terça-feira, 24 de novembro de 2009

Da série ‘Parcerias’: Roberto & Erasmo nos últimos dez anos


Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


O luto guardado por Roberto Carlos pela morte de sua esposa, Maria Rita, fez com que a sua parceria com Erasmo Carlos sofresse uma vertiginosa queda de produção na última década. Nos únicos três álbuns de estúdio que o Rei lançou em dez anos – os demais foram discos ao vivo ou projetos especiais, como Duetos (2006) –, há apenas cinco (!) parcerias inéditas com seu amigo de fé, irmão camarada.

O motivo: abalado, RC preferiu compor solitariamente durante esse período.

Na compilação 30 Grandes Sucessos, lançada em dezembro de 1999 – quando o estado de saúde de Maria Rita se agravou, e Roberto não teve condições de gravar um novo trabalho –, a única música nova era “Todas as Nossas Senhoras”, composta com Erasmo.

No CD Amor sem Limite, de 2000, o primeiro após o desaparecimento de Maria Rita, a única parceria inédita da dupla foi a bela “Tu És a Verdade, Jesus”. As outras duas canções que levavam a assinatura dos parceiros - “Mulher Pequena” e “Quando Digo que te Amo” - foram originalmente lançadas em 1993 e 1996, respectivamente.

Pra Sempre, que chegou às prateleiras em 2003, trazia somente duas faixas novas escritas por Roberto e Erasmo: a questionadora “Seres Humanos” e o bem-humorado blues “O Cadillac”.

No disco epônimo de 2005, a única inédita de RC com o Tremendão foi “Arrasta uma Cadeira”, gravada na companhia de Chitãozinho & Xororó. As demais – “Promessa” e “A Volta” – eram, na verdade, canções antigas que jamais tiveram registro na voz do Rei até então, além de “O Baile da Fazenda”, originalmente lançada em 1998.

Já nos discos de carreira que Erasmo Carlos editou desde 1999 – Pra Falar de Amor (2001), Santa Música (2004) e Rock ‘N’Roll (2009) – não há nenhuma parceria inédita da dupla. Pra Falar de Amor trazia a assinatura da dupla na boa “Qualquer Jeito”, versão de “It Should Have Been Easy”. Mas a faixa foi presenteada em 1987 à cantora Kátia, “afilhada” artística de Roberto e Erasmo. E obteve razoável execução radiofônica na ocasião.

Entretanto, os autores de “É Preciso Saber Viver” já confirmaram que existem quatro novas canções da dupla para o próximo CD de estúdio de Roberto, cujo lançamento está previsto para 2010.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Chico Buarque: polivalente



Livro
Leite Derramado (Companhia das letras)
2009

Resenha publicada originalmente no TOM NETO.COM.


A genialidade do compositor também se faz notar em ‘Leite Derramado’, seu quarto romance


Nos últimos anos, Chico Buarque tem trabalhado da seguinte forma: o cantor e compositor edita um disco de inéditas, sai em turnê, grava CD/DVD ao vivo... e recolhe-se para a produção de mais um livro. Chico, de fato, sumiu dos holofotes após o lançamento de Carioca Ao Vivo, de 2007 – registro do show que promoveu Carioca, seu último álbum de estúdio, que chegou às prateleiras em 2006. E, nesse intervalo, escreveu Leite Derramado, publicado pela editora Companhia das Letras.

Em seu quarto romance, Chico consegue superar sua empreitada anterior no campo literário, o ótimo Budapeste, de 2003. Leite Derramado baseia-se nas memórias de Eulálio d'Assumpção, ancião que convalesce em um leito de hospital, recordando o passado de glória de sua família, até a sua decadência atual.

E, através do monólogo do personagem central da obra, Chico revê boa parte da história do país. As lembranças um tanto desconexas do centenário Eulálio mencionam – embora sem ordem cronológica – a chegada da Coroa Portuguesa, a Abolição da Escravatura, o Golpe de 1964 e outros momentos cruciais do Brasil, não esquecendo, em momento algum, de sua esposa Matilde, figura onipresente na narrativa.

Outro tema recorrente no livro é o racismo, visto que a supracitada Matilde era mulata – e, por esse motivo, encontrou resistência da parte da mãe de Eulálio. Com isso, Chico acaba entrando na questão da miscigenação étnica brasileira: o tataraneto do centenário protagonista – o “garotão” traficante, cuja namorada ostenta um piercing (que ele chama de “brinco na barriga”) – é negro.

O interesse do leitor é mantido, da primeira à última página, pela prosa fluente do autor – e pelo humor desconcertante que percorre todo o livro. Resumo: a genialidade do compositor Chico Buarque já impregnou a sua literatura. Sem dúvida alguma.

Damien Rice: novo CD a caminho


Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


Não faz muito tempo, descobri – tardiamente, reconheço – a introspectiva música de Damien Rice [foto].

Para quem não está ligando o nome à pessoa, o trovador irlandês tornou-se mundialmente conhecido por “The Blower's Daughter”, canção-tema do filme Closer – Perto Demais, de 2004, que recebeu duas versões brasileiras: “Então Me Diz”, de Zélia Duncan – gravada por Simone –, e a bem-sucedida “É Isso Aí”, de Ana Carolina e Seu Jorge.

O mais recente álbum de Rice chama-se 9, seu segundo CD, que foi editado em 2006. Mas seu melhor trabalho é o de estreia, o belíssimo O [no detalhe], de 2003. Além da supracitada “The Blower's Daughter”, O possui outros grandes momentos, como “Volcano”, “Amie” e a ótimas “Delicate” e “Cannonball”.

Além dos dois discos de estúdio, Rice também gravou o ao vivo Live from the Union Chappel, de 2007. E, completando sua discografia, há o EP B-Sides, que trata-se, como o nome já diz, de uma coletânea de lados B de seus singles.

Pesqisando pela web, é possível encontrar covers como “Purple Haze” (Jimi Hendrix), “When Doves Cry” (Prince), “Seven Nation Army” (The White Stripes) e, pasmem, “Águas de Março” e “Desafinado” – ambas cantadas em português (!) –, entre outras, que o músico gravou para projetos especiais.

