sábado, 3 de fevereiro de 2007

Marcelo D2: qual é?


CD Meu Samba é Assim (Sony BMG)

2006

Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 123 (julho de 2006).




Direto ao ponto: três anos após o seu último CD inédito, À Procura Da Batida Perfeita (nesse intervalo, rolou CD + DVD Acústico MTV), Marcelo D2 volta à cena com Meu Samba É Assim (Sony/BMG).


Colaborar com João Donato deve ter feito bem ao rapper, porque, de imediato, percebe-se que o álbum umas bases maneiras - como "Pra Que Amor?" (com participação da Marrom Alcione), "Nega", "Sinistro" e "É Assim que se Faz" (a melhor do CD), onde ele ensina como mandar aquele agá ixperto. Além disso, a audição de velhos vinis de MPB possivelmente contribuiu - dessa fonte, deve ter surgido a inspiração para refrões bem brasileiros e a escolha de instrumentos incomuns em um disco de rap, como piano em "É Preciso Lutar"; trompete em "Lapa"; e flauta em "Nunca Esquecer". "Dor De Verdade", de autoria de Arlindo Cruz - com a participação do próprio e do bamba Zeca Pagodinho - é o autêntico samba-esquema-novo.

Pode crer: a mistura de hip hop com samba dá a maior liga mesmo - isso ninguém pode negar - e pode ser entendida como uma atualização da malandragem carioca na música contemporânea. E tem outra parada: só otário não reconhece que Marcelo D2 verbaliza legal a sua sagacidade de rua. O cara - sabe-se lá Deus como - conseguiu criar um estilo próprio e essa foi a sua sorte. Porque é justamente o que o diferencia e o identifica. Vamos combinar: ele é bom naquilo que faz. Mas será que isso justifica tanta marra?

A despeito do insight da alquimia sonora, para muita gente, a existência artística de Marcelo D2 é um completo... mistério. Não é caso de entrar no mérito dessa questão, mas o fato é fora das quatro linhas... vez ou outra, ele dá uns moles.

O cara chega no VMB da MTV para receber uma premiação e expõe para platéia e câmeras toda a sua singela comoção: "do caralho, do caralho, do caralho!". Ou seja: quer vender atitude, mas, ao mesmo tempo... canta para os bacanas de Sampa, se apresenta na final do BBB (onde Pedro Bial se referiu ao pesadelo da pop como "Mestre D2". Então 'tá...), é contratado de uma multinacional, faz comercial de celular e ainda cria uma grife - que expandirá brevemente a sua atuação para os segmentos feminino e... infantil? Ah, ô, fala sério, malandro. Qual é?

Todo mundo que se preza um dia já foi "rebelde", usou cabelos sobre os ombros, coisa e tal. Mas ficar eternamente nisso é sintoma de adolescência tardia, pura síndrome de Peter Pan. O amadurecimento, portanto, é uma tendência natural do ser humano. Por outro lado, continuar sendo porra-louca também é um problema de cada um - desde que o cara seja coerente em seu posicionamento... paciência. Desagradável mesmo é quando o cara se torna um capitalista... mas finge que não - como o velho arquétipo fake do punk de butique.

Nas entrevistas de divulgação de Meu Samba É Assim, D2 afirmou que a MPB "é uma merda". Tudo bem - exceção feita a Chico Buarque, Lenine, Marisa Monte, Zélia Duncan e mais alguns poucos - , a MPB realmente não está lá muito bem das pernas. Mas... merda, Show? Só pode estar de neurose.

Em entrevista recente, teve coragem de citar a antiga teoria de Tom Jobim (vejam só), para dizer que quem fala mal de seu sucesso é "ressentido". E, em "Falador", ele se apropria de frase de pára-choque de Kombi da Avenida Dom Hélder Câmara: "falar de mim é fácil/ difícil é ser eu".

Caro(a) leitor(a), quando você estiver lendo esse artigo, D2 já terá feito uma mini-turnê pela Europa (com Rock In Rio Lisboa incluído) e uma apresentação no tradicional Festival de Montreux, a convite de ninguém menos que Sérgio Mendes - além de ter participado do último álbum do craque, Timeless. Verdade seja dita: consolidado, o trabalho do cara está, morou? Mas, tirando isso... presta atenção, rapá...

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