sexta-feira, 2 de março de 2007

Djavan: sucessos e análise combinatória

CD Perfil (Som Livre)
2006


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 126 (outubro de 2006).



E a Som Livre prossegue com a sua série de coletâneas Perfil, apresentando dessa vez o CD dedicado a Djavan - isso, menos de 12 meses depois de ter sido lançado um outro projeto revisionista: Na Pista, Etc, onde o artista alagoano - ao lado do experiente produtor Liminha - regravou várias de suas canções, porém com um acento eletrônico.

Hábil como melodista e cantor de belo timbre, Djavan coleciona sucessos, quase todos presentes nesse CD: "Meu Bem Querer", o ancestral samba "Flor de Lis" (o sonho de todos os calouros nas décadas de 70 e 80), "Sina", e a boa "Se Acontecer" (carro-chefe do último CD de inéditas do músico, o irregular Vaidade, 2004), entre outros. Destaque para as belíssimas "Pétala", "Oceano" - com direito a solo de violão flamenco do grande Paco De Lucia - e a pop "Lilás".

Perfil também traz algumas surpresas: "Gostoso Veneno", dueto com Alcione que não aparece em nenhum dos álbuns de Djavan; a pouco conhecida "Me Leve" (já regravada por Ivete Sangalo); a boa versão de "Drão", contida apenas no Songbook Gilberto Gil; e dois remixes (as recentes "Eu te Devoro" e "Acelerou").

Entretanto, apesar do inegável talento, é impossível deixar de observar uma estranha característica de Djavan como autor: a eventual opção pela poesia-por-análise-combinatória, como em "Açaí", por exemplo: "açaí, guardiã/ zum de besouro, um ímã/ branca é a tez da manhã", uma provável construção apenas para vestir a melodia.

Ou alguém tem outra explicação mais plausível?

E o que dizer então do refrão ininteligível de "Se"?

"(...) Sei lá o que te dá - não quer meu calor.
São Jorge, por favor, me empresta o dragão.
Mais fácil aprender japonês em Braille.(...) "

Um compositor iniciante, tendo escrito tais versos, seria imperdoavelmente ridicularizado. Mas como é o Djavan...

Contudo, no final das contas, tais deslizes não chegam a macular o inegável talento do artista. E Perfil, por sua vez, cumpre o papel de resumir a obra de Djavan - e certamente agradará aos seus admiradores.

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