No MySpace de Damien Rice, há a informação de que ele está em estúdio, aprontando o sucessor de 9. É esperar para ver.



Veja o vídeo de “Cannonball...



...de “Delicate...



...e também de “The Blower's Daughter”, claro:

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Caetano Veloso: tem mais samba... ‘indie’


CD
Zii e Zie (Universal Music)
2009


Compositor baiano tenta ‘atualizar’ o gênero em ‘Zii e Zie’, disco repleto de referências ao Rio

Quase três anos após o seu último disco de estúdio, o controverso , Caetano Veloso está de volta com Zii e Zie (Universal). Nesse intervalo, o artista baiano editou Multishow: Cê ao Vivo (2007) e Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim (2008), ambos disponíveis em CD e DVD.

Com o subtítulo de Transambas Transrock, o álbum foi gravado a partir do show Obra em Progresso, que gerou também um blog homônimo. Em obraemprogresso.com.br eram disponibilizados vídeos das músicas inéditas executadas no palco, e Caetano – que participava ativamente do site – “trocava ideias” com os internautas acerca das canções e outros assuntos.

Zii e Zie, a exemplo do trabalho anterior, foi gravado na companhia da ótima bandaCê, formada por Ricardo Dias Gomes (baixo), Marcelo Calado (bateria) e Pedro Sá (guitarra). Desse modo, as comparações com o seu antecessor são inevitáveis. A sonoridade permanece indie, “econômica”, o que assegura bons arranjos em rigorosamente todas as faixas. Pode-se dizer, portanto, que Zii e Zie e , são discos “irmãos”.

Contudo, se nem os irmãos são iguais... as diferenças entre as dois CDs são muitas.

Recentemente, o autor de “Oração ao Tempo” chegou a classificar como um “disco de heterônimo”. Já o novo trabalho já soa, efetivamente, como um álbum-de-Caetano-Veloso. Mas não o Caê “solene” e “camerístico” de Fina Estampa, com cordas arranjadas por Jacques Morelenbaum. E, sim, o Caetano-com-a-bandaCê.

O que faz uma grande diferença.


Semelhanças e dessemelhanças com ‘Cê’

A insuspeitada “pegada” roqueira do CD de 2006 aparece de maneira menos intensa em Zii e Zie, onde há maior diversidade rítmica. Exemplo disso é a eficiente “A Cor Amarela”, com ecos de samba de roda – na medida em que a bandaCê consegue soar como tal. A letra é bobinha (“Uma menina preta de biquíni amarelo / na frente da onda. / Que onda, que onda, que onda que dá, / que bunda, que bunda.”), mas... quem se importa?

Outra dessemelhança: os versos íntimos, sexuais e, eventualmente, raivosos de dão lugar ao Caetano que sempre tem opinião sobre tudo e sobre todos, e cita personagens tão díspares quanto Lula, Fernando Henrique Cardoso, Guinga, Francisco Alves, Los Hermanos, Kassin e Seu Jorge. No entanto, uma certa melancolia permanece nas letras.

A expressão que dá título ao álbum significa, em italiano, “tios e tias”. O compositor explica que “no Rio, somos todos chamados assim ‘pelos malabaristas de sinais de trânsito’”. O Rio de Janeiro, aliás, é a principal temática do CD, repleto de polaroides da cidade, como a crua “Perdeu”, espécie de “releitura contemporânea” de “Meu Guri”, de Chico Buarque, que conta a estória – história? – de um garoto do morro que se tornou chefe do narcotráfico.

A Cidade Maravilhosa (bem, já não tão “maravilhosa” assim...) também é retratada na boa “Lapa”, ode ao famoso bairro boêmio, e “Falso Leblon”, na qual o artista baiano fala sobre uma menina doidaça que convida para “dar uma e dar dois”.

Zii e Zie está repleto de bons momentos, como “Por Quem”, linda melodia um tanto prejudicada pelo registro vocal em falsete do cantor. “Diferentemente” é outra bela melodia que tem um quê de... chorinho – ou seria “transchorinho”? Tocada em público pela primeira vez no show A Foreign Sound, de 2004, a inteligente letra cita Madonna, Condoleeza Rice e... Osama Bin Laden.

Na linha discursiva de “Haiti”, há “Base de Guantánamo”, rap placebo acerca da famigerada prisão americana situada na ilha de Fidel Castro, sob um ritmo que lembra um “ponto” de candomblé: “O fato de os americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano / é por demais forte, simbolicamente / para eu não me abalar”.


‘Transamba’ funciona nas duas canções não-autorais

Entretanto, a melhor faixa do disco é a curtinha (apenas dois minutos e meio) bossa – ok: “transbossa” – “Sem Cais”. A letra fala da possibilidade de amar, a despeito de qualquer contingência etária (“‘Inda’ posso me apaixonar”), e possui um bom trabalho de guitarra, cortesia de Pedro Sá, coautor da música.

Mas é justamente nas duas canções não-autorais do CD que o “transamba” encontra a sua mais completa tradução. “Incompatibilidade de Gênios”, primoroso samba de João Bosco e Aldir Blanc tem preservada a malandragem (no melhor sentido) típica do gênero, mas foi executada com o tal “timbre elétrico forte” buscado por Caetano – tem até solo de guitarra (!). O mesmo vale para a singela “Ingenuidade”, de Serafim Adriano. Curiosidade: as duas faixas integram o disco que Clementina de Jesus lançou em 1976.

Infelizmente, as desnecessárias provocações, a exemplo de “Homem” e da lusa “Porquê?” – ambas do álbum anterior – também se fazem presentes em Zii e Zie. É o caso da constrangedora “Tarado ni Você”, que cita “Nosso Estranho Amor” (“Deixa eu gostar de você.”). E também de “Lobão Tem Razão”, fraca, apesar do verso lapidar (“‘Chega de verdade’, é o que a mulher diz”). A canção é uma resposta a “Para o Mano Caetano”, que o Grande Lobo editou em Uma Odisseia no Universo Paralelo, gravado ao vivo em 2001.

Portugal, aliás, é novamente mencionado nesse álbum, na animadinha “Menina da Ria”, que fala maliciosamente sobre um... er, “púbis glabro”.

