domingo, 4 de fevereiro de 2007

Paul McCartney: um Beatle na night?

Vinil e download pago Twin Freaks (Parlophone)
2005


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 125 (setembro de 2006).



Sinceramente, chega a ser uma injustiça, a essa altura, o fato de alguém acreditar na imagem artística foi criada para Sir Paul McCartney: o beatle romântico, de semblante doce, com cara de bom genro. É incrível pensar que ainda exista quem desconheça que foi ele, e não Lennon, quem criou o revolucionário conceito de Sgt. Peppper's, por exemplo; e que, sendo o único solteiro da banda naquele período, se relacionava com artistas de todas as áreas na Swinging London, etc. e tal.

McCartney muitas vezes subverteu as regras do jogo - e, na verdade, ainda continua o fazendo. Prova disso é Twin Freaks, concebido em parceria com o DJ e produtor londrino Roy "The Freelance Hellraiser" Kerr, lançado em junho do ano passado - meses antes de seu último álbum de inéditas, o confessional Chaos and Creation in the Backyard - apenas em vinil 12" duplo ou em formato digital (leia-se: download pago). Por enquanto, nada de CD (embora estivesse prometido para o início de 2006). Os dois se conheceram na turnê de Macca do verão de 2004, e Kerr, a partir de então, passou a realizar um set de abertura de 25 minutos nos shows, somente com músicas do ex-beatle, remixadas.

Algo semelhante já havia sido feito por Paul anteriormente, em parceria com Youth, no projeto The Firemen, que rendeu os álbuns Strawberries Oceans Ships Forest (1993) e Rushes (1998). Esses dois trabalhos, no entanto, traziam faixas eletrônicas instrumentais, estilo ambient. Twin Freak é uma empreitada mais radical, porque apresenta remixes de faixas de sua carreira solo, feitos sob encomenda para... as pistas! Ou seja: o cara - já um sexagenário - não teve a menor arrogância em permitir a desconstrução das próprias canções. E ele não é qualquer um.

Ele é o Paul McCartney, ora.

E isso serve de lição para as primas-dona da música (no Brasil, então, há dezenas delas): viram só? Aprendam com o mestre.

Claro, talvez Paul não chegasse a ponto de remixar uma "Band on the Run" ou uma "Jet". As faixas são, em sua maioria, obscuras - como "Rinse the Raindrops" (de Driving Rain, 2001). Mas, ainda assim, três hits estão presentes no álbum: "Coming Up", "Maybe I'm Amazed" (em remix respeitoso ao fonograma lançado em McCartney, 1970) e "Live and Let Die", esta última, absolutamente irreconhecível (da letra original, apenas o verso inicial, que se repete como um mantra: "...when we were young...". Nada mais).

Em vários momentos, foram usados samplers de outras canções de McCartney, o que torna a coisa bastante curiosa. Por exemplo: em "Long Haired Lady", de Ram (1971) foi criado um loop do riff de guitarra de "Oo You" (outra faixa oriunda do primeiro disco solo de Paul). "Really Love You", de Flaming Pie (1997), que abre o CD, se apropria da bateria de "What's That You're Doing" (Tug of War, 1982) - que, aliás, também está incluída no álbum (inclusive com a participação original de Stevie Wonder nos vocais). E "Oh Woman Oh Why", lado B de "Another Day" (1971) traz os vocais de "Venus and Mars" e a guitarra da supracitada "Band on the Run".

Vale prestar atenção na debochada "Temporary Secretary", em versão melhor que a original (de McCartney II, 1980, de onde saiu também "Darkroom", um dos remixes mais interessantes). E ainda há uma faixa inédita: "Lalula".

A verdade é uma só: ainda que valha pela ousadia, Twin Freaks, em alguns momentos, pode (e vai) assustar o beatlemaníaco mais tradicional. Em todo caso, para quem se interessar, o endereço para download é:

http://www.7digital.com/shops/productDetail.aspx?shop=72&product=11570&sid=77110.

Ah, sim: cada canção custa a módica quantia de £ 0.99 (noventa e nove centavos de libra esterlina).

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