sábado, 3 de fevereiro de 2007

Sting: Canções de Amor e a Sétima Arte


CDs Songs of Love (2003) e My Funny Valentine: Sting at the Movies (2005)
A&M (Universal)

Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 123 (julho de 2006).





Ex-membro de uma das mais brilhantes bandas de rock de todos os tempos, The Police, o cantor, compositor e baixista Sting - ao partir para a carreira-solo, em 1985 - pôs em prática a sua predileção pelo jazz, tendo o reconhecimento de nomes como Miles Davis, Gil Evans, Branford Marsalis (cujo sax se fez ouvir em quase todos seus CDs solo) e até Antônio Carlos Jobim (que o convidou para participar da magnífica versão de "How Insensitive", em seu derradeiro trabalho, Antônio Brasileiro, 1994). Com isso, refinou o seu pop - e angariou, em contrapartida, a antipatia da crítica, o que até faz sentido: em vez do inusitado country-gospel (!) "Fill Her Up" (de Brand New Day, 1999, com participação de James Taylor; ouça essa - vale a pena), provavelmente preferissem vê-lo sempre no "De Do Do Do De Da Da Da".


Considerado pelo público inglês um de seus melhores letristas, Sting, a bem da verdade, foi, após a dissolução do Police, muito mais ousado do que jamais fora ao lado de seus ex-companheiros de banda, (os excepcionais Andy Summers e Stewart Copeland), flertando com a música étnica (quem não se lembra do dueto com Cheb Mami na eletro-muçulmana "Desert Rose"?), com a bossa nova (a fidelíssima "Big Lie, Small World", também de Brand New Day), sem jamais esquecer como se faz uma boa canção pop ("If I Ever Lose My Faith In You", "If You Love Somebody Set Them Free" e "We'll Be Together").

Desde o seu último CD de inéditas - o surpreendentemente pouco inspirado Sacred Love, 2002 - já foram lançadas duas coletâneas do músico: Songs of Love (2003) e My Funny Valentine: Sting at the Movies (2005).

Songs..., a princípio, foi um produto exclusivo da loja americana de departamentos Victoria's Secret, concebido sem grandes critérios: como o título anuncia, são apenas canções de amor, oito ao todo. Entre elas, a tocante "When We Dance"; a politizada "They Dance Alone" (em homenagem às Mães dos Desaparecidos, do Chile, com participação de dois figurões: Eric Clapton e Mark Knopfler, ambos tocando discretos vilões de nylon), "Ghost Story", belíssima melodia, cuja letra respeita cada uma das notas e possui encanto semelhante; a descontraída "You Still Touch Me"; e as imagens fantásticas de "Fortress Around Your Heart" e, principalmente, "Mad About You":


"Caminhei uma milha solitária sob o luar
e, embora um milhão de estrelas estivessem brilhando,


meu coração estava perdido em planeta distante (...).
Ainda que todos os meus reinos se transformem em areia e desabem no mar, 
estou louco por você (...).

Nunca em minha vida senti-me tão só quanto agora.
Embora eu reclame domínios por entre tudo o que vejo,
isso não significa nada para mim.
Em nossas histórias, não existem vitórias... sem amor".


My Funny Valentine... no entanto, oferece muito mais conteúdo: são dezoito canções de Sting que integraram trilhas de cinema, apresentando não somente faixas que já apareceram em seus álbuns solo, como também (a cereja do bolo) muitas gravações jamais lançadas em discos de carreira do baixista.


Sendo assim, encontramos nessa compilação as conhecidas "Fragile" e "It's Probably Me" (parceria com o já mencionado Eric Clapton, com a presença do próprio nos violões e guitarras); a linda "Shape of My Heart"; o hit "Englishmen in New York"; e as raras "All for Love" (com participação de Rod Stewart e Bryan Adams), e "Moonlight", além de sua impecável versão para "Windmills Of Your Mind".

Embora não possua propriamente a unidade conceitual de um álbum de carreira (por abrigar faixas de várias procedências), trata-se de um álbum de classe, que reitera a importância de Sting no pop adulto mundial.

O desagradável de toda essa história - parece até piada - é que, apesar do respeito que Sting desfruta no Brasil (fruto, além do talento, de seu envolvimento em causas ecológicas relacionadas ao País e a própria influência de nossa música em seu trabalho) ambas as coletâneas... ainda não tiveram ainda uma edição nacional. Mas isso certamente não deterá a quem tiver interesse por esses dois CDs: é só acionar... a importadora mais próxima, é claro...

Humpf, gravadoras... Entendem tanto de música quanto eu de camelos...

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