De qualquer forma, Caetano Veloso, em sua aventura indie, continua mestre em fazer justamente aquilo que não se espera dele. Entre (pouquíssimos) erros e (muitos) acertos, ele, mais uma vez, surpreende. E, francamente, dá gosto ver tamanha inquietação vinda de um artista prestes a completar 67 anos de idade.

Noel Gallagher: sonhos não envelhecem


CD
The Dreams We Have As Children (Big Brother)
2009


Apresentação beneficente gera o primeiro álbum solo do líder do Oasis

A exemplo de seu irmão, Liam, Noel Gallagher sempre posou de bad boy, seguindo a cartilha de marketing que os Rolling Stones utilizavam nos anos 60. Mas, na realidade, talvez não seja bem assim...

Prova disso é que Noel realizou, em março de 2007, um show solo no Royal Albert Hall, em Londres, em prol do Teenage Cancer Trust. E essa apresentação recebe agora registro em CD, intitulado The Dreams We Have As Children. É o seu primeiro trabalho longe do Oasis – e muito bom, diga-se de passagem.

Inicialmente encartado no jornal britânico The Times, o álbum apresenta, em suas 11 faixas, (boas) canções menos conhecidas de seu grupo, como “Listen Up”, “Married with Chidren” e “Sad Song”, além de sucessos como “Wonderwall” e “Slide Away” – esta, aliás, em uma ótima versão. Noel também arrisca um cover de seus conterrâneos de Manchester, The Smiths (“There Is a Light that Never Goes Out”).

Em “The Butterfly Collector”, do The Jam, o líder do Oasis tem a companhia de ninguém menos que Paul Weller, o autor da canção. Juntos, Gallagher e Weller também cantam “All You Need Is Love”, dos... er, você sabe quem.

A delicadeza dos arranjos majoritariamente acústicos – com direito a cordas e tudo – escancara o grande artífice que Noel é. Nas belíssimas “Don't Go Away” e “Half the World Away”, o líder do Oasis brilha. E, por não fazer feio diante do microfone, fica no ar a dúvida: por que ele tem aturado o mala do Liam durante todos esses anos, se ele pode muito bem fazer tudo sozinho?

O título do álbum saiu do refrão de “Fade Away”, lançada, a princípio, como lado B de “Cigarettes & Alcohol” – e posteriormente incluída na ótima compilação The Masterplan –, que abre o CD.

Recentemente, Noel declarou que, no final da turnê mundial Dig Out Your Soul, do Oasis, se dedicará a gravar um álbum solo, para valer mesmo, com canções inéditas gravadas em estúdio. E o mais provável é que saia coisa boa daí.

Em tempo: o músico disponibilizou no iTunes as cinco faixas que completam a íntegra do espetáculo. São elas: “It's Good to Be Free”, “Talk Tonight”, “Cast No Shadow”, “The Importance of Being Idle” e “Don't Look Back in Anger”, todas em versões impecáveis.

Coldplay: 0800


CD
Left Right Left Right Left (download gratuito)
2009



Em grande fase, banda disponibiliza CD ao vivo gratuitamente na web

A vitoriosa turnê Viva la Vida – do igualmente bem-sucedido álbum homônimo –, acaba de gerar um disco ao vivo. Left Right Left Right Left foi disponibilizado pelo Coldplay para download gratuito no endereço http://lrlrl.coldplay.com/leftright.html. É o Radiohead fazendo escola – e a banda de Chris Martin jamais escondeu sua admiração por Thom Yorke e companhia.

Em suas nove faixas, gravadas em várias partes do mundo, Left Right Left Right Left reúne quatro músicas de Viva la Vida (“Strawberry Swing”, “42”, “Death and All His Friends” e a faixa-título) e sucessos anteriores como “Fix You” e “Clocks” em versões corretas – os arranjos “respeitam” demais as gravações originais.

A única exceção é “The Hardest Part”, apresentada em um singelo arranjo de voz e piano, em medley com a vinheta instrumental “Postcards from Far Away”. Completam o repertório “Death Will Never Conquer” – cantada pelo baixista Will Champion –, single lançado logo após Viva la Vida, e “Glass of Water”, do EP Prospekt's March.

E, por falar em EP: a bem da verdade, Left Right Left Right Left pode ser considerado justamente isso, um EP “melhorado”. Para ser um disco ao vivo “de verdade”, seriam necessárias mais faixas, com hits como “The Scientist”, “Trouble” e, principalmente “Yellow”, além de boas faixas recentes como “Lost!”, “Violet Hill” e “Lovers in Japan”.

De qualquer forma, vale a pena ouvir, no decorrer do álbum, todo o entusiasmo do público com a banda inglesa. Em “Viva la Vida” – uma canção estupenda, que mereceu todo o sucesso que fez –, a plateia, em êxtase, continua cantando “ô ôô ôô”, mesmo depois de a música já ter acabado (!). Não por acaso, já eram contabilizados, até o fechamento desta edição, mais de 3,5 milhões de downloads (!).

O Coldplay declarou que, exceto em festivais, todas as pessoas que comparecerem a apresentações do grupo receberão uma cópia física de Left Right Left Right Left na saída do show. Esse gesto é um “agradecimento” da banda “às pessoas que compraram o nosso CD, mesmo em um período de crise mundial”.

Muito bem.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Roberto Carlos: meio século de reinado


Show
Itaú Brasil: Roberto Carlos – 50 anos
Data: 11 de julho de 2008
Local: Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro

Resenha publicada originalmente no
TOM NETO.COM.



Para comemorar seus 50 anos de carreira, o Rei realiza um show histórico no Estádio do Maracanã

Cerca de 68 mil pessoas, de todas as faixas etárias, suportaram o vento frio que insistia em soprar no Estádio do Maracanã, na noite de sábado, 11 de junho. Mas por um bom motivo: tratava-se do show de comemoração aos 50 anos de carreira de Roberto Carlos, cujas canções fazem parte da vida de milhões de brasileiros.

