sábado, 6 de janeiro de 2007

Djavan em versão upgrade

CD Na Pista, Etc. (Luanda Records)
2005


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 118 (dezembro de 2005).



Um ano após o introspectivo Vaidade, Djavan ressurge com Na Pista Etc, produzido pelo experiente Liminha e, assim como o anterior, lançado pela sua própria gravadora, a Luanda Records.

Desfazendo o (falso) óbvio: não, esse não é propriamente de um CD de remixes, contrariando o que sugerem o título e a capa multicolorida (com a brincadeira de destacar em vermelho as duas primeiras letras do nome do cantor: DJ). Esse é um CD do hábil compositor que é Djavan, com canções bem conhecidas do grande público - porém, usando e abusando da eletrônica. Mas é importante ressaltar: em nenhum momento houve violência ao estilo de Djavan (que, aliás, serve de inspiração para muitos artistas da música brasileira - seria deselegante citar nomes). As melodias e a essência da música do alagoano permanecem inalteradas. Por essa razão, tudo soa...... arejado.

A primeira faixa já surpreende: "Tanta Saudade" (também registrada anteriormente pelo co-autor da canção, Chico Buarque, em CD de 1989), apesar dos seqüenciadores, possui um sabor de... salsa cubana. Igualmente curiosa é a versão de "Azul", cuja melodia da introdução (que se tornou célebre através da gravação de Gal Costa, nos anos 80), aparece aqui pontuada por um interessantíssimo talking box. Assim como é interessante observar, mesmo com o pulso eletrônico, o espírito interiorano de "Capim" absolutamente imaculado.

Em "Asa", o groove convive pacificamente com o peculiar violão de nylon de Djavan. "Miragem", se tivesse sido lançada pela primeira vez hoje, possivelmente seria arranjada da forma como é apresentada nesse álbum. E "Fato Consumado", belíssima melodia advinda dos primórdios da carreira do músico, permanece com o mesmo espírito: ainda é samba... mas um provável samba do século XXI.

O CD é fechado pela versão 2 de "Tanta Saudade" - que traz em si a mesma latinidad da versão que abre o álbum.

Conclusão: trata-se de uma típica coletânea de Djavan - entretanto, depois de um corajoso upgrade. É um produto que certamente visa atingir as camadas mais jovens do público - mas em nenhum momento deixa de ser honesto. Até porque, convenhamos: dos medalhões da MPB, Djavan (ao lado de Gilberto Gil) é um dos que possuem a musicalidade mais contemporânea (vide os exemplos recentes de "Eu Te Devoro", do CD Bicho Solto, o XIII, 1998; e "Acelerou", uma das duas inéditas de estúdio do Ao Vivo, de 1999 - esta última, aliás, presente nesse CD e sem diferenciar muito da gravação original).

Uma boa idéia seria talvez a inclusão de "Lilás" - que já recebeu interessante versão eletrônica em O Amor Me Escolheu (1997), de Paulo Ricardo. Assim como "Um Amor Puro" (a outra inédita do Ao Vivo) teria tudo para se tornar um magistral R&B, estilo "Kiss And And Say Goodbye".

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