sábado, 3 de fevereiro de 2007

Paralamas: foi um longo caminho até aqui

CDs Perfil - Vol. I & II (Som Livre)
2006

Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 123 (julho de 2006).



O que mais dizer a respeito dos Paralamas do Sucesso a essa altura do campeonato - visto que o grupo já alcançou o status de instituição do rock nacional, não comportando qualquer tipo de questionamento com relação à perenidade de sua obra? Em suma: os caras (a exemplo dos Titãs) são hors-concours. Em função disso, a Som Livre dedica ao trio um título de sua série Perfil, e com uma deferência toda especial: pela primeira vez nessa coleção, é lançada uma coletânea dupla, com os dois volumes vendidos separadamente.

Os Paralamas, todos sabem, ajudaram a sedimentar uma linguagem nativa no pop brasileiro (o qual - é bom frisar - teve seus primeiros lampejos, na verdade, antes mesmo da Jovem Guarda, ainda que muita gente não observe isso), ao lado de outros artistas igualmente surgidos na década de 80, como a Blitz, o Barão Vermelho, Ritchie, entre tantos outros. O segundo álbum da banda, o célebre O Passo do Lui (1984), parece uma compilação de singles de sucesso - quase todos presentes aqui: "Óculos", "Meu Erro", "Romance Ideal", "Me Liga" e "Fui Eu". Em 1986 (completando, portanto, 20 anos de lançamento este ano), é editado Selvagem?, o trabalho que definitivamente imprimiu em tons nada pastéis a brasilidade no rock produzido em nosso país, de onde saíram: "A Novidade" (letra do Ministro Gilberto Gil), "Alagados" (com a participação do próprio Gil nos vocais), "Você" (do saudoso Síndico Tim Maia) e "Melô do Marinheiro", todas devidamente inseridas em Perfil.

O grupo atravessou um momento de baixas vendagens na primeira metade dos anos 90 com o injustiçado Os Grãos, 1991 (que trazia o reflexivo soft reggae "Tendo a Lua" e a otimista "Sábado"), e o experimental Severino, 1994. Mas retomou o passo (dessa vez, não o do Lui) ao abraçar novamente o pop em 1995, com o visceral ao vivo Vamo Batê Lata (que, finalmente, recebeu esse ano versão em DVD, mostrando o monstro que os Paralamas são em cima de um palco), além de quatro inéditas dignas do melhor da banda.

E Perfil, em seus dois CDs, resume, ainda que fora de ordem cronológica, toda a trajetória da banda - com exceção do mais recente álbum de inéditas, o bom Hoje, lançado no ano passado. Além das canções supracitadas, o repertório conta ainda com "Cuide Bem do Seu Amor", a intensa e subjetiva "Uns Dias", "Lanterna dos Afogados" (gravada também, há nove anos, por ninguém menos que Gal Costa, em dueto com o próprio Herbert Vianna, na série Acústico MTV), "Quase Um Segundo" (que recebeu uma versão de Cazuza em Burguesia, seu último disco), "O Amor Não Sabe Esperar" (com participação de Marisa Monte nos vocais), as sensíveis "Aonde Quer que Eu Vá" e "Seguindo Estrelas", a pet sounds "Busca Vida", e muito mais. Enfim, um set-list para ninguém botar defeito - e olha que ainda ficou bastante material de fora (sem contar as pérolas obscuras)...

Sobrevivendo às reviravoltas do mercado e a tragédias pessoais, os Paralamas do Sucesso jamais perderam a relevância. E Perfil apenas vem documentar isso.

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