Às 21h45, o Rei entrou ao palco de maneira triunfal, dirigindo o seu Calhambeque azul, modelo 1929, devidamente reformado. Após saudar a sua orquestra e a plateia extasiada, afirmou: “É a maior emoção que já senti em minha vida estar aqui no Maracanã cantando para vocês. Quando estava lá em Cachoeiro [nota: do Itapemirim, sua cidade natal] jamais imaginei que podia viver um momento como esse”. E iniciou os trabalhos com o seu cartão-de-visitas, “Emoções”.

O repertório foi basicamente o mesmo dos shows que o cantor tem apresentado ao longo dos anos, com as músicas que seu público sempre espera ouvir, como “Outra Vez”, “Proposta”, “Café da Manhã” e, no já tradicional esquema banquinho-e-violão, “Detalhes”, entre outras.

Contudo, dada a importância da ocasião, RC incluiu canções que não costumam fazer parte de seu set list, como “Do Fundo do meu Coração”, de 1986. Repleta da “tensão” encontrada em momentos anteriores da obra do Rei – como “Sua Estupidez”, por exemplo –, a faixa é uma das melhores da segunda metade de sua carreira.

Em homenagem a seus pais, o cantor reuniu em um tocante medley que reuniu a bela “Aquela Casa Simples” a “Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo” e “Lady Laura”. E até “Nossa Senhora”, há muito afastada do repertório do artista, foi relembrada, em um dos pontos altos do show.

No bloco dedicado à Jovem Guarda, Roberto, surpreendentemente, resgatou “Quando” – uma das melhores canções daquele período – e “Namoradinha de um Amigo Meu”, juntamente com “É Proibido Fumar”, “E por Isso Estou Aqui” e “Jovens Tardes de Domingo”.


Com Erasmo, o momento mais emocionante da noite

Em “Caminhoneiro” – outra que o Rei não cantava há tempos –, a chuva desabou sobre o Maracanã, o que fez com que RC paralisasse o show por cerca de dez minutos.

Já a escolha dos dois convidados foi bastante coerente: Erasmo Carlos e Wanderléa. Erasmo, por sinal, protagonizou o momento mais emocionante da noite. Após dirigir algumas palavras a Roberto através do telão, o Tremendão foi chamado ao palco. Os parceiros choraram abraçados e cantaram “Amigo” com muita dificuldade. Na sequência, já refeitos, relembraram momentos engraçados e emendaram com “Sentado à Beira do Caminho”.

Com a Ternurinha, também bastante emocionada, Roberto, como não poderia deixar de ser, cantou “Ternura”. Por fim, Erasmo juntou-se à dupla em “Eu Sou Terrível”.

Outro momento de grande emoção foi “Como É Grande O Meu Amor por Você”, cantada por um Maracanã em uníssono. Destaque também para o arranjo grandiloquente, de matizes épicos, de “Cavalgada”.

No gran finale, o estádio foi encoberto pela fumaça dos fogos de artifício, enquanto o Rei lançava rosas para sua fiel público, ao som de “Jesus Cristo”, coroando um dos melhores show de sua carreira. Um momento único, digno de um artista verdadeiramente singular.



Veja o medley que reuniu “Aquela Casa Simples”, “Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo” e “Lady Laura:




E também “Amigo”, com participação de Erasmo Carlos:

‘Beat It’: o encontro de Eddie Van Halen e Michael Jackson


Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.

Logo após a notícia do falecimento de Michael Jackson, o guitarrista Eddie Van Halen [no detalhe, os dois ídolos juntos no palco] falou ao site TMZ sobre o astro do pop, com quem trabalhou no ínicio dos anos 80.

– Estou realmente chocado ao saber dessa notícia – assim como estou certo de que o mundo inteiro está. Tive o prazer de trabalhar com Michael em “Beat It”, em 1982, e essa é uma das melhores recordações de minha carreira. Michael fará falta. Que ele descanse em paz.

O líder do Van Halen contou histórias dos bastidores dessa gravação ao site Brave Words:

– Eu tinha este velho sistema de telefone no estúdio. O telefone tocou, atendi e tinha aquela voz dizendo: ‘Yo, Eddie? É o Eddie?’. Havia muito chiado, coisas desse tipo. Respondi: ‘Sim, quem é?’. Mas, obviamente, a pessoa não conseguia me ouvir. Então, desliguei, pensando que era um fã. O telefone tocou novamente, e a mesma voz disse: ‘Ei, Eddie!’. Então, dessa vez gritei ‘Imbecil!’, e desliguei. O telefone tocou pela terceira vez. ‘Ei, Eddie, aqui é Quincy Jones’. Nunca me senti tão envergonhado.

O exímio guitarrista prosseguiu:

– Naquela época, certas pessoas na banda não gostavam que eu fizesse coisas fora do grupo. Mas Roth [David Lee Roth, vocalista do Van Halen] estava na Amazônia ou em algum outro lugar; Mike [Michael Anthony, baixista] estava na Disneylândia; Al [Alex Van Halen, baterista e irmão de Eddie] estava no Canadá, ou algo do tipo; e eu estava em casa, sozinho. Então, pensei: ‘Bem, eles nunca saberão. Sério: quem vai saber que eu toquei no disco de um cara negro?’ Michael me disse: ‘Amo essa música alta e rápida que você faz’.

E concluiu:

– Toquei dois solos e disse: ‘Caras, peguem o que vocês quiserem’. Foram apenas vinte minutos do meu dia, fiz isso de graça e depois todos ficavam me dizendo: ‘Você deveria ter algum royalty naquela música’. Mas isso não importa, pois Quincy Jones escreveu para mim uma carta de agradecimento, e assinou ‘O Imbecil’. Eu a emoldurei. Clássico.

Detalhe: “Beat It” chegou às paradas no dia 12 de março de 1983, permanecendo por 15 semanas e alcançando o 1º lugar nos EUA, Países Baixos e Espanha; 2º lugar na Suíça; e 3º lugar no Reino Unido.


***


Ah, sim: somente o inconfundível solo de “Beat It” foi gravado por Eddie Van Halen. As demais guitarras foram executadas por Steve Lukather, mais conhecido por seu trabalho com o grupo Toto.


