CD Diferente (Sony & BMG)
2006
Resenha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 127 (novembro de 2006).
É verdade: o encontro aconteceu no recém-lançado CD Diferente, da dupla goiana. A canção escolhida foi "Minha História" - versão que Chico fez em 1970 para "Gesùbambino", música do italiano Lucio Dalla - devidamente trazida para o universo sertanejo de Zezé & Luciano.
E a pergunta é: qual é o problema?
Meses atrás, quando a notícia do dueto foi divulgada no blog de um crítico musical carioca (com direito a foto de Chico e Zezé, sorridentes, no estúdio), houve uma enxurrada de protestos dos internautas, que reagiram como se esse gesto do autor de "Todo Sentimento" significasse (oh...) "a inevitável ruína da MPB ".
Quanta bobagem.
Tudo bem, você pode até não gostar dos irmãos. Mas é cinismo fingir que eles não existem e que nada disso está acontecendo. Todos sabemos que vendagens de discos não significam necessariamente qualidade, mas o fato é que Zezé di Camargo & Luciano, em 15 anos de carreira, atingiram (mesmo com toda a pirataria) a marca de 22 milhões de cópias vendidas - em média, três CDs por minuto, ininterruptamente (!).
E seria uma temeridade dizer que o país possui milhões de cretinos - os felizes compradores em questão -, que se permitiriam ludibriar por uma década e meia.
Na verdade, a dupla goiana já possui o respaldo de outros nomes de peso da música brasileira que, ignorando qualquer tipo de preconceito, se envolveram no filme Os 2 Filhos de Francisco, como Caetano Veloso (que, inclusive, assinou a trilha sonora), Nando Reis e Ney Matogrosso. E, na ocasião, ninguém deu um pio para reclamar. Mas agora com o Chico... foi esse alvoroço.
(Interlúdio: já que mencionamos Caetano... será que alguns setores da crítica temem discordar do compositor baiano em algum aspecto - e serem classificados como imbecis? Porque o mais recente CD do artista apresentou, entre outros descalabros, uma música absurda que poderia muito bem ser utilizada em filme de sacanagem português e o mais incrível é que - como na antiqüíssima lenda do Rei de Cueca - todo mundo achou... genial. E se fosse o Jota Quest que cantasse um refrão brilhante como "tu, onça, tu/ eu, jacaré, eu"? Certamente seria mais ridicularizado do que na época em que pintou o cabelo de Fanta, lembram? Engraçado, o Caê fala em "mucosa roxa, peito cor de rola" e, no final das contas, o Wando é que é o cara de "mau gosto"? É aquela velha história: dois pesos, duas medidas...).
Finalizando: Diferente recebeu esse título pelo fato de a dupla, em alguns momentos do álbum, trafegar por territórios alheios à música sertaneja - como na versão que Rossini Pinto fez para "Hey Jude" (grande sucesso na voz de Kiko Zambianchi em 1989), cantada por Luciano. O mesmo vale para a arriscada releitura (com participação de Silvinha Araújo) para a bela "How Can I Go On", gravada originalmente por Freddie Mercury e a cantora lírica Montserrat Caballé. Mas a verdade é que, espertos, os irmãos não mexeram em time que está ganhando: o disco é fiel ao estilo que consagrou a dupla e, ainda que possa continuar sem convencer a quem não os tolera... também não irá desapontar aos fãs de sempre.
Em tempo: existe, no entanto, uma explicação para que Zezé di Camargo & Luciano possuam no Rio de Janeiro o seu menor eleitorado. "Ah, é porque carioca tem bom gosto...". Bem, se fosse especificamente isso, a Banda Calypso não faria sucesso por aqui. A questão é que, dadas as suas inegáveis particularidades (geográficas, climáticas, idiomáticas, etc), o Rio eventualmente comporta-se dentro do país tal qual uma... ilha - como se determinadas manifestações de suma relevância e identificação com o restante do país... não lhe dissessem respeito.
Mas isso é assunto para outro artigo.
"...quem critica o que eu canto, não conhece o Brasil..."
("A Minha História", Zezé D Camargo, 2005).
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