuosas caixas Pra Sempre - Em Espanhol, volumes I e II, produzidas pelo pesquisador Marcelo Fróes, também editor do INTERNATIONAL MAGAZINE. E essas, de fato, foram as únicas alternativas que para que a grande maioria dos lares brasileiros pudessem ouvir um novo produto do cantor durante a ceia natalina.

E certamente deve ter havido quem preferisse ficar sem nozes ou rabanadas...