Veja o clipe de “Beat It:



Veja também o vídeo que apresenta somente os canais de aúdio das guitarras de Steve Lukather e Eddie Van Halen. Uma verdadeira aula:



E confira o vídeo que destaca o inconfundível solo de Eddie:

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Paul McCartney e Michael Jackson: relações cortadas



Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


O Rei do Pop e o ex-Beatle não se falavam há quase vinte e cinco anos. Saiba por quê

Paul McCartney não deixou de se manifestar publicamente por ocasião da morte de Michael Jackson:

– Minhas memórias são de seu grande senso de humor e como nós brincávamos e dávamos risadas juntos. Minha família manda as mais sinceras condolências e, assim como eles, sabemos que o talento de Michael nunca será esquecido.

O que nem todos sabem é que o Macca e MJ não se falavam há vinte e quatro anos.

Após algumas colaborações, os dois artistas ficaram amigos – a despeito da diferença etária entre ambos. E, em um determinado momento, McCartney aconselhou Michael a investir nos direitos autorais de canções famosas [nota do blog: falei sobre isso aqui]. Jackson saiu-se com essa:

– Vou comprar as suas músicas.

A princípio, Paul pensou que se tratava de uma brincadeira de Michael, como relatou em entrevista concedida ao jornalista e apresentador britânico David Frost em 1997.

– Não levei a sério o que ele havia dito. Tempos depois, quando soube que ele realmente havia feito isso, fiquei perplexo. Tentei falar com ele – até mesmo para fazer uma contra-proposta. Mas ele havia trocado todos os telefones...

McCartney franziu a testa. E completou:

– Posso dizer que passei a não gostar muito dele depois disso.


‘Sempre que quero tocar ‘Hey Jude’, preciso pagar’

Em 1985, Michael Jackson adquiriu a Northern Songs – editora que detém todo o catálogo dos Beatles – por US$ 47,5 milhões. Paul ficou furioso. E jamais escondeu isso:

– A coisa mais chata é ter de pagar para tocar algumas de minhas próprias músicas. Cada vez que quero tocar ‘Hey Jude’, preciso pagar.

Em janeiro desse ano, o tabloide inglês The Mirror noticiou que MJ gostaria de se reaproximar de McCartney. Para isso, pretendia deixar para Paul, em testamento, os direitos autorais sobre o catálogo dos Fab Four. De acordo com o jornal, pessoas próximas a Jackson afirmaram que ele sempre lamentou sua briga com o ex-Beatle.

Entretanto, o testamento de Jackson – redigido em 2002 – foi divulgado uma semana após a sua morte. Paul não foi citado no documento. E, em nota publicada em seu site oficial, parecia conformado com isso:

– Meses atrás, a mídia veio com a ideia de que Michael Jackson iria deixar, em testamento, a sua parte das canções dos Beatles para mim – o que foi uma invenção completa, na qual não acreditei nem por um segundo.

Em 1995, Jackson vendeu de 50% do catálogo para a Sony. Há cerca de dois anos, a imprensa afirmou que o cantor – que lucrava, por ano, cerca de 40 milhões de euros (cerca de R$ 129,5 milhões) com os direitos pelas músicas – provavelmente venderia a metade restante à gravadora, por conta de suas dívidas milionárias com fundos de empréstimos.

Há três anos, a parte de Jackson estava avaliada em torno de US$ 1 bilhão (R$ 6,3 bilhões). Mesmo encalacrado em dívidas, o cantor conseguiu manter o catálogo – assim como o rancho Neverland, que quase foi a leilão no início deste ano.

Morre Michael Jackson



Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


Qual o legado deixado pelo artista que revolucionou os videoclipes e gravou o disco mais vendido da história?

Aos dez anos de idade, eu era um menino absolutamente fissurado por Thriller (1982), de Michael Jackson [no detalhe]. Um álbum estupendo. Não por acaso, tornou-se o mais vendido de toda a história: 104 milhões de cópias. Ganhei o vinil de presente de alguém – não me recordo quem -, e, através dos videoclipes, aprendi, em pouco tempo, a incrível coreografia do artista. Inclusive o famoso moonwalker.

(Alguns familiares lembram até hoje do menino branquelo que reproduzia à perfeição os passos de dança de Jackson. Sorte minha que ninguém filmou isso na ocasião. Acho que ficaria bastante constrangido hoje em dia...)

Os videoclipes de Jackson, aliás, eram um capítulo à parte. Assim como os Beatles alçaram a música pop ao status de arte, na década de 1960, MJ fez o mesmo em relação aos clipes, nos anos 80 e 90. A linguagem nunca mais foi a mesma de depois do fantasmagórico “Thriller” e do surpreendente “Black or White”.

O superproduzido vídeo de “Thriller” deixou o planeta, diga-se de passagem, simplesmente boquiaberto. Com seus quase quatorze minutos de duração, não é errado dizer que trata-se de um curta-metragem. Já “Black or White” ficou marcado pelo efeito especial de “metamorfose” de seus personagens

Entretanto, o disco que sucedeu Thriller, o bom Bad (1987), não despertou em mim, nem de longe, o interesse de antecessor. Não deixava, porém, de ser um bom disco, com faixas como “The Way You Make Me Feel”, “Man In The Mirror” e a belíssima “I Just Can't Stop Lovin' You”.

Jackson ainda obteve boa repercussão do trabalho posterior a Bad, Dangerous (1991), com hits como a supracitada “Black or White”, “Heal The World”, “Remember The Time” e “Will You Be There”. Mas seu último CD de inéditas, ironicamente batizado de Invencible (2001), passou em brancas nuvens.


Polêmicas passaram a ocupar o lugar da música

Todas essas lembranças vieram à tona no exato momento em que soube do precoce – e, por isso mesmo, inesperado – desaparecimento do cantor americano, de 50 anos de idade. Fiquei consternado, obviamente.

Com um histórico recente de polêmicas (como a acusação – não comprovada – de pedofilia) e bizarrices (com o embranquecimento de sua pele e as operações plásticas que destruíram seu rosto), as notícias sobre Michael Jackson passaram a ser majoritariamente extra-musicais. Uma pena.

Todos, de certa forma, imaginavam que essa história não acabaria bem. E, lamentavelmente, a má impressão acabou se confirmando.

