sexta-feira, 2 de março de 2007

O divisor de águas de Zizi Possi

CD Sobre Todas as Coisas (Distribuidora Independente)
1991; reeditado em 2006


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 126 (outubro de 2006).



Em 1990, Zizi Possi vinha de seu último trabalho para a Polygram (atual Universal), o injustiçado Estrebucha Baby (1989), onde a cantora paulistana já insinuava um distanciamento do padrão radiofônico que lhe rendeu inúmeros sucessos na década anterior, tais como: "Perigo", "Asa Morena", "Começo, Meio e Fim" e "Caminhos de Sol", entre outros.

Sem gravadora, Zizi estreou um show que geraria, no ano seguinte, o álbum Sobre Todas as Coisas, que recebe agora reedição, via Distribuidora Independente. Com um repertório sofisticado e uma sonoridade camerística, o trabalho redefiniu parâmetros na carreira da cantora - que, a partir de então, pôde ser classificada em antes-e-depois deste disco.

Apesar de registrado em estúdio, o álbum possui - por ter tido sua origem através do roteiro de um show - uma dinâmica característica de uma apresentação ao vivo, devido à sua unidade conceitual e seus medleys bem construídos: como o que une "Alvorada" (Cartola e Carlos Cachaça) a "Eu Te Amo" (Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque) e à faixa-título (também de Chico, em parceria com Edu Lobo).

Entre boas canções de Dominguinhos & Nando Cordel, Noel Rosa ("Com Que Roupa?") e dos irmãos Jean e Paulo Garfunkel, entre outros, Zizi Possi registrou, com maestria, três do Ministro Gilberto Gil: "Rebento", "Barato Total" e a linda "A Paz" (parceria de Gil com João Donato), um grande sucesso em gravação anterior da cantora, apresentada aqui em releitura emocionante.

Os dois destaques do álbum, entretanto, são as versões da tocante "O Que é, O Que é?", de Gonzaguinha (em interpretação intensa, com um arranjo completamente despido de qualquer tempero sambista) e da bela "Corsário", de João Bosco e Aldir Blanc, em registro que nada deve à gravação imortalizada na voz de Elis Regina.

Sobre Todas As Coisas é um marco na carreira de Zizi que, com seu rigor estético, a beleza de seu timbre e uma afinação extraordinária, é uma das maiores cantoras vivas desse país.

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