segunda-feira, 28 de maio de 2007

Julio Iglesias no idioma de Shakespeare

CD Romantic Classics (Sony BMG)
2006

Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 130 (março de 2007).



O galã da menop... ops, cantor espanhol se aventura em sucessos consagrados em inglês. E não é que, dessa vez... convence?


Poucos artistas na música mundial geram tanta controvérsia quanto Julio Iglesias. O cantor espanhol (nascido em Madrid, em 1943) já vendeu, em toda a sua carreira mais de 100 milhões de discos e possui enorme público, formado especialmente de senhoras de meia-idade - o que lhe valeu o lisonjeiro apelido de "galã da menopausa". Por outro lado, Iglesias conta também com um vasto exército de detratores, que não toleram seu repertório ultra-romântico, seus arranjos (invariavelmente pasteurizados), sua peculiar maneira de cantar e seus maneirismos no palco.

E, dessa vez, Iglesias apresenta Romantic Classics (Sony BMG), um álbum apenas com canções em inglês. Na verdade, não é a primeira vez em que ele se aventura em algo assim: Crazy (de 1994, no qual gravou "Fragile", de Sting) trafegava na mesma seara. Mas agora as circunstâncias são outras.

Consta que esse disco era um antigo desejo do falecido pai do cantor, manifestado inclusive na última conversa telefônica entre ambos, após comentários sobre uma partida do Real Madrid. Após o falecimento de seu pai, o cantor decidiu prestar-lhe uma homenagem, colocando o projeto em prática.

Malandro que só, Julio Iglesias - ainda que muito distante de possuir um inglês brilhante - cometeu um trabalho com pouquíssimas probabilidades de erro: escolheu um set list de bem-sucedidas baladas, a maioria delas com inúmeras regravações, como "The Most Beautiful Girl" (já registrada por Ray Conniff, The Isley Broters, Perry Como e Tom Jones), a estupenda "This Guy's in Love with You" (de Burt Bacharach) e a delicada "How Can You Mend a Broken Heart", dos Bee Gees (regravada em 2004 pelo canadense Michael Bublé) que, aliás, tem a sua beleza preservada.


Cinco sucessos de FM dos anos 80 integram o repertório

O álbum inicia no clima country de "Everybody's Talking", já gravada por Deus-e-o-mundo - de Harry Nillson a B.J. Thomas, passando por Tony Bennett, Bill "Ain't No Sunshine" Withers, e até Roberto Carlos (numa interessante versão em português co-escrita com Erasmo em 1987). E Iglesias aproveita para registrar também "Always on My Mind", célebre na voz de Willie Nelson e Elvis Presley. E o espectro do Rei do Rock aparece também em "It's Impossible", de Armando Manzanero.

Numa possível tentativa de soar mais... hã... jovial, Iglesias montou quase metade do repertório com sucessos de FM dos anos 80, com versões corretas de "I Want to Know What Love Is" e "Waiting for a Girl Like You" (ambas do grupo Foreigner), "Drive" (The Cars), além da mediana releitura de "Careless Whispers" (a gravação original de George Michael permanece imbatível).

Já a melosa "Right Here Waiting", de Richard Marx (a faixa mais fraca do álbum), ficou irreconhecível sem a sua indefectível frase de piano da introdução.

Romantic Classics não fará com que os desafetos de Julio Iglesias mudem de idéia a seu respeito. Entretanto, se esse CD vier a tocar em um restaurante durante o horário de almoço... certamente não chegará a embrulhar o seu estômago. Pode acreditar.

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