Contudo, a despeito dos escândalos, seu legado artístico permanecerá. Canções como “One Day In Your Life”, “Got To Be There”, “I Wanna Be Where You Are” e “Music And Me”, entre outras, emocionaram e ainda emocionam milhões de pessoas ao redor do mundo. E continuarão emocionando, sem dúvida alguma.

Que ele possa descansar em paz.



Veja os clipes de “Thriller...







...de “Black or White...





...e também da apresentação de “Billie Jean” na comemoração do aniversário de 25 anos da gravadora Motown. Uma imagem tão emblemática quanto a de Gene Kelly “cantando na chuva”:


terça-feira, 23 de junho de 2009

Morrissey e Johnny Marr trabalhando juntos?


Artigo publicado originalmente no
TOM NETO.COM.

No finalzinho do ano passado, os eternos órfãos dos Smiths* [acima] ficaram alvoroçados com a notícia de que o vocalista Morrissey e o guitarrista Johnny Marr trabalhariam juntos em uma coletânea do extinto grupo. E não era boato.

The Sound of The Smiths [à esquerda, a capa] contou, de fato, com o envolvimento dos antigos parceiros: enquanto Morrissey escolheu o título do CD, Marr cuidou da remasterização das faixas.

Contudo, a despeito do “reencontro” dos dois artistas, essa compilação, em sua versão simples, é mais do mesmo para os fãs de primeira hora – que certamente possuem todos os álbuns da célebre banda de Manchester.

Sabendo disso, o que a gravadora faz? Coloca no mercado uma edição deluxe, dupla, que além de vários sucessos em suas gravações originais, traz raros lados B e versões ao vivo jamais lançadas oficialmente de “Handsome Devil”, “London” e “Meat Is Murder”. Vale a pena ouvir, por exemplo, a curiosa versão New York Vocal de “This Charming Man”.

Em tempo: apesar da colaboração das duas figuras centrais dos Smiths, não há nenhuma previsão sobre um possível retorno do grupo. Ofertas (milionárias) não faltaram – e foram todas recusadas. O motivo: as desavenças entre Morrissey, o baixista Andy Rourke** e o baterista Mike Joyce – motivadas por questões judiciais envolvendo direitos autorais – ainda não foram superadas...



* Para quem não sabe, Smith é o sobrenome mais comum que existe na Inglaterra. Equivale a Silva no Brasil. Os Smiths batizaram a banda com esse nome para deixar claro que os integrantes eram “pessoas comuns”.

** Atualmente, o baixista Andy Rourke é DJ, tendo, inclusive, tocado no Brasil três vezes – a mais recente foi no final do ano passado. Diante dessa informação, impossível não lembrar de “Panic”, cujo refrão ordena: “Hang the DJ” [“Enforquem o DJ”]. Profético, não?

Morrissey: vivo e chutando


CD
Years of Refusal (Universal Music) 
2009


Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 149 (maio de 2009).



‘Years of Refusal’, novo álbum de Morrissey, não economiza nas guitarras

Não é o caso de citar nomes. Mas é verdadeiramente patético ver artistas outrora relevantes e influentes se transformando, ao longo da carreira, em caricaturas de si próprios. Contudo, esse não é o caso de Morrissey, que está lançando o seu nono álbum solo de estúdio, Years of Refusal.

Desde a sua “ressurreição” artística – com o ótimo You Are the Quarry, de 2004 –, o ex-Smith só tem acertado. O anterior, Ringleader of the Tormentors (2006), aliás, não deixava a bola cair.

O atual, no entanto, é ainda melhor.

A despeito da passagem dos anos, a voz de Morrissey permanece inalterada. As letras do bardo de Manchester também continuam melancólicas e ácidas como sempre. Dessa vez, no entanto, as canções são emolduradas por guitarras ásperas, o que faz com que o artista soe “rejuvenescido”.

E o que é mais interessante: sem qualquer indício de “síndrome de Peter Pan”.

A virulência começa já na faixa inicial, “Something Is Squeezing My Skull” – que pode aplicar um baita susto nos seus fãs mais fenfíveis. E reaparece em vários momentos do disco, como “Mama Lay Softly On The Riverbed”, “Black Cloud” e “I'm OK By Myself”, que encerra o álbum.

Fato: Morrissey nunca gravou um trabalho tão pesado em toda a sua discografia. Nem mesmo nos Smiths.

Mas o cantor não perdeu a “ternura”. Prova disso são as suaves “You Were Good In Your Time” e “I'm Thowing My Arms Around Paris”, que não soaria deslocada em um disco de sua antiga banda. Outro bom momento é a longa e climática “It's Not Your Birthday Anymore”.

O projeto gráfico é um capítulo à parte. Morrissey, com pinta de mecânico, aparece na capa com o menino Sebastien Pesel-Browne – filho de Charlie Browne, um de seus assistentes – no colo.

Years of Refusal é o primeiro CD de inéditas do inglês editado pela Decca, representada no Brasil pela Universal Music. No ano passado, a gravadora havia lançado a compilação Greatest Hits [leia a resenha aqui], que adiantou duas faixas desse álbum: “All You Need Is Me” e “That's How People Grow Up”.

É um alento constatar que um dos maiores ídolos da década de 1980 não sucumbiu à mesmice. Decididamente, Mozz não perdeu a mão.


Leia também:



Veja o vídeo de “I'm Thowing My Arms Around Paris:

Manfred: estreia promissora


CD
Manfred (independente)
2009

Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 149 (maio de 2009).


Seguindo os métodos de divulgação do Radiohead, o Manfred lança o seu primeiro álbum exclusivamente via web

Criado em 2005, o Manfred gravou, já no ano seguinte, um EP elogiado por veículos como O Globo. Mas agora é para valer: o trio carioca acaba de editar o seu primeiro álbum, epônimo, com dez faixas inéditas e autorais. E, a la Radiohead, o CD – que, a princípio, não sairá em versão “física” – está disponível para download gratuito no site oficial da banda [http://manfredbrasil.wordpress.com/].

A estratégia do grupo é simples: oferecer o disco de graça aos fãs significaria, ao mesmo tempo, estabelecer “cumplicidade” com o público e também “romper” com o mercado vigente. O Manfred prefere “ter milhares de downloads gratuitos do álbum, em vez de investir em algo ‘físico’ que, nos moldes fonográficos atuais, restringiria muito mais o acesso das pessoas a esse material e ao nosso som”.

