sexta-feira, 2 de março de 2007

Fábio Jr.: matando as saudades do pop

CD Minhas Canções (Sony & BMG)
2006


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 126 (outubro de 2006).



Mais um projeto de regravações acaba de chegar ao mercado: trata-se de Minhas Canções (Sony & BMG), o novo CD de Fábio Jr, onde o cantor registra um repertório majoritariamente pop, com músicas de Cazuza ("Codinome Beija-flor"), Titãs ("Epitáfio"), Skank ("Dois Rios") e Tim Maia ("Não Vou Ficar"), entre outras.

Catástrofe? Nada disso. Esperto, Fábio, pelo visto, não quis arranjar confusão e, dessa forma, não inventou moda - procurou respeitar as gravações originais e cometeu versões corretas de canções consagradas, conseguindo trazer todas para o seu universo.

É o caso, por exemplo, da otimista "Tente Outra Vez", de Raul Seixas - canção já gravada por nomes tão díspares quanto Zezé di Camargo & Luciano e Barão Vermelho. Aliás, falando em Barão: Fábio Jr. incluiu também "Por Você", em registro fiel ao espírito do grupo carioca.

O mesmo vale para a versão para "Quem de Nós Dois" (versão da italiana "La Mia Storia Tra Le Dita"), sucesso na voz de Ana Carolina, que aqui não careceu do respeitável material vocal da cantora mineira. E a parceria de Herbert Vianna com Paulo Sérgio Valle, "Se Eu Não te Amasse Tanto Assim" (a canção que Roberto Carlos se esqueceu de compor) também soa natural na voz de Fábio.

Há ainda as releituras para "Sangrando" (Gonzaguinha), "Sozinho" (de Peninha, sucesso na voz de Caetano Veloso) e "Juventude Transviada" (de Luiz Melodia, o artista que, há cerca de dez anos atrás, declarou a uma revista de música que, nos discos de colegas que gravam composições suas, costuma ouvir apenas as canções compostas por ele, Melodia - e nada mais).

E Fábio Jr. ainda deu-se ao luxo de abrir o CD com "A Cúmplice" (que é também a faixa de trabalho), um momento de delicadeza do quase sempre sarcástico menestrel Juca Chaves - o primeiro artista independente desse país, tendo falado em numeração de discos ainda nos anos 80 (!).

No final das contas, a opção pop desse projeto não deixa de ser uma (boa) surpresa - ainda que o IM - INTERNATIONAL MAGAZINE (através desse humilde escriba que vos fala) tenha afirmado, há pouco mais de seis meses atrás, que "claro, existe no Brasil esse reducionismo de estigmatizar certos artistas - e sem uma prévia avaliação imparcial. Entretanto, apesar de Fábio Jr. ser mais reconhecido atualmente pelo lado mais popular de seu trabalho (para muitos, brega mesmo), é importante observar que, no final dos anos 70, quando inexistia uma cena pop em nosso país - Kid Abelha e Lulu Santos ainda não haviam surgido - esse espaço era preenchido por Fábio Jr., com uma sucessão de hits como "Enrosca" (de Guilherme Lamounier, autor já comentado aqui no tablóide) e "Eu Me Rendo" (do tecladista Sérgio Sá)".

Minhas Canções é um disco até agradável do intérprete de "O Que é Que Há?" e, do ponto de vista comercial, é bem provável que dê certo. Mas também não oculta a realidade, que imediatamente salta aos olhos: na atual conjuntura (mesmo em um segmento mais popular, onde Fábio Jr, trafega) o mercado fonográfico carece de novos compositores.

E não é possível que ninguém tenha percebido isso.

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