domingo, 7 de janeiro de 2007

Nando Reis: é o amor

CD Sim e Não (Universal)
2006


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 122 (junho de 2006).



Três anos após o seu último de inéditas, o bom A Letra A (sem contar a dobradinha de sucesso CD + DVD MTV Ao Vivo, no qual revisou o seu repertório solo, em 2004), o cantor e compositor Nando Reis ressurge com Sim e Não (Universal), novamente creditado - a exemplo do trabalho lançado sob a égide da emissora paulistana - também aos Infernais.

Com a formatação sonora habitual - violões proeminentes, guitarras e órgãos Hammond - Nando apresenta um disco de... canções de amor. Claro, as más línguas irão sentenciar, de imediato, que o ex-Titã "caiu na banalização, devido à 'má-influência' de Wando" (com quem andou se apresentando e até fez uma parceria - além de ter gravado "Fogo e Paixão") ou à recente participação na trilha sonora de Os 2 Filhos de Francisco.

Seriam dois grandes equívocos em uma única afirmativa: a) apesar de optar pela mais antiga e utilizada temática do mundo, Nando construiu com inteligência um mosaico dos vários matizes do amor (paterno, carnal, etéreo), com narrativas bem elaboradas, distantes da chamada obviedade romântica; b) o preconceito costuma turvar a visão - ou, nesse caso, a audição - e não permite que se reconheça, por exemplo, que o Obsceno possui algumas canções até bem palatáveis, como "Faltando Um Abraço", "Coisa Cristalina" e "A Menina e o Poeta", gravada por Roberto Carlos em 1976.

Aliás, impossível não observar em Sim e Não uma certa influência (lírica - é bom frisar), sim, de Roberto & Erasmo, safra Proposta. Indícios claros estão em "Como Se o Mar", "Nos Seus Olhos" e, especialmente, na ótima "N" (que tem todo cacoete de hit - assim como o pop fluente de "Sou Dela", primeira música de trabalho). Se bem que a melodia da canção que fecha - oficialmente, porque há ainda um tema oculto, tipo jam session - o álbum, a lacônica "Ti Amo" (não há erro de digitação aqui, ok?), parece ter sido separada do repertório da dupla ainda na maternidade.

O rock não foi excluído: diz presente em "Santa Maria", na saudável safadeza stoneana de "Caneco 70" e na liberadaça "Monóico" (segundo o Aurélio: adj. (Botânica), Designativo de plantas que, no mesmo pé, têm, separadas, as flores masculinas e femininas, o que colabora - e muito - para a compreensão da letra):

"Sinto seu dedo, mas não vejo a sua mão
Não sinto medo quando estou deitado, olhando pro chão... "

Aos 43 anos, a maturidade de Nando é perceptível na delicada "Espatódea", homenagem à filha Zoé (nota: nome científico: Spathodea campanulata; nome popular: espatódea, tulipeira; origem e ocorrência: África; porte: até 15 metros de altura; características: árvore bastante ornamental, com floração bem exuberante); em "Pra Ela Voltar" (que traz os certeiros versos: "uma pessoa só, não conta/ uma pessoa só, não é ninguém"); e também na primeira faixa, a bela "Sim", meio-título do álbum - se é que assim podemos defini-la - e também um dos destaques:

"Sim, desde que eu te vi, eu te quis
Eu quis te raptar, eu fiz um altar
Pra te receber, como um anjo, que caiu lá do céu... "

Sim e Não prossegue a pavimentação da trajetória de Nando Reis - o período como membro dos Titãs já parece um passado longínquo - e certamente auxiliará a confirmar o seu nome como um dos mais engenhosos artífices do pop brasileiro atual.

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