A banda é formada por Marcos Manfredini (voz e guitarra), Guto Ribeiro (baixo) e Marcelo Carneiro (bateria). Guto, para quem não sabe, co-produziu, ao lado do pesquisador Marcelo Fróes, o Tributo ao Álbum Branco, dedicado ao clássico de 1968 dos sacrossantos Beatles. O Manfred, inclusive, participou do projeto com uma boa versão de “While My Guitar Gently Weeps”.

Os mais atentos certamente irão notar que o nome da banda alude a Manfredini, sobrenome de Renato Russo. E não por acaso: o saudoso líder da Legião Urbana era primo do vocalista Marcos, principal compositor do grupo.

Mas a Legião é apenas uma das influências do Manfred, juntamente com Keane, Coldplay e Travis, entre outros. Gravado entre março de 2007 e outubro de 2008, com (boa) produção da própria banda, o CD apresenta canções pop de inegável apelo radiofônico, embaladas por uma sonoridade vigorosa, típica de um power trio, como “Antes de Sonhar”, “Recomeçar” e “Me Espera”.

Contudo, há espaço para momentos mais serenos, como as baladas “Milagres”, “Chuva” e a bela “Paraíso”. As duas músicas “de trabalho” – já com clipe em vista – são “Voar” e “Quando Você Voltar”. Destaque também para “Enquanto o Mundo Continua a Girar”, provavelmente a melhor faixa do disco.

Depois da estreia promissora, a chegada do Manfred ao mainstream é apenas uma questão de tempo. Baixe já o seu.



Veja o vídeo de “Voar:

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Lulu Santos: a nova cartada do Ás do pop nacional

Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


Na ocasião de lançamento de Long Play, seu último álbum de inéditas, Lulu Santos manifestou o desejo de rever “lados B” de sua obra. O guitarrista chegou até afirmar que poderia não lançar mais nenhum trabalho “nesse formato de CD físico; talvez os próximos estejam disponíveis somente para download; ou sejam singles... Ainda não sei ao certo”.

Pelo menos no que diz respeito às suas faixas menos conhecidas, Lulu conseguiu colocar o seu desejo em prática. Provavelmente motivado pelo gosto que adquiriu pelo game Guitar Hero [saiba mais aqui], criou a banda Dudu Sanchez, inicialmente batizada de Valete, e fez apresentações estruturadas no lado mais obscuro de seu cancioneiro – e com insuspeitada pegada roqueira. Lulu já havia feito algo semelhante em 1998, com o Trio Jakaré.

No repertório, “De Repente” e “Cara Normal” (ambas de Normal, 1985), “Telegrama”, (de Lulu a.k.a Casa, 1986), “Fevereiro” (do ótimo Mondo Cane, 1992), entre outras. O nome da banda faz referência à letra de “Gambiarra” (de Letra & Música, 2006) - que, aliás, integra o set list.

A exemplo do que ocorrera com o Trio Jakaré, não há previsão de nenhum registro do Dudu Sanchez – o que é uma pena. Contudo, vários trechos de shows do grupo estão disponíveis no YouTube. E, cá para nós: Lulu continua um guitarrista de primeira....


Veja os vídeos de “Cara Normal...





...De Repente...





...“Telegrama”...





...“Fevereiro”...




...e “Gambiarra”:

Lulu Santos: guitarra na TV


CD
Novelas (Som Livre)
2009

Resenha publicada originalmente no TOM NETO.COM.


A coletânea ‘Novelas’ reúne faixas que integraram trilhas globais

Várias canções de Lulu Santos foram incluídas em trilhas sonoras de novelas globais. Sendo assim, a Som Livre reuniu algumas – que fique bem claro: algumas – delas na compilação sintomaticamente batizada de Novelas.

No repertório, “Um pro Outro”, “A Cura”, “Vale de Lágrimas”, “Certas Coisas”... Enfim, só filé. Destaque para a versão inédita de “De Repente, Califórnia”, gravada exclusivamente para Três Irmãs.

De um modo geral, compilações são empobrecedoras, pois oferecem somente a parte mais “digerível” da obra de um artista. O próprio Lulu, aliás, possui em sua (extensa) discografia excelentes “lados B”, que o grande público sequer imagina. Exemplos não faltam: a mortífera trinca “Seu Mal / Moon da Lua / Metal Leve” [de O Ritmo do Momento, 1983], a bela “Bilhetinho” [Toda Forma de Amor, 1988], “Leia meus Lábios” [Honolulu, 1990], “Eu Sou Outro Você” [Liga Lá, 1997], e por aí vai...

Por outro lado, o próprio autor de “Assim Caminha a Humanidade” declarou, em entrevista concedida há cerca de dois anos, que não entendia “esses ‘manés’ que brigam com os próprios sucessos”. Faz sentido.

Considerando que vivemos em um país sem memória, é de suma importância que as pessoas sejam relembradas (ou informadas) do grande autor que Lulu Santos sempre foi. E, observando por esse prisma, até que Novelas cumpre direitinho seu papel.

sábado, 2 de maio de 2009

Coldplay: variações sobre o mesmo tema

EP
Prospekt's March (EMI, importado)
2008

Resenha publicada originalmente no TOM NETO.COM.


Para colecionadores

Lançado pelo Coldplay no final no ano passado em EP – no exterior, visto que o formato não vinga por aqui* -, Prospekt's March [no detalhe] poderia ser classificado como um... er, complemento de Viva la Vida or Death and All his Friends, o mais recente álbum da banda inglesa.

Das oito faixas, entretanto, apenas cinco são inéditas, que não ficaram prontas a tempo de entrar em Viva la Vida. São elas: a dobradinha “Prospekt's March / Poppyfields”, “Now My Feet Won't Touch the Ground”, “Rainy Day”, a delicada vinheta instrumental “Postcards from Far Away” e “Glass of Water”. O restante é formado por versões revistas e/ou atualizadas de faixas que já faziam parte de Viva la Vida, como a bela “Lovers In Japan”, aqui apresentada em um remix intitulado Osaka San.

