2007
Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 139 (dezembro de 2007).
Robert Plant une forças à cantora de bluegrass Alison Krauss e acerta em cheio em 'Raising Sand' , disco de acento campestre
A bela Alison Krauss é uma cantora americana de bluegrass (gênero tradicional do sul dos EUA, espécie de “primo interiorano” do blues). Já Robert Plant... Bem, esse dispensa apresentações, não? E ocorre que, a despeito de toda a expectativa envolvendo a volta do Led Zeppelin, Plant une forças a Krauss para gravar Raising Sand (Universal), que apresenta um forte sotaque “caipira” (na melhor aplicação do termo).
(A atual empreitada de Robert Plant possui, nesse momento, uma leitura dúbia: se, por um lado, o retorno de sua antiga banda potencializa, indiretamente, a sua visibilidade enquanto artista solo, por outro lado Raising Sand tem um descompromisso absoluto com a sonoridade majoritariamente trovejante do Led - e também com qualquer som “moderninho” do mainstream.)
A idéia de um trabalho em dupla surgiu quando Plant e Krauss se conheceram em 2004, durante uma homenagem a Leadbelly, um dos pioneiros da música popular americana, no Rock'n'Roll Hall Of Fame. Na ocasião, chegaram a cogitar a possibilidade de gravar um disco-tributo ao autor de “Midnight Special” e “Goodnight Irene”. Somente três anos depois é que eles conseguiram uma brecha em suas respectivas agendas. E daí saiu um projeto mais diversificado.
Produzido por experiente T Bone Burnett (que já pilotou álbuns de Elvis Costello, Roy Orbison, Wallflowers, Counting Crows e outros), Raising Sand apresenta antigas faixas obscuras de country (“Let Your Loss Be Your Lesson”) e blues (“Fortune Teller”, gravada pelos Rolling Stones no álbum ao vivo Got Live If You Want It, de 1966), havendo espaço até para um discreto rockabilly (“Gone Gone Gone (Done Moved On)”, dos Everly Brothers). E o resultado é pra lá de positivo.
A primeira faixa, o blues “Rich Woman”, com suas guitarras muito bem gravadas, já causa uma ótima impressão. E é impossível ficar imune à delicadeza de “Killing the Blues” e “Through The Morning, Through The Night” (essa última é cantada solitariamente por Krauss, que dá um verdadeiro show).
Plant ainda deu-se ao luxo de gravar uma faixa coerente com o som étnico que caracteriza os seus álbuns solo: “Nothin'” não soaria deslocada em seus trabalhos recentes. Da mesma forma, um leve sabor celta é perceptível em “Sister Rosetta Goes Before Us” e em “Trampled Rose”, de Tom Waits. Da dupla Page & Plant, só foi incluída apenas uma canção: a boa “Please Read The Letter”, originalmente lançada em Walking Into Claksdale, álbum que a dupla gravou em 1998.
Alguns podem estranhar o registro vocal suave de Robert Plant em algumas faixas. Mas é importante lembrar que o Zeppelin não era só virulência: o grupo também era capaz de conceber - e de modo bastante convincente - canções delicadas como “The Rain Song” e “Going To California”.
Gravado entre Nashville e Los Angeles, Raising Sand, para um trabalho extracurricular, é um disco surpreendente. E que irá figurar em qualquer lista (decente) dos melhores discos de 2007. Fato.