Download gratuito Hate
2006
Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 130 (março de 2007).
DJ brasileiro dá a sua "resposta" a Love, de Sir George Martin
Love, o mashup (recriação musical por meio de adição de trechos de outras músicas) concebido por Sir George Martin e seu filho Giles como trilha sonora para a mais recente turnê mundial do Cirque de Soleil, trouxe desapontamento ao DJ e produtor brasileiro Fritz Von Runte. Por considerar que pai e filho não "ousaram como poderiam", Von Runte decidiu dar a sua "resposta".
E assim surgiu Hate ("Ódio"), o contraponto à obra dos Martin, cujo download gratuito pode ser feito (pelo menos por enquanto - porque é absolutamente improvável que o espólio dos Beatles permita algo dessa natureza por muito tempo) em http://www.thebeatleshate.com/index_bra.html.
Musicalmente (atenção: musicalmente), devemos reconhecer que o resultado é até interessante, pelo fato de o DJ - que afirma ser autor de mais de 80 mashups - ter adicionado seqüenciadores e efeitos inusitados às canções do quarteto de Liverpool, criando em seus remixes uma atmosfera nova.
O problema é que Von Runte abordou a obra dos Beatles como quem entra na casa da Mãe Joana - ou seja, sem pedir a menor licença. Além disso, ao contrário de George Martin e seu filho (que, na concepção de Love, utilizaram exclusivamente fonogramas dos Fab Four - obtendo um resultado, diga-se de passagem, estupendo), o DJ inseriu sons de outras procedências em suas colagens.
Não satisfeito, trocou até (pasmem!) os nomes das músicas: "Strawberry Fields Forever" se transformou em "War Fields Forever"; "Drive My Car" passou a ser "Drive My War"; "You've Got to Hide Your Love Away" agora se chama "You've Got to Hide Your Hate Away"; "Come Together" virou "Bomb Together", e por aí vai.
O que é isso, companheiro?
"Elegia ao ódio"?
Deixando agora a música de lado - apresento duas questões para que os leitores do IM - INTERNATIONAL MAGAZINE reflitam da maneira que julgarem mais conveniente: a) ainda que Von Runte não tenha utilizado parte da obra dos Beatles para fins comerciais - e, por essa razão, diz "não temer possíveis sanções" -, será que é correto manipular o maior cancioneiro popular do mundo assim, sem solicitar qualquer tipo de autorização?; b) não se trata de bancarmos os bonzinhos, mas - ainda que o sentimento de ira seja inerente à imperfeição que caracteriza os seres humanos - será que o mundo, da maneira que se apresenta, necessita de uma elegia ao ódio - ainda que seja contra a guerra?
Ou então - o mais demolidor dos argumentos - será que um militante pacifista como John Lennon (que um dia escreveu uma canção chamada "Give Peace a Chance", entoada por uma multidão em frente à Casa Branca como forma de protestar contra a Guerra do Vietnã) concordaria que algumas de suas canções fossem abordadas... dessa forma?
Tirem as suas próprias conclusões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário