CD Ringleader of the Tormentors (Attack-Sanctuary/ Trama)
2006
Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 124 (agosto de 2006).
Nos anos 80, durante o período áureo dos Smiths (época de hits como "Ask", "There Is A Light That Never Goes Out" e a linda "Heaven Knows I'm Miserable Now"), nem o mais delirante apreciador de música poderia imaginar que o vocalista da lendária banda de Manchester um dia colaboraria com o genial maestro italiano Ennio Morricone, possivelmente o maior autor de trilhas para cinema de toda a história da sétima arte - tendo assinado centenas delas.
Porém, no século XXI, o imprevisível aconteceu: Morrissey e Morricone uniram forças em "Dear God Please Help Me", faixa de Ringleader of the Tormentors, oitavo disco solo do bardo inglês (sem considerar os álbuns gravados ao vivo: Beethoven Was Deaf, 1993; e Live at Earls Court, lançado no ano passado). E não é o resultado ficou bastante satisfatório? As cordas de Morricone adornam uma canção onde Morrissey se mostra algo... religioso (!).
O início da carreira solo de Morrissey foi marcada por discos aquém de sua reputação, como Viva Hate (1988) e Kill Uncle (1991) - ainda que emplacasse hits como a pop "Suedehead" e a bela e melancólica "Everyday Is Like Sunday". Durante algum tempo, ele foi considerado um has been - um artista... acabado. Até que, em 1992, lançou Your Arsenal, aclamado pela crítica, que gerou o já mencionado ao vivo Beethoven Was Deaf.
Mais três álbuns apenas regulares - Vauxhal And I (1994), Southpaw Grammar (1995) e Maladjusted (1997, que gerou um quase-hit, a boa "Alma Matters") - deixavam a impressão de que o poeta inglês tornara-se de fato um item de antiquário da Rua do Lavradio. Eis que, para surpresa geral, Morrissey edita em 2004 pela Attack/Sanctuary o visceral You Are The Quarry, no qual recupera em definitivo a velha forma.
Gravado em Roma (onde Morrissey mora atualmente) e produzido por Tony Visconti - que produziu trabalhos lendários de David Bowie e T. Rex -, Ringleader... confirma a boa fase e mostra, entre letras brilhantes, momentos reflexivos (como a ótima "Life is a Pigsty") e outros ásperos ("You Have Killed Me", o primeiro single), um artista sem o menor sinal de cansaço. A faixa que abre o CD, "I See You in Far off Places" evoca na introdução um clima arabesco, assumindo depois uma atmosfera caótica, hipnótica. "The Youngest Was the Most Loved" apresenta... um coral infantil (!) - também presente no arranjo algo épico de "At Least I Am Born", que fecha a bolacha.
O disco inteiro soa tão bem que apontar destaques torna-se uma tarefa até injusta. Se a intenção de Morrissey é recuperar o prestígio dos tempos dos Smiths, ele está no caminho certo. Ringleader of the Tormentors, não deve absolutamente nada para os melhores trabalhos gravados com o seu ex-grupo. E não há exagero nessa afirmativa.
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