sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Michael Bublé: como nos velhos tempos


CD Call Me Irresponsible (Warner)
2007


Resenha publicada originalmente no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 134 (julho de 2007).



Michael Bublé permanece firme em sua opção de ser um crooner à moda antiga para as novas gerações

A estratégia é simples: um cantor jovem - e que realmente canta bem - sedimenta o seu repertório entre grandes standards americanos (em especial, os de Frank Sinatra), algumas poucas canções inéditas e desprezo absoluto pela estética do rock - mas não pelos compositores do gênero (como Eric Clapton, por exemplo). Essa é a fórmula do sucesso de Michael Bublé, que estourou mundialmente em 2004 com a impecável versão de "You'll Never Find Another Love Like Mine". E o canadense chega ao seu terceiro álbum de estúdio, Call Me Irresponsible, editado pela Warner.

Com o respaldo de mais de 11 milhões de cópias vendidas em todo o planeta, o jovem artista (de 31 anos) não viu razões para mexer em time vencedor. Dos clássicos eternizados por The Voice, Bublé escolheu dessa vez "That's Life", "The Best Is Yet To Come", "Dream", "I've Got The World On A String" e a faixa título - todos arranjados à moda antiga, sem invencionices.

Um suave sabor latino dá o tom em "It Had Better Be Tonight (Meglio Strasera)", de Henry Mancini. E o cantor ainda aproveita para reler, de maneira competente, "Me And Mrs. Jones", grande sucesso de Billy Paul nos anos 70, e "I'm Your Man" de Leonard Cohen. "Always on My Mind", já gravada por meio mundo, recebe do intérprete um registro suave, no melhor estilo fox.

Outro bom momento é "Wonderful Tonight", clássico do supracitado Eric Clapton, transformada em bossa nova na companhia de Ivan Lins, que cantou em bom português. É bem provável que God (que se tornou fã de João Gilberto depois de assistir a um concerto deste em Londres) fique satisfeito.

Mas o ouvinte atento perceberá sutis diferenças em relação aos trabalhos anteriores do artista. Uma delas é a participação do grupo Boyz II Men, responsável pelos backing vocais em "Comin' Home Baby", já gravada por Quincy Jones, Sérgio Mendes, Mel Tormé e muitos outros. Outra é "Everything", onde a sonoridade de big band foi deixada de lado em prol de uma formatação pop camerística. Inédita e autoral, a canção (escolhida como o primeiro single do álbum) possui refrão eficiente, bela melodia e tem obtido boa execução nas chamadas "FMs adultas" do Brasil. E assim, lentamente, o cantor começa a criar a sua própria cara.

O trabalho de Michael Bublé não prima exatamente pela originalidade. E muito menos pela modernidade. Mas será que alguém se importa com isso? Pelo menos, bom gosto não lhe falta.

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