Lost+” é RIGOROSAMENTE a mesma gravação já lançada, apenas com a participação do rapper americano Jay-Z – que, aliás, nem acrescenta grandes coisas... Já “Life in Technicolor”, instrumental que abria Viva la Vida, ressurge acrescida de letra e vocais – e se beneficia bastante disso. Não por acaso, atende agora pelo título de “Life in Technicolor II”.

Prospekt's March, como item de colecionador, é imprescindível para os fãs do Coldplay. No Brasil, é possível encontrá-lo, como CD bônus da versão deluxe de Viva la Vida or Death and All his Friends.



* O EP - o mesmo vale para o single - não consegue se estabelecer no Brasil em função da ganância dos grandes lojistas. Simples assim. Todas as vezes em que as gravadoras tentaram consolidar os dois formatos no mercado nacional, era comum encontrá-los nas lojas de departamentos no mesmo preço dos CDs “cheios”. Ou seja, os cretinos não percebem a “filosofia” do single (assim como a do EP): permitir que o ouvinte compre uma única música que goste – sem a obrigatoriedade de adquirir o álbum completo – usando as moedas do troco do almoço. No hemisfério norte, é assim que funciona....



Leia também:




Veja os vídeos de “Life in Technicolor II”...






...e “Lost+”, com a participação de Jay-Z:


‘Viva La Vida’: a música de 2008


Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


O quarto álbum do Coldplay [acima], Viva La Vida Or Death And All His Friends, coincidentemente (ou não), foi produzido pelo mesmo Brian Eno, ex-Roxy Music, que produziu o quarto álbum do U2, The Unforgettable Fire. E, se The Unforgettable Fire representou um divisor de águas na carreira da banda irlandesa, a mesma importância pode ser aplicada a Viva La Vida na trajetória do grupo de Chris Martin.

A ousadia do Coldplay já começou no projeto gráfico [à esquerda], que reproduzia A Liberdade Guiando o Povo, de Eugène Delacroix. O fato de retratar a Revolução Francesa na capa do disco tinha um propósito claro: o quarteto ambicionava revolucionar a si próprio.

Contudo, parte do êxito da empreitada deve ser creditado ao esteta Eno, cujos arranjos alargaram os horizontes do Coldplay para muito além das baladinhas-ao-piano que os tornaram famosos.

Entretanto, apesar de bons momentos como “Lost!”, “Cemeteries Of London”, “42” e “Violet Hill”, nenhuma outra faixa do álbum revelou-se tão contundente quanto “Viva La Vida”, meio-título do disco.

Em um tom épico, Chris Martin canta uma belíssima letra que se utiliza de metáforas medievais para falar de... desilusão. A despeito das chamadas “verbas promocionais” das gravadoras – leia-se “jabá” -, a canção arrebatou FMs em todo o planeta. Há muito tempo o dial não era habitado por algo tão... substancial.

Não por acaso, “Viva La Vida” foi agraciada na edição 2009 do Grammy, na categoria “Música do Ano”. Ironicamente, perdeu no quesito “Gravação do Ano” para a bela “Please Read The Letter”, da dupla Robert Plant e Alison Krauss [saiba mais aqui]. Mas não importa. De fato e de direito, “Viva La Vida” foi a melhor música de 2008.

sábado, 18 de abril de 2009

Paul McCartney: mais para ‘incendiário’ do que para ‘bombeiro’


CD
Electric Arguments (ATO, importado)
2008

Resenha publicada originalmente no TOM NETO.COM.


No terceiro álbum do projeto The Fireman, ex-Beatle surpreende pela ousadia e inspiração

Prestes a completar 67 anos de idade, Sir Paul McCartney, autor de algumas das mais belas canções do mundo, poderia muito bem se acomodar como um magnata do pop. Mas não. Inquieto, o ex-Beatle ainda se dá ao luxo de editar (ótimos) CDs com material inédito – como os recentes Chaos And Creation In The Backyard, de 2005, e Memory Almost Full, de 2007 –, e se aventurar em turnês mundiais.

Além disso, Macca mantém um projeto paralelo de ambient music com o produtor Youth – ex-membro do Killing Joke e eventual colaborador do The Orb –, chamado The Fireman. A parceria já rendeu dois álbuns: Strawberries Oceans Ships Forest (1993) e Rushes (1998). No finalzinho de 2008, chegou às prateleiras o terceiro trabalho da dupla: Electric Arguments.

A diferença deste para os anteriores é clara: enquanto seus antecessores apostavam em uma estética absolutamente experimental, Electric Arguments – mesmo tendo seus momentos experimentais, é bom frisar –, é o que mais se aproxima do que poderíamos definir como “um disco de Paul McCartney”. Ainda que bem modernoso...

A faixa de abertura, o blues lisérgicoNothing Too Much Just Out Of Sight”, primeiro single de trabalho, pode (e vai) assustar os fãs mais conservadores, com seus vocais ensandecidos que parecem ter sido gravados em um manicômio. Mas, daí por diante, o repertório traz, na acepção da palavra, canções com o padrão McCartney de qualidade.

Two Magpies”, delicioso jazz tipo fim-de-noite, lembra “Baby's Request” (de Back To The Egg, dos Wings) e “Honey Pie” (do chamado Álbum Branco, dos Beatles). Já a etérea “Traveling Light”, com seu clima floydiano, possui o registro vocal mais grave e sombrio que Macca já gravou em toda a sua extensa carreira.

A bem da verdade, a faceta The Fireman só aparece com mais nitidez nas últimas três faixas do álbum, “Lovers In A Dream”, “Universal Here, Everlasting Now” e a ótima “Don't Stop Running” (simplesmente de cair o queixo).

Contudo, o melhor momento do álbum, decididamente, é “Sing The Changes”, pop grandiloquente e emocionante que funcionaria às mil maravilhas ao vivo. Tanto que já ganhou até videoclip.

Em linhas gerais, se Electric Arguments não fosse, por si só, um disco muito bom, já valeria pela ousadia. Curioso é constatar que, até os dias de hoje, ainda há quem pense que foi John Lennon, e não Paul McCartney – para quem não sabe, o criador do conceito de Sgt. Peppers', por exemplo -, o grande revolucionário dos Beatles...



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Veja o vídeo de “Sing The Changes”: