Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 143 (junho de 2008).
Coletânea tenta alçar as (boas) faixas recentes do ex-vocalista dos Smiths à condição de clássicos
Nos primeiros anos após a dissolução dos Smiths – a banda inglesa se separou em 1987 –, Morrissey editou álbuns apenas regulares, como Viva Hate, seu primeiro disco solo, de 1988, e Kill Uncle, o segundo, de 1991. Mesmo assim, Mozz sempre conseguiu emplacar hits eventuais como “Suedehead”, o single “The Last Of The Famous International Playboys” e a tristonha “Everyday Is Like Sunday” (“Todos os dias parecem domingos./ Todos os dias são silenciosos e cinzentos”). Nada, no entanto, que se comparasse ao seu antigo grupo.
Em seu terceiro álbum, o bardo de Manchester parecia ter reencontrado o caminho do gol. O surpreendente Your Arsenal, de 1992, foi bem recebido pela crítica e sinalizava uma reabilitação – impressão confirmada nos trabalhos seguintes, Beethoven Was Deaf (gravado ao vivo em 1993) e Vauxhall And I (de 1994).
O marasmo, no entanto, retornaria em Southpaw Grammar (de 1995), persistindo em Maladjusted (de 1997). Parecia claro: o artífice de pérolas dos Smiths como “Ask” e “There Is A Light That Never Goes Out” havia se tornado um has been.
Entretanto, após sete anos de silêncio, Morrissey conseguiu aquilo em que ninguém mais acreditava: sua redenção artística. Em You're The Quarry, editado pela modesta Attack/Sanctuary, o cantor ressurge ácido como há muito não se via, sem demonstrar o menor sinal de cansaço. O mesmo vale para o seu disco mais recente, Ringleader Of The Tormentors, de 2006, gravado em Roma, cidade em que reside atualmente.
E, bem, todos sabem que, no mercado fonográfico, um momento propício de uma artista sempre pede uma... Sim, exatamente: uma coletânea. Justamente por isso, acaba de chegar ao Brasil, via Universal Music, a compilação Greatest Hits.
Lançado também em vinil duplo (o rótulo do CD até emula, jocoso, o design de uma antiga bolacha), o álbum, obviamente, não deixa de trazer os primeiros sucessos solos do cantor: as supracitadas “Suedehead”, “The Last Of The Famous...” e “Everyday is Like Sunday”, além da bela “The More You Ignore Me, The Closer I Get”. Mas acaba ficando só nisso. Nada de “We Hate It When Our Friends Become Successful”, “Hold On To Your Friends” ou “November Spawned A Monster”. A intenção desse Greatest Hits, na verdade, é outra.
O repertório desse disco é formado basicamente por fonogramas dos dois álbuns pós-ressurreição de Morrissey, como a ótima “Irish Blood, English Heart”, “You Have Killed Me”, “In The Future When All's Well” e “The Youngest Was The Most Loved”, entre outras.
Morrissey, na verdade, já teve três outras coletâneas dignas de registro (e, sinceramente, bem mais atraentes do que essa recém-lançada): Bona Drag, interessante reunião de singles e lados B, editada em 1988; a boa Suedehead: The Best Of..., de 1997; e The Best Of..., de 2001, que possui duas faixas a mais do que a anterior. De modo que, se você tem uma das três – preferencialmente a terceira – e também os dois últimos álbuns de estúdio do cantor, os já mencionados You're The Quarry e Ringleader Of The Tormentors, poderia muito bem dispensar esse Greatest Hits.
Só que ninguém joga para perder, certo? E a gravadora, para que esse produto tivesse um gancho, incluiu duas músicas inéditas: “All You Need Is Me” e “That's How People Grow Up”, ambas bem bacanas, aliás. E isso obriga a quem realmente é fã do cara a não abrir mão dessa compilação.
Existe, contudo, uma versão deluxe, importada, que traz um CD bônus com faixas gravadas na apresentação do cantor no Hollywood Bowl. Essa, sim, vale a pena.
Veja o vídeo de “Irish Blood, English Heart”:
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