quarta-feira, 27 de maio de 2009

Lulu Santos: a nova cartada do Ás do pop nacional

Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


Na ocasião de lançamento de Long Play, seu último álbum de inéditas, Lulu Santos manifestou o desejo de rever “lados B” de sua obra. O guitarrista chegou até afirmar que poderia não lançar mais nenhum trabalho “nesse formato de CD físico; talvez os próximos estejam disponíveis somente para download; ou sejam singles... Ainda não sei ao certo”.

Pelo menos no que diz respeito às suas faixas menos conhecidas, Lulu conseguiu colocar o seu desejo em prática. Provavelmente motivado pelo gosto que adquiriu pelo game Guitar Hero [saiba mais aqui], criou a banda Dudu Sanchez, inicialmente batizada de Valete, e fez apresentações estruturadas no lado mais obscuro de seu cancioneiro – e com insuspeitada pegada roqueira. Lulu já havia feito algo semelhante em 1998, com o Trio Jakaré.

No repertório, “De Repente” e “Cara Normal” (ambas de Normal, 1985), “Telegrama”, (de Lulu a.k.a Casa, 1986), “Fevereiro” (do ótimo Mondo Cane, 1992), entre outras. O nome da banda faz referência à letra de “Gambiarra” (de Letra & Música, 2006) - que, aliás, integra o set list.

A exemplo do que ocorrera com o Trio Jakaré, não há previsão de nenhum registro do Dudu Sanchez – o que é uma pena. Contudo, vários trechos de shows do grupo estão disponíveis no YouTube. E, cá para nós: Lulu continua um guitarrista de primeira....


Veja os vídeos de “Cara Normal...





...De Repente...





...“Telegrama”...





...“Fevereiro”...




...e “Gambiarra”:

Lulu Santos: guitarra na TV


CD
Novelas (Som Livre)
2009

Resenha publicada originalmente no TOM NETO.COM.


A coletânea ‘Novelas’ reúne faixas que integraram trilhas globais

Várias canções de Lulu Santos foram incluídas em trilhas sonoras de novelas globais. Sendo assim, a Som Livre reuniu algumas – que fique bem claro: algumas – delas na compilação sintomaticamente batizada de Novelas.

No repertório, “Um pro Outro”, “A Cura”, “Vale de Lágrimas”, “Certas Coisas”... Enfim, só filé. Destaque para a versão inédita de “De Repente, Califórnia”, gravada exclusivamente para Três Irmãs.

De um modo geral, compilações são empobrecedoras, pois oferecem somente a parte mais “digerível” da obra de um artista. O próprio Lulu, aliás, possui em sua (extensa) discografia excelentes “lados B”, que o grande público sequer imagina. Exemplos não faltam: a mortífera trinca “Seu Mal / Moon da Lua / Metal Leve” [de O Ritmo do Momento, 1983], a bela “Bilhetinho” [Toda Forma de Amor, 1988], “Leia meus Lábios” [Honolulu, 1990], “Eu Sou Outro Você” [Liga Lá, 1997], e por aí vai...

Por outro lado, o próprio autor de “Assim Caminha a Humanidade” declarou, em entrevista concedida há cerca de dois anos, que não entendia “esses ‘manés’ que brigam com os próprios sucessos”. Faz sentido.

Considerando que vivemos em um país sem memória, é de suma importância que as pessoas sejam relembradas (ou informadas) do grande autor que Lulu Santos sempre foi. E, observando por esse prisma, até que Novelas cumpre direitinho seu papel.

sábado, 2 de maio de 2009

Coldplay: variações sobre o mesmo tema

EP
Prospekt's March (EMI, importado)
2008

Resenha publicada originalmente no TOM NETO.COM.


Para colecionadores

Lançado pelo Coldplay no final no ano passado em EP – no exterior, visto que o formato não vinga por aqui* -, Prospekt's March [no detalhe] poderia ser classificado como um... er, complemento de Viva la Vida or Death and All his Friends, o mais recente álbum da banda inglesa.

Das oito faixas, entretanto, apenas cinco são inéditas, que não ficaram prontas a tempo de entrar em Viva la Vida. São elas: a dobradinha “Prospekt's March / Poppyfields”, “Now My Feet Won't Touch the Ground”, “Rainy Day”, a delicada vinheta instrumental “Postcards from Far Away” e “Glass of Water”. O restante é formado por versões revistas e/ou atualizadas de faixas que já faziam parte de Viva la Vida, como a bela “Lovers In Japan”, aqui apresentada em um remix intitulado Osaka San.

Lost+” é RIGOROSAMENTE a mesma gravação já lançada, apenas com a participação do rapper americano Jay-Z – que, aliás, nem acrescenta grandes coisas... Já “Life in Technicolor”, instrumental que abria Viva la Vida, ressurge acrescida de letra e vocais – e se beneficia bastante disso. Não por acaso, atende agora pelo título de “Life in Technicolor II”.

Prospekt's March, como item de colecionador, é imprescindível para os fãs do Coldplay. No Brasil, é possível encontrá-lo, como CD bônus da versão deluxe de Viva la Vida or Death and All his Friends.



* O EP - o mesmo vale para o single - não consegue se estabelecer no Brasil em função da ganância dos grandes lojistas. Simples assim. Todas as vezes em que as gravadoras tentaram consolidar os dois formatos no mercado nacional, era comum encontrá-los nas lojas de departamentos no mesmo preço dos CDs “cheios”. Ou seja, os cretinos não percebem a “filosofia” do single (assim como a do EP): permitir que o ouvinte compre uma única música que goste – sem a obrigatoriedade de adquirir o álbum completo – usando as moedas do troco do almoço. No hemisfério norte, é assim que funciona....



Leia também:




Veja os vídeos de “Life in Technicolor II”...






...e “Lost+”, com a participação de Jay-Z:


‘Viva La Vida’: a música de 2008


Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


O quarto álbum do Coldplay [acima], Viva La Vida Or Death And All His Friends, coincidentemente (ou não), foi produzido pelo mesmo Brian Eno, ex-Roxy Music, que produziu o quarto álbum do U2, The Unforgettable Fire. E, se The Unforgettable Fire representou um divisor de águas na carreira da banda irlandesa, a mesma importância pode ser aplicada a Viva La Vida na trajetória do grupo de Chris Martin.

A ousadia do Coldplay já começou no projeto gráfico [à esquerda], que reproduzia A Liberdade Guiando o Povo, de Eugène Delacroix. O fato de retratar a Revolução Francesa na capa do disco tinha um propósito claro: o quarteto ambicionava revolucionar a si próprio.

Contudo, parte do êxito da empreitada deve ser creditado ao esteta Eno, cujos arranjos alargaram os horizontes do Coldplay para muito além das baladinhas-ao-piano que os tornaram famosos.

Entretanto, apesar de bons momentos como “Lost!”, “Cemeteries Of London”, “42” e “Violet Hill”, nenhuma outra faixa do álbum revelou-se tão contundente quanto “Viva La Vida”, meio-título do disco.

Em um tom épico, Chris Martin canta uma belíssima letra que se utiliza de metáforas medievais para falar de... desilusão. A despeito das chamadas “verbas promocionais” das gravadoras – leia-se “jabá” -, a canção arrebatou FMs em todo o planeta. Há muito tempo o dial não era habitado por algo tão... substancial.

Não por acaso, “Viva La Vida” foi agraciada na edição 2009 do Grammy, na categoria “Música do Ano”. Ironicamente, perdeu no quesito “Gravação do Ano” para a bela “Please Read The Letter”, da dupla Robert Plant e Alison Krauss [saiba mais aqui]. Mas não importa. De fato e de direito, “Viva La Vida” foi a melhor música de 2008.