sábado, 6 de janeiro de 2007

Simply Red: maturidade


CD Simplified (simplyred.com/Universal)
2005


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 120 (abril de 2006).




Há um determinado momento da carreira de todo músico, em que surge a necessidade de se tornar um artista sério. Ou eterno. Sim, a maturidade chega para todos - ou quase todos. Ao que parece, chegou para o inglês Mick Hucknall, 45 anos (vocalista, fundador e único membro original do Simply Red), que acaba de lançar Simplified, no qual relê seus sucessos, com arranjos surpreendentemente inspirados no jazz latino. Esse é o segundo trabalho - a exemplo do anterior, o bom Home, de 2004 - editado pelo seu selo próprio, simplyred.com (distribuição negociada com a Universal).

E, em Simplified, tudo soa.... requintado. A deliciosa "My Perfect Love" é pura bossa nova. "Smile" poderia muito bem estar em um CD de Diana Krall. "Something Got Me Started" (que aqui se tornou uma autêntica salsa cubana) e "More" (um dos destaques do álbum) não perderam o pulso rítmico, mas a originalmente dançante "Fairground" (que continha até sampler de Sérgio Mendes quando lançada, em 1995) está quase irreconhecível: em versão minimalista, a bela melodia - que ficava soterrada sob uma montanha de seqüenciadores e efeitos - se destaca, desenhada por um teclado muito bem executado.

O álbum traz cavalos-de-batalha como "Holding Back The Years" (conduzida por violão de nylon e discreta percussão), "Your Mirror" (com suaves cordas, em versão muito superior à original) e a belíssima "For Your Babies"; uma inédita ("Perfect Love", em dueto com a cubana Danae Blanco Villanueva); e regravações de "Ev'ry Time We Say Goodbye" (de Cole Porter, que o grupo gravou pela primeira vez em 1987, em Men And Women, seu segundo disco) e "A Song For You" (de Leon Russel). Soa como pretensão colocar canções próprias ao lado de clássicos consagrados? Creio que não seja essa a leitura correta. Com o distanciamento que só o tempo proporciona, nada impede que algumas das músicas do Simply Red também se perpetuem no cancioneiro popular mundial. O canadense Michael Bublé, em seu CD de estréia, gravou Bee Gees, George Michael e Queen juntamente com músicas eternizadas por Frank Sinatra...

Hucknall declarou recentemente que, além das 12 canções que compõem esse álbum, foram gravadas outras 13 - mais próximas do som característico do Simply Red -, que serão lançadas ainda esse ano, sob o título Unplified, assim como um DVD gravado ao vivo (Cuba, já editado na Inglaterra).

No invariavelmente insípido dial FM, o Simply Red, com o timbre negro de Hucknall (cuja voz, aliás, está algo mais encorpada - ainda que continue se saindo muito bem, tanto nos falsetes quanto nas notas mais altas) sempre conseguiu sobressair. Embora radiofônico, jamais negligenciou a qualidade e a sofisticação - ainda que os simplistas (com o perdão do trocadilho) classifiquem seu som como "funk aguado" e "música de yuppie". Bobagem. A relevância da banda-de-um-homem-só está devidamente comprovada nesse álbum. Para quem aprecia o que é bom, Simplified é altamente